sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

FALSA ELEGÂNCIA

     Dias de muito sol, termômetros subindo, corpo sentindo pressão, cansaço; então, cedinho, fui à praia aproveitar a brisa serena, o mar um tanto adormecido ainda, as fragatas já despertas, voando alto, alegres.
     Poucos são os que se aventuram, assim, quase de madrugada. 
    Pequenos pássaros arriscam-se chegando bem próximo do derramar das delicadas ondas; a lua lá está, afrontando o sol e o céu, como pano de fundo, num azul magnífico!
      Teimo em apreciar  minuciosamente a paisagem que se descortina vigorosa! Considerados por muitos como 'pequenos prazeres', mas que, no entanto, fazem a minha alma transbordar alegrias. Ela se enche de satisfação, de felicidade, de vida.  Na Natureza é tudo tão intenso e tão farto!
     Aproveito o sol amainado pelas brisas, verifico a refrescância das águas, mergulho uma, duas, muitas vezes e me deixo sorrir , embriagada de tanto contentamento.
      Relaxo o corpo na canga colorida e cubro o rosto pela aba do boné do Projeto TAMAR, mas deixo propositadamente uma pequena fresta, por onde posso continuar meu deleite ao observar a amplitude do mar e dos céus.
     Sorvo este cheiro bom da maresia! Indecifrável aroma que me refresca.
     Fico assim por um bom tempo. Não levo relógio! Ah, não. Em momentos como este não se marca tempo; fica-se até não querer mais.
     No caso, estava com sede e resolvi ir ao quiosque mais próximo saborear uma deliciosa água de côco; aproveitei, li algo edificante_  ando sempre com um pequeno livro na bolsa.
     Nisso, vem da areia, na minha direção, uma senhora muito elegante. Trazia uma bela sacola de praia, vestia um belo biquíni comportado, o cabelo erguido num coque e preso displicentemente num leve boné de ráfia. Chega à mesa onde eu estava acomodada e pede licença para se ajeitar.
   __ Pois sim, disse-lhe eu, fique à vontade!
     Continuei observando-a. Ela carregava consigo um saco plástico cheio d'água e foi então que vi a triste cena:  colocou pé por pé dentro daquele enorme saco para lavá-los, depois, sem a menor cerimônia, largou o saco ali mesmo, deixando tudo sujo e molhado! Enxugou os pés bem tratados, vestiu suas caras meias de algodão e calçou seus tênis importados. Levantou-se e tomou o seu rumo.
      Tudo falso, tão falso quanto a sua pretensa jovialidade e a sua aparente elegância.
     Voltei os olhos para o horizonte. De lá vinha um turbilhão de aves marinhas. Quanta força! Quanta beleza!...