quarta-feira, 29 de junho de 2016

É PRECISO FOCO!

     Coragem é o significado do meu nome em japonês... Isto foi o que descobri hoje, ao entrar num desses sites que vivem a nos distrair.
     Fiquei pensando: Coragem... Gostei! Até que a virtude combina com o meu jeito de ser.
     Já senti muito medo e aprendi que a qualidade inversa deve ser o nosso foco (palavra tão em uso, atualmente) para destruirmos a negativa. 
     São tantos os instantes em que perambulamos pelo medo... na doença, na tentativa do assalto, na perda, até no simples atravessar de uma rua movimentada, na morte, na vida... Quando se é medroso, qualquer evento pode ser motivo para desencadear os sintomas . Se tudo vai bem, temos medo de perder... se tudo vai mal, nos tornamos inseguros e temos medo!
     No mundo de agora, às vezes, a ousadia desmedida  pode ser sinônimo de inconsequência. Para o nosso bem-estar,  então,  cautela em dobro! Nada de bravatas, somente bravura, mas comedida, prudente.
     Portanto, a tal da coragem, qualidade traduzida de meu nome, nada mais seria do que uma ideia bonita de quem vence, dia a dia, seus próprios dragões do ressentimento, da tristeza e da indignação exacerbada. A meu ver, sentimentos que me atemorizam,  pois nos revelam a alma ainda imatura pelas emoções abomináveis. 
     O mundo atual, a humanidade   conturbada,  tantos  perigos que nos rondam que , muitas vezes, nos deixamos abalar pela aflição do temor desmedido. 
     É a amiga que falha na sinceridade, é o parente que nos agride pela palavra conturbada, o vizinho que não nos socorre no momento de dificuldade, é alguém, sempre o outro... que se posiciona não como a pessoa que consolidou uma ligação de afeto, verdadeira e forte, mas alguém tíbio que se torna quase vil ante a turbulência do seu próprio mundo íntimo.
     Uma humanidade que ignora ou, até mesmo, imputa o sofrer ao seu irmão é um mundo decadente, frio, triste, trôpego, claudicante.
    O jeito para aliviarmos o coração e sairmos ilesos do charco do medo, preconizo  seja nos concentrarmos no Bem, na busca pela Beleza, focarmos em tudo o que nos apazigua o espírito. E é  preciso coragem. 



sábado, 18 de junho de 2016

ANINHA DE PERNAS MOLES

  " O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada.
Caminhando e semeando, no fim, terás o que colher." 
 
 
      Já sentiu como se fosse uma flor murcha, despetalada? Que não faz falta? Uma vida sem sentido? Inútil? Algo sem valor, desprovido de beleza e de ânimo, que fosse sempre injustiçado?
     Penso que todos nós, em algum momento da vida,__ que pode ser longa, já percebeu o seu coração constranger-se por absoluta incapacidade de viver,  ante às possibilidades que são tantas .
     Lendo uma famosa poetisa,  alarmei-me! De poesia das mais diretas e comunicativas que temos lido e amado *, os adjetivos mais desarranjados , mais sofridos ela enumera, para ela mesma, ao longo do discorrer das  estórias da própria vida.
     Eis o descortino de tais qualidades mencionadas pela autora:
     "boba, feia, feiosa, desamada, apedrejada, sozinha, mal-amada, mal- alimentada, medrosa, perdida, nervosa, chorona, descuidada, de pernas moles, manhosa, inzoneira, sozinha, irrequieta, sofrida, humilhada, desacreditada, mal- aceita, destruída."
      Decidi anotá-los para entender essa pessoa tão sensível que transformou o seu caminho_ que poderia continuar triste, ressequido, desarranjado, negativo, em Poesia da mais alta qualidade. Transformou o seu desgosto em adubo  para alimentar a alma e enriquecê-la.
     Quando comecei a folhear o livro, confesso que não confiei muito no que estava pra ler. Mas fui abordada   pela simplicidade  e atraída pela força de seus versos, onde a sinceridade é o leito por onde correm as águas do rio da sua vida, contada aos salpicos. Como pano de fundo, o interior do Brasil, na época do início da República no nosso país.
     Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas  conseguiu modificar toda aquela vivência monótona e rodeada de desafeição,  pelo seu pensamento analítico e profundo que a tornou, pouco a pouco, uma sábia mulher.
     Inicialmente, contava somente com o seu  romantismo e a pureza de menina. Adiante, lentamente, observando com atenção e minuciosamente tudo o que lhe acontecia,   refletindo sobre a  natureza tão rica e acolhedora, ela finalmente desabrochou.
" Gente de casa, dizia rindo meu avô.
Era o tempo sagrado da reprodução.
...
Nada mais expressivo do que o João-de-barro e sua companheira
..."
 
     Libertou-se das mazelas que o pensamento tristonho nos traz, pois o sofrimento moral pode se prolongar pela existência afora;  ela teve muita determinação e vontade para que o cristal do coração emitisse seu brilho. 
     Apossando-se do nome de uma mulher que vivia na cidade de  Goiás, vira Cora Coralina em seus escritos, que passa a produzir e a publicar desde mocinha.
     Fora de sua cidade por décadas, volta  e se especializa em doces!... Torna a vida açucarada, ela, que tantas amarguras sofrera.
     Esta mulher nos deixa um legado de exemplo e de compreensão de vida extraordinário. Basta lermos sua obra e entenderemos porque ela mesma, no declínio de sua existência, passa a se definir  como "guerreira, mulher-terra, autêntica, sertaneja, livre, rude, turbulenta, positiva, lutadora, pacífica, mulher- operária..."
" ...Sou árvore, sou tronco, sou raiz, sou folha,
sou graveto, sou mato, sou paiol
e sou a velha tulha de barro..."
     E, a meu ver, um grande estímulo àqueles que desejam ser felizes de fato!  Não se deixou abater pelo  sofrimento. Não permitiu que o ressentimento invadisse  sua alma. Reagiu à altura, enveredando pelo caminho da Arte, escrevendo beleza e transmitindo, sem pretensões, sua sabedoria a todos nós.
 
"PELA MINHA VOZ CANTAM TODOS OS PÁSSAROS, PIAM AS COBRAS
E COAXAM AS RÃS, MUGEM TODAS AS BOIADAS QUE VÃO PELAS ESTRADAS
SOU A ESPIGA E O GRÃO QUE RETORNAM À TERRA.
..."
 
* Comentário do poeta Drummond, em carta a Cora Coralina, em 7 de outubro de 1983     

    
    
    

sábado, 11 de junho de 2016

CIRANDINHA

  
      Não... o assunto não será a doce e ingênua canção de roda. Comento sobre um restaurante que deixou sua marca . Cirandinha era o seu nome.
      Lembro-me, até hoje, das minhas idas ao simpático restaurante em Copacabana.
     Na década de setenta, passei a ir lá repetidas vezes para saborear  suas deliciosas pizzas. Chegava com  tia Lourdinha, que fazia questão da minha companhia.
     Ficava na Avenida Copacabana. Digo ficava, pois acredito que tenha já fechado as portas, infelizmente. Afinal, todos são unânimes em afirmar que a sua comida  era deliciosa. Os lanches se tornaram conhecidos e servidos no balcão era a pedida na época.
     Dia desses, indo de  táxi para a clínica de acupuntura( onde trato uma leve lesão no ombro), conversando com o motorista(o que faço habitualmente, nos breves momentos de viagem. É cada história, cada um deles com sua maneira própria de ver a vida e de contá-la!), este me diz que o Cirandinha fechou, ou que estava para fechar, definitivamente. Ele tinha ouvido falar.
     Confesso que na hora fiquei meio atordoada. Toda a ação passada voltou, como um filme, em minha mente.
     Meu coração enterneceu-se, à memória de tia Lourdes, sempre animada, conversadeira, sorridente. Dávamo-nos muito bem! Mamãe até sentia uma pontinha de ciúmes do nosso convívio.
     Mas o que me constrange é o fato  de que, ultimamente, muitos lugares bons para serem frequentados, em virtude da qualidade dos seus serviços, estão fechando as portas. Não me refiro somente a restaurantes, mas ao comércio em geral. O que é uma lástima!...
     Sentimo-nos mais empobrecidos quando somos forçados a nos despedir de lugares e pessoas com que estávamos acostumados, pois nos davam prazer. A vida vai encolhendo... As opções vão diminuindo... Tudo ao redor fica acanhado, sem graça, acinzentado.
     Como o anel da canção, que era de vidro e se quebrou, assim também as coisas do mundo são tão frágeis e passageiras!...
     Resta-nos aquele prazer íntimo, conexão quase perfeita com o que existe de criativo em nós. Mudança de hábitos, é o que proponho!  Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar...
     Abramos os nossos corações a conhecermos pessoas, lugares, sabores, diversões que nos permitam a sobrevivência da alma, para que não se curve ante à tristeza, ao desânimo, à saudade. 
 
 
HAIKAI
um recanto alegre
a comida saborosa
agora, lembranças