Amizade ou caridade_ esta é a questão.
Não saem da minha memória as palavras que ouvi de uma amiga dos tempos da mocidade, comentando a respeito de uma amiga comum (vou chama-la de Gertrudes).
Não saem da minha memória as palavras que ouvi de uma amiga dos tempos da mocidade, comentando a respeito de uma amiga comum (vou chama-la de Gertrudes).
Soou-me mal. Muito mal. Disse-me ela que , como Gertrudes está passando um período difícil, ela fez uma tremenda caridade! Telefonou-lhe.
Conversou, aconselhou, "fiz uma grande caridade", disse-me, enfaticamente
Encrespei-me. Não domino ainda a grande sabedoria dos mestres: o silêncio nestas horas é precioso. Porque nada adiantam nossas considerações e palpites, pois a outra pessoa está certa como dois e dois são quatro!
Então questionei-a: "Caridade? Mas isso não é um exagero? Não seria o exercício da mais profunda e sincera amizade? Você telefona, aconselha, conversa..."
E como a minha amiga_ vou chamá-la de Joana_ insistisse muito, chegando a afirmar suas certezas sobre caridade atabalhoadamente, quase sem respirar, num crescente de ansiedade, então... calei-me.
Calei a fala, porém os pensamentos não. Eles não sossegam. Continuam, inquietos, atordoam-me.
Pensamos que conhecemos alguém lá de trás, que esteve conosco na mesma trilha, época de estudantes. Mas o tempo passa, a vida toma rumos inesperados, as ideias modificam, as palavras podem endurecer e o coração necrosar. Ainda bem que não acontece com todos.
Tempos difíceis estes de agora. Muitas vezes, os amigos de antes ficaram lá no passado e a lembrança guardada é boa. Que fiquem lá, como peças importantes da vida que vivi, nos tempos de inocência e alegria pura.
A vida às vezes machuca tanto que, se sondarmos o coração, só restarão desilusões , tristezas, amarguras.
A ordem agora é de reciclagem. Palavra atual. Reciclo então as companhias, os ideais. Não se pode perde-los. Os ideais, claro.