terça-feira, 29 de novembro de 2016




" A MEMÓRIA É UM MILAGRE "
  
      O tradicional Colégio Pedro II deixou marcas. Marcas de brilhantismo, audácia, respeito, companheirismo, cultura, educação. Cintila, até os dias de hoje, a sua estrela em nossos corações. Nunca, creio eu, deixaremos que se apague em nós essa grande admiração.
     Trazíamos conosco um respeito enorme pela qualidade de ensino oferecida por ele, tanto que foi reconhecida a sua excelência em Educação pelo Governo Federal em 1998, quando recebeu o Prêmio de Qualidade.
      Sabíamos que precisávamos nos preparar muito para ingressar no seu  corpo  discente.
     Os  professores eram diferenciados.  Cito, como exemplo, a dedicada mestra de Matemática Dinah Ribeiro, que muito me influenciou e capacitou.  Outros, já afamados, compunham um quadro ilustre deste ensino de qualidade destacada.
     "...
      O espaço é um milagre.
      O tempo, infinito.
      O tempo é um milagre.
      A memória é um milagre.
      Tudo é milagre.
     ..."
     Já dizia em versos o renomado professor de Literatura, Manuel Bandeira.     Esta  memória preserva a nossa história vivida numa das unidades do Pedro II. A minha foi a da Tijuca, bem em frente ao Colégio Militar. E esta localização dava panos pra manga!...
     Logo após a conclusão do curso ginasial__naquela época havia o Ginásio, o Curso Científico e o Clássico, fui para o Instituto de Educação. Esta instituição começou a funcionar no Imperial Colégio de Pedro II; de lá foi transferida para o Largo de São Francisco e depois ocupou outras duas Escolas até, finalmente, estabelecer-se no prédio da Rua Mariz e Barros , onde concluí o Normal.
     Já formada no Magistério, trabalhei em várias Escolas da rede municipal; uma delas foi a Escola Ramiz Galvão, cujo nome é homenagem ao grande professor de Grego, Retórica, Poética e Literatura  do  Colégio Pedro II.
     De alunos famosos a lista é grande... Desde cantores, músicos, compositores, jornalistas, políticos, atores, juristas, professores até os ... poetas!
     Eis um   trechinho do poema Anoitecer, do ex-aluno, o poeta parnasiano  Raimundo Corrêa:
 
     "... Esbraseia o ocaso na agonia
     O sol...Aves em bandos destacados,
     Por céus de oiro e de púrpura raiados
     Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...
     ..."
     Temos só motivo de orgulho! Época boa, de verdade! Não chega a ser saudosismo o sentimento que nos move a recapitular os tempos de estudante, pois valorizamos o nosso presente, consequência dos tempos idos e muito bem vividos!...
     Como ex-aluna, posso afirmar que aproveitei o que aprendi. Como professora, ensinei e eduquei ; adquiri o gosto pela escrita, tendo livros editados de poesia para adultos e para crianças.
  Um Viva ao nosso amado Colégio Pedro II!
180 anos de Cultura e Tradição
 
    

domingo, 27 de novembro de 2016

DOIS CONCERTOS



  Um domingo bem típico da primavera  é algo balsâmico, confortador, cheio de beatitude, assim como o dia de hoje,  que nos ofereceu uma grande leveza.
     Até a brisa parecia diferente, parecia que tinha vida ondulante, acariciando nossos rostos de maneira arrebatadora. Trazendo com ela odores indecifráveis, perambulava pelos caminhos e nos inebriava.
     Tudo isto parecia fazer parte de um grande concerto primaveril , onde se destacavam  as cores, os odores, a performance dos ventos brandos. Tudo arrematado por singelos cantos  do alto das palmeiras, na orla que se apresentava maravilhosa, como o cognome desta cidade: Cidade Maravilhosa!
     O sussurro do mar cadenciado contribuía e, ao longe, como a perder de vista, um cenário de tirar o fôlego: o desenho das montanhas torneando o horizonte.
     Num certo momento do dia, outro concerto nos tocou a alma! Agora,  na TV,  este nos ofereceu uma renovada esperança com a exibição de  jovens  estudantes de música clássica: a violinista_ que arguída revelou que seu sonho é tornar as pessoas felizes ; um oboísta; um flautista e, finalmente, um virtuose  do... acordeão, executando Paganini !
     Se não me engano, creio que pleiteavam vagas numa orquestra. No final das apresentações,  alguns jurados comentaram, rapidamente, demonstrando extrema perspicácia e simpatia,  inclusive a bailarina Ana Botafogo, que ali estava pela sua grande sensibilidade artística.
     Nessas horas, admito que a televisão é indispensável, se quisermos assistir iniciativas deliciosas como esta. Quantas  horas, dias, tempo  de estudo estes jovens se dedicaram? E ao tocarem, dedos ágeis, sopro perfeito, sensibilidade aguçada, o sorriso suave era presente. Almas especiais, sem dúvida.
 
    
    

domingo, 20 de novembro de 2016

FLORES OU ESPINHOS?

 

          Vinha pelo caminho habitual, observando as flores que insistem em aparecer nos arbustos mais  esquálidos das redondezas. Amarelas, brancas e rosadas. Diminutos arbustos desfolhados, porém, floridos! E isto faz toda a diferença.
     Olhar com atenção a florescência a romper-se, generosa e fresca, aguça a  mente, lança um sopro de esperança na  alma, refresca o nosso coração doído.
     E gente é como árvore... de repente, as flores da compreensão, o perfume da generosidade são despertados e pode acontecer em qualquer estação da vida. A bondade florescerá, já que vive  latente em nós.
     No caso de gente,  a seiva da criatividade busca, em motivos às vezes banais, um percurso para dar vazão a si própria. Os rebentos soam, muitas vezes, nas Artes, na fala, nas ideias renovadas, nas soluções primorosas.
     Mas há que se notar a si mesmo com atenção para que esta conquista aconteça. Há que se adquirir pela prática a tal atenção plena, ou, como chamam atualmente, mind fulness . O monge tibetano  Tarthang Tulku já dizia que esta é a chave para iniciarmos o longo e definitivo caminho infinito da evolução: perceber-se.
     No caso das árvores, são naturalmente altruístas, doadoras , acolhedoras, bondosas. Já no nosso caso, ainda precisamos meditar ou navegar numa outra trilha que nos alavanque a vontade para as conquistas do espírito; isto se estivermos dispostos, se estivermos despertos! Se não, seremos aquele espinheiro, desprovido de flores,  que ninguém quer por perto.
     De acordo com o mestre Osho _, um dos mais conhecidos e provocativos do século XX, " a mente moderna é uma mente enraivecida"; portanto, é  preciso um certo esforço, várias tentativas para, finalmente , podermos ofertar as flores da amizade , do consolo e da paz. E essa tal felicidade já mora em cada um, é a nossa própria essência! Portanto, mãos à obra! Silenciar e mergulhar  em nós já é um bom começo.
     " Sou árvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
sou graveto, sou mato..."
                                                                      (Cora Coralina)
           
     

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

QUE TRAPALHADA!...

     Ela estava contente: afinal, iria encontrar-se com suas amigas dos tempos da mocidade, do Colégio Pedro II, do grupo de jovens  da Igreja Sagrado Coração de Jesus! Não pensou muito, porque, se pensasse, se entregaria à preguiça, que a  está ultimamente  rondando com insistência, principalmente logo depois do almoço.
     Então, assim que terminou o seu almoço, arrumou-se primorosamente e partiu, rumo à Tijuca. "De Ipanema seria fácil", pensou, animada. Tomou o metrô, rumo à Rua Uruguai, uma nova estação que facilitaria bastante .
     Sua amiga afirmou-lhe pelo telefone que, assim que saísse da estação, seguisse em frente. Só esqueceu de dizer que, logo em seguida, virasse à esquerda...
     Chegando à rua, olhou o número: quinhentos e tantos... Nossa! Duzentos e pouco era o prédio de Ana. O calor , quase insuportável, apesar da estação mimosa das flores, fez com que atravessasse( a rua em que estava era de mão dupla) e chamasse um táxi!
     Um motorista_ um senhor de idade, muito agradável  atendeu o seu apelo e tornou a viagem leve. Ela pediu -lhe que seguisse em frente, achou que chegariam rapidamente ao número.
     Mas... cadê o número? Não havia a tal numeração do condomínio da amiga. Por que? Até o motorista ficou um tanto agitado.
     "_Senhora, na Rua Conde de Bonfim esse número não existe! A senhora deve estar enganada."
     "_ Amigo", retrucou, já meio esbaforida," como não existe? Está aqui... ó... no papel em que anotei: Rua José Higino, númer...  Eita! Rua José Higino? Mas estamos em qual mesmo?"
"_Na Conde de Bonfim!..." , disse, soltando as mãos do volante e encenando um grande gesto de aborrecimento e de enfado.
     Ela calou-se por um breve momento. Não sabia se ria ou chorava. Já estava cansada, com calor e, agora, mais essa! Mas temos que levar tudo na flauta, este é o seu lema. Não adianta espernear...
     "_Moço, vire, faça o retorno, vamos pra rua certa!"
     "_ Se pensa em me pagar com uma nota de cinquenta, deixo a senhora aqui mesmo, pois não tenho troco!..."
     E ela supondo que o tal chofer fosse um primor de educação e gentileza... Mas conseguiu manter a calma, a disposição e o sorriso, sua marca registrada.
     E num leve tom brincalhão, replicou:
"_ Vamos lá, pagarei em trocados, fique tranquilo. É por isso que o Ubber está dando certo..." disse, em tom jocoso, talvez para provoca-lo um pouco. Notou que ele passou a falar mais baixo, procurando se esquivar da agressividade latente que ficou, por instantes, à mostra.
     Deu a volta até chegar ao destino. Se ela tivesse, ao sair da estação, ido em frente e virado logo à esquerda, estaria na rua certa e a alguns passos do prédio...
     Finalmente chegou ao apartamento da amiga, revendo Ana Maria, Dulce e Adeila, abraçando e sendo abraçada, num reencontro amistoso e feliz.
     E todo aquele cansaço, o calor, o pequeno entrevero diluíram-se como bolhas de sabão...
Como preconizou Fernando Pessoa: "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena!"
      Passaram uma tarde maravilhosa, como nos tempos idos, esqueceram-se das dietas saudáveis e entre fartas risadas e boas recordações, deliciaram-se com petiscos saborosos, beberam refrigerante e fartaram-se de bolo de brigadeiro!...

     
    

domingo, 6 de novembro de 2016

PARA DERROTAR UM TSUNAMI

  
 A jornalista da Rede Globo que esteve afastada por motivo de saúde, voltará, em breve. Na próxima semana já estará comandando novamente o RJTV.
     Sua alegria sincera, sua espontaneidade, a vontade de ajudar o próximo são suas marcas. Pelo menos é o que passava sua imagem atropelando os desconfortos da população mais necessitada de providências básicas e urgentes, pela sua palavra firme , sua presença que, apesar da aparente fragilidade, denota um espírito forte.
     Se repararmos as personagens cujas vidas tiveram um real significado, veremos que, na sua grande maioria, são pessoas aparentemente delicadas, mas com uma vontade e um caráter indomáveis. Acho que este é o caso desta conhecida jovem.
     Eu a vi, de relance, numa das cafeterias da Kopenhagen, certo dia da semana, em Ipanema, numa galeria. Estava apressada, pediu um café, tomou aos goles e saiu, rápido.
     Noutra vez, em Ipanema também, na Rua Aníbal de Mendonça, cruzou comigo com aquele seu jeito acelerado... Magrinha, roupas confortáveis, singela.
     Enfrentou uma doença terrível, quatro vezes. Mas vence sempre as batalhas que trava.
     Por que alguns  se entregam, desanimados, enquanto outros reagem, apesar do sofrer? Depende de cada um, da sua fortaleza interna, do que já registrou em si e, claro, também das condições à volta. Família, por exemplo, é um bálsamo nestes casos. Pai e mãe, as raízes, darão um consolo real; irmãos, amigos... o leque vai se expandindo... a palavra confortadora, a presença amorosa, o olhar da compreensão, o gesto da amizade, tudo isto facilitará a recuperação ou então, a aceitação. Aliás, tudo isto é a manifestação do Criador em nós. 
     E quando a pessoa estiver só no mundo? Sem parentes, sem amigos, na mais completa solidão? Acontece... Há que ter fé. Mas no que consiste este sentimento? Acreditar. Na vida. Num ser supremo, que não entendemos lá muito bem, somos mesmo incapazes. Mas podemos senti-lo. Ah, podemos!
     Talvez o sofrimento seja para tal depuração até chegarmos a Ele, quem sabe? Que existe uma força fantástica, criadora, disto não tenhamos dúvida! É só olhar pro lado, para a manifestação da natureza, dos sentires, para o nosso próprio corpo físico, máquina perfeita, extraordinária, para a composição do universo! Mas somos ainda tão rudes que nem nos damos conta disso, nem  paramos pra pensar, quanto mais sentir!...
     Debulhamos alguns pobres versos trôpegos e nos achamos!...Balbuciamos preces formuladas e temos a sensação de que cumprimos nosso dever... cantamos hinos, pedimos a bênção e pronto, resolvemos tudo. Mas quando vem o tsunami da doença, a derrota quer se estabelecer.
     É preciso aquela vontade férrea a que me referi no começo, é preciso o afago da família, dos amigos. Ah, claro, e bons médicos e hospitais decentes e condições para que a população chegue até eles ,  seja tratada e, quem sabe, obtenha a cura. Bem, mas isto já é pauta para a  respeitável jornalista Susana Naspolin.