Lembro-me da larga estrada que nos conduzia ao sítio; das outras, estreitas e de terra, do banco da praça com o sobrenome Rapozo, que vovó me mostrava toda emocionada. Lembro-me de tudo: dos peixinhos que vovô deixava que eu colocasse no grande tanque, no quintal, embaixo das goiabeiras de suculentas goiabas brancas e vermelhas.
Vovô Pedro era enérgico, disciplinado, calado quase sempre, com aqueles lindos e expressivos olhos azuis. À hora do almoço, não podia faltar o copo de vinho tinto que ele saboreava até a última gota. Imigrante italiano, acordava cedinho e ia rachar lenha para o fogão. Eu corria para a porta que dava para os fundos do casarão e lá ficava olhando embevecida. Não me deixava dar milho às galinhas fora de hora; por outro lado, havia uma confiada que pulava a janela de um dos quartos e, sem cerimônia, punha os ovos no colchão da cama de hóspedes.
Lembro-me de tudo. Da igrejinha de Santo Antônio, de Odir, o menino que insistia em ser meu namorado, da velha ponte sobre o Rio Paraíba do Sul. Papai explicava:"_ Do outro lado já é Minas Gerais, cidade de Porto Novo." E pescávamos, nos equilibrando sobre as pedras; enchíamos o cesto de lambaris e mamãe tinha um trabalhão!...
E o carnaval? Ah, era no clube da cidade..." Ei! Você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí...", cantávamos, felizes, distraídos...
Menina da cidade, tudo para mim era novidade e encantamento. No armazém, por semana, chegavam doces e queijos da fazendas próximas; o laticínio da cidade me oferecia uma cena à parte: vacas enfileiradas, andando calmamente pela estrada, sendo conduzidas por um rapazote.
Vovó me apresentou a um algodoeiro numa daquelas estradinhas de terra; a limeira invadia o meu quarto, pela janela, com os seus galhos fartos. Além das limas, havia as romãs, os limões, o canteiro de ervas medicinais, os jambos, as carambolas, que vovó transformava em um doce delicioso, de estrelinhas púrpuras.
No alto do sítio, a grande pedra, um manancial de onde jorravam águas límpidas; e a plantação de mangas espadas que vovô comercializava.
Há outras recordações ainda, mas estas aqui descritas estão mais à tona em minhas memórias.
A cidade de Sapucaia, antes um paraíso estampado em minha realidade da infância e em minha lembrança nos dias de hoje foi mencionada na tv( hoje, dia 13 de janeiro de 2011), por uma triste notícia de desabamentos e de inundação do rio Paraíba do Sul. Fiquei triste, mas declino aqui uma última lembrança:
À noitinha, vovó Rita e eu nos sentávamos no imenso jardim __sempre florido e visitado pelos colibris logo de manhãzinha__ e, silenciosas, apreciávamos o céu! Um céu de um forte azul, pontilhado de infinitas luzes estelares coroava a noite. Era um espetáculo para a nossa sensibilidade e para os nossos corações. Inesquecível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário