domingo, 10 de março de 2019

A GRANDE POLÊMICA DA MULHERADA

     A grande polêmica agora da mulherada  é deixar ou não  os cabelos brancos. As  que costumam mantê-los coloridos ouvem, quase sempre,  de um jeito acre: " Por que não assume?" Não vai assumir o branco, por quê?" "Eu vou deixar embranquecer naturalmente(e com os fiapos pintados em tom escuro)"...
     Faz tempo que uma amiga me disse, séria:" Sylvia, precisa assumir os cabelos brancos. Uma intelectual que se preza tem que ter cabelos brancos." Quanta ilusão!...
     Fico observando as falas e posturas e noto  insegurança. Pintar ou não é questão de cada uma. É escolha, é estética, é liberdade.
     Ontem mesmo vi um vídeo sobre este assunto. A elegante senhorinha  pregava a libertação do uso das tintas! Num cenário armado, tentando passar um ambiente festivo, com múltiplos artefatos coloridos, bibelôs inusitados, lá estava ela, ao centro, com um vestido jovial, ultra colorido, buscando gestos e palavras que nos cativassem.
       Tudo muito artificial. Cada palavra pensada, cada gesto estudado. E a intenção era a da libertação. Ora, ora! Vejamos com calma. Do uso de tintas? Da pintura em si? Que prisão é esta? Então, não vamos mais pintar as sobrancelhas, nem usar roupas bonitas e novas, nem pintar as unhas e segue a lista... 
     Porém, se você está aprisionada numa baita depressão, ou angústia, ou seja lá o nome que quiser dar, é diferente. Não tem vontade nem pra se alimentar, quanto mais pra se enfeitar.
     Dia desses, fazia uma leve caminhada, no calçadão de Copacabana. À minha frente, duas senhorinhas. Falavam e gesticulavam cheias de vigor. Uma, com os ralos cabelos pintadinhos em tom avelã; outra,  cabelos curtos e brancos. A primeira, alegrinha, caminhava quase em saltitos; a outra, pisava com firmeza e, ao passar por elas, vi seu rosto tão sério, tão carrancudo. Dizia, determinada, em tom forte, que não pintaria mais os cabelos. "Para quê? Ninguém mais me olha... estou velha mesmo."
      Ah... então é isso? Não importa. Seja qual for o motivo , demos a liberdade a quem quer deixa-los branquinhos. Há mulheres jovens ainda que já contam com fios brancos iluminando sua cabeleira e seu rosto. Ficam lindas!
     Reparem que as mais velhas que ousam deixa-los brancos__ não se iludam__ têm um motivo: Ou agem com naturalidade  mesmo( e pra estas eu tiro o chapéu!), ou o motivo é alergia, desânimo   , ou velhinhas que querem estar na onda(estas provavelmente já recorreram ao bisturi! Então ,sua estampa fica interessante. Cabelos brancos adornando um rosto repaginado , glamourizado por uma maquiagem que prima pelo colorido esfuziante de um batom vermelho!)!
     Quem prefere deixar de pintar , que deixe com espontaneidade, sem precisar enfatizar sua resolução. Porque falam como se esta atitude as tornasse mais sábias do que as outras... Que tolice.
     Há muitos anos,  uma senhora minha conhecida, que frequentava o mesmo grupo espiritualista que eu, contou-nos um fato que eu nunca mais me esqueci.
     Muito distinta e elegante,  resolveu parar de pintar os cabelos ao completar setenta anos. Depois de um tempo,  foi visitar seu netinho, que morava nos Estados Unidos; ao vê-la, o menino teve uma reação inesperada. Passou a chorar convulsivamente achando que sua avó iria morrer em breve , já que tinha ficado muito velhinha... Claro que ela voltou a pintar os cabelos!
     Tudo é muito relativo. Quer pintar? Pinte! Quer parar de pintar ? Pare! Nunca pintou e  prefere manter esta decisão? Aplausos. Mas não levantem bandeira, nem critiquem quem age de modo diferente do que o seu. Não somos melhores, nem piores do que ninguém. A cada uma seus motivos. E, principalmente, a sua liberdade de decisão!...
 

terça-feira, 5 de março de 2019

COM AÇÚCAR E CANELA

    
(Praça Castro Alves, em Salvador)
 

    Estava num Café de um shopping, em Salvador. Era de manhã e, quando vou à Bahia, sempre dou um pulinho lá para um café e uma banana real: massa de pastel frita, passada em açúcar e canela com fartura, recheada de banana da terra madura.  Delícia crocante!...
     O lugar estava cheio, mas ainda havia  uma ou duas mesinhas. A essa hora,  o pessoal gosta mesmo  daqueles mingaus, deliciosos e quentinhos, de milho, tapioca, carimã, mugunzá _ou milho branco,  típicos da terra. A maioria ia para as mesas com a sua tigelinha...
     Uma senhorinha dirigiu-se para a mesa onde eu estava e , com um sorriso (simpatizo com pessoas que deixam o sorriso aflorar! O sorriso é a voz do coração.), disse: _ Posso sentar-me aqui?
     Afirmei com a cabeça e retribuí o sorriso.
     Alguns segundos e já estávamos conversando animadamente. Eu devia ter adivinhado: era professora também! Marinalva passou a  falar com entusiasmo e assim  narrava suas experiências marcantes do Magistério. 
     Sua lida com crianças da periferia foi intensa e deixou impressões tão fortes que a fizeram desistir. Não poderia mais continuar. Adoeceu gravemente.
      O que se vê atualmente são crianças e jovens desorientados e que rejeitam a autoridade. Como ajudá-los?...
     Quando me dediquei à Educação ainda era um tempo em que professor era respeitado e ouvido, acatado, tanto pelos alunos quanto pelos seus pais. Mesmo tendo alguns poucos alunos com comportamento um tanto difícil, conseguia demovê-los das más atitudes pela palavra e pelas propostas em sala.  
     Houve, naqueles breves momentos, muita simpatia e sintonia, não só em virtude da mesma paixão que nutrimos pela profissão, como também pelas passagens contadas com veemência. Uma história de vida, permeada, certamente, de inúmeras vitórias.
 
"...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe _ que faz a palma,
É chuva que faz o mar.
..."
(Castro Alves, O Livro e a América)