terça-feira, 31 de julho de 2012

PARLAMI D'AMORE

     O idioma italiano sempre me atraiu, seja nas canções, seja nos filmes. O cinema, o canto, seus artistas sempre me comoveram.
     Entrei, há um tempo atrás, numa lojinha de CDs e encontrei  Toquinho cantando em italiano! Uma raridade. Em seus arranjos de violão, a gente sonha... Composições de Toquinho, de Vinicius, de Paulinho da Viola, Baden Powell, dentre outros. Samba em Prelúdio, Se ele quisesse, Escravo da Alegria e por aí vai um desfile de bom gosto. Um popular requintado!...
     Quem não lembra de Dio come ti amo, Che Sarà, Per Amore, Amore Scusami, Parlami D'Amore, Mariù!...   O grande Andrea Bocelli me emociona com sua voz terna e, ao mesmo tempo, vigorosa. Aliás, os italianos têm essa característica: somos cativantes pela amorosidade e intensos na expressão. E aí eu me incluo, já que descendo de uma família italiana, pelo lado paterno.
     Meu avô Pedro era italiano e veio para o Brasil ainda criança. Levantava-se bem cedinho e ia cortar lenha para alimentar o fogão. Logo, logo pela chaminé, os rolos de  fumaça  subindo aos céus... Tempos de menina!... Férias com meus avós!...  A chácara, as árvores frutíferas, o pequeno canteiro onde vovó Ritinha, descendente de índios, plantava ervas medicinais. E me ensinava: "_ Minha netinha, eu mastigo a folha, ao invés de preparar chá..."
    O rio Paraíba do Sul, próximo, era refúgio meu e de papai para pescarmos! Vínhamos com a caçamba cheia de lambaris e entregávamos para mamãe ter trabalho. Pulávamos as pedras de variados tamanhos, no meio do rio, até acharmos uma maior,  na qual  ficávamos, quietinhos, à espera do peixe... Papai me ensinava o silêncio. Como era bom ter meu pai tão próximo, tão amigo.
    A casa era grande, de fazenda. Víamos o telhado e, à noite, os morcegos. Naquela época, tudo nos divertia. O lustre era um fio pedurado e, na extremidade, a lâmpada com o interruptor. Bem mais prático do que nos tempos atuais.
    O quarto onde eu ficava  era lindo, tinha uma penteadeira grande com tampo de mármore cor-de-rosa e um espelho enorme cuja moldura era toda trabalhada. Uma obra de arte!
    Na sala, os móveis todos tinham espelhos nas portas, do lado de fora.
    Janelões grandes, a madeira verde  emoldurava os vidros. A casa pintada de branco e, à frente e nos lados, os jardins, a horta, o pomar. A limeira irreverente se infiltrando no quarto de papai e mamãe, pela grande janela.
    No outro quarto, uma galinha acostumara-se a colocar ovos na cama. E vovó, pressurosa, preparava-os quentes no café da manhã. Um pequeno arbusto de folhas delicadas, ficava logo abaixo da janela deste quarto e eu achava tão romântico! Era o quarto de meus avós. Como se amavam! Muitas vezes tomavam banho juntos. Mamãe meneava a cabeça, num pequeno gesto de condenação, talvez porque achasse meio indecente já que eu era uma criança. Bobagem!... Eu achava lindo! Dois velhinhos apaixonados ainda, carinhosos que se banhavam juntinhos. Era demais. Eu via amor, naturalidade, simplicidade e beleza no gesto.
    Tantas lembranças... Hoje, simples gestos de amor, o silêncio nas pescarias, um riacho, limas-da-pérsia, goiabas suculentas, mangas-espada, passarinhos, arbustos delicados, doces  carambolas, tudo isso me lembra de Sapucaia.
     O jeito italiano do meu avô  que vivia cantarolando, feliz, que amava sem medidas , que sorvia o vinho tinto italiano à hora do almoço, que gostava da chácara e de lidar com a terra, que acordava cedinho para a lida  e também cedinho se recolhia, que estava sempre sorridente, de bem com a vida; também tinha seus momentos de reflexão e recolhimento _ era o jeito italiano de ser. Um jeito amigo, verdadeiro, alegre, amoroso, expansivo!
    No baú do coração guardo as lembranças mais belas dos tempos de menina ao lado dos meus avós  e das canções italianas sempre a falarem de amor, de paixão! Gente de sentimentos exacerbados, povo alegre, festivo, cantante...! Uma viagem no tempo que aguça o meu ideal romântico e faz retornar os sonhos da mocidade.



   
       
   

sábado, 28 de julho de 2012

REPÚDIO À MATANÇA DOS MACACOS

    Presto aqui minha homenagem aos macacos que vi nos muitos passeios que fiz ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro.E que me distraíram.
    Reconheço que estes animais, ao devorarem os ovos dos ninhos dos pássaros,  nós, amantes da Natureza e declarados observadores de pássaros, abominamos tal atitude, mesmo sabendo ser natural. 
    Reconheço que são pouco amistosos, de atitudes um tanto grotescas, como certo dia em que um pequenino se colocou à minha frente, num galho de bambu e, irritadiço, masturbou-se olhando firme para mim. Fiquei estarrecida, impressionada .
    Num dos encontros de observação de pássaros um macaco-prego mirou e urinou em quem estava posicionado embaixo da árvore onde ele se colocara.
    E quando, numa bela e ensolarada manhã, sentada num banco,à sombra, eu me dispunha a pintar numa tela  um arbusto coalhado de flores rosadas, eis que, um bando enorme e barulhento se dirigiu a mim, à cata do meu lanche. Ingênua, tinha levado bananas e um sanduíche. Naturalmente, o cheiro da fruta os atraíra.
    Mas são animais, reflito. E merecem o nosso amor e a nossa compreensão. Envenená-los é inadmissível. É uma ação deplorável e ignóbil  à qual repudio.
    O Jardim terá menos arruaças, mais pássaros, menos traquinagens, mais lembranças, menos motivos para fotos inusitadas, mais silêncio.







     

CHIADEIRA

    Voltei do salão com a sensação de que estou com a mesma aparência; avisei ao profissional, delicado cabeleireiro, que gostaria de um corte prático, já que sou avessa à ida frequente a salões. Que  diminuísse um pouco o volume.
    Mas creio que não fui clara. Apenas uma leve aparada e uma escova no final, mesmo eu dizendo que escova arrebenta com os fios finos da minha cabeleira e, surpreendentemente diz , na hora da saída:"_ Olhe, nada melhor do que aqueles antigos rolinhos! Você coloca dois bem grandões na frente e vários dos lados!"
    Perplexa, meneei a cabeça, considerando. Ufa! Porta afora, senti um perfume enjoativo que me acompanha até agora. O perfume do rapaz aderiu-se a mim. Arre! Não era bem isso o que eu queria nesta tarde de sábado.
    Chego em casa e, para distrair-me, ligo a tv. Saboreando um cafezinho e tirinhas de queijo de Minas curado _ cheio de gordura, porém também cheio de gostosura, não sei se  acho graça ou se choramingo. O que vejo na telinha me enjoa tanto quanto o tal perfume. Um cantor e sua mulher num carro se equilibrando numa grande tábua, num programa de um apresentador famoso; isso não me atrai nem um pouquinho. Mudo de canal.
    Jogos Olímpicos... Mais Jogos Olímpicos... Clico  uma outra vez pra ver o que aparece: jóias sendo vendidas via tv. Uma monotonia só!
    Espreguiço-me. Lembro-me da sexta-feira passada em que fui ao cinema ver Para Roma com Amor, de Woddy Allen. Saí recordando as vozes de Roberto Bovo, Andrea Bocelli e dos tenores famosos, e, sem perceber, cantarolava Volare ao chegar na Cafeteria. Uma delícia de filme!...
    Retorno ao controle remoto. Um novo clique me leva a um programa de calouros! Nada mais antigo, enfadonho e ilusório. Uma voz insípida, tosca, rangente de um rapazote usando aparelho nos dentes, querendo aparentar estilo e sendo, de certa maneira, estimulado pelos jurados...
    Na minha última opção, um apresentador acaria a cabeça raspada de um cantor de pagode que acaba de ouvir um "eu te amo" de uma mulher; talvez a mãe ou a esposa, sei lá... pouco importa e isso faz com que ele vá às lágrimas! Já não aguento mais . Até  a programação daTV Brasil está esdrúxula. Mostra um grupo estranjeiro fazendo um barulho infernal! E uns rostos que, valha-me Deus! Parece uma  visão demoníaca.
    Desisto. Ligo o computador e toco a escrever. É o melhor que faço agora.
   
   
   
   

sábado, 21 de julho de 2012

AMIGO É PRA GUARDAR NO CORAÇÃO

     Ontem foi Dia do Amigo. Precisamos de um dia para exaltarmos o amigo? Questiono.
      Só sei que ontem reencontrei um velho conhecido.
     Eu e José nos conhecemos há cerca de dez anos, no Museu do Homem do Nordeste, na cidade de Recife, em Pernambuco. Estava a passeio  e foi lá que o vi pela primeira vez. Mais alto do que eu, um rapazinho um tanto  inquieto, sorridente, alto-astral. Visitava o Museu com uma amiga.
     Numa das salas, havia exposta uma poesia e quis copiá-la. Nisso, José me diz, categórico:"_ Bata uma foto!" Retruquei  que não daria certo. Ele insistiu, com seu jeito sorridente; então,  não pude contrariá-lo, já que sua maneira simpática e até um pouco carinhosa atraiu a minha atenção.
      Não me arrependi.O texto ficou bem nítido na revelação.

Com dez pego na casa
Com vinte levanto esteio
Com trinta reparto o meio
Com quarenta faço a base
Cinquenta nada me atrasa
Sessenta, obra singela
Setenta, porta e janela
Com oitenta ripo e amarro
Noventa cato o barro
Com cem estou dentro dela.

(domínio popular- Recolhida durante a execução do cenário casa de taipa do Museu do Homem do Nordeste através do artesão José Zito da Silva) 

    Mais tarde, ainda no Museu, nos encontramos noutra sala onde estavam expostas várias figuras do Candomblé. Sentei-me no chão, ao lado de uma dessas imagens e pedi a alguém para fotografar. Espantada, vi o moço chegar e dizer com naturalidade: "_Ah, quero sair nessa foto!..."
    Achei tão simples a sua atitude que isso me cativou. Passamos a conversar e terminamos de ver a exposição juntos.
    Como eu levava sempre comigo o meu primeiro livro  de poemas publicado, Palavras Transformadas, não titubeei: ofereci-lhe de pronto! Ele adorou, trocamos e-mail e prometemos que manteríamos contato.
    Realmente, de vez em quando, nós nos comunicávamos; às vezes, passávamos um tempão sem nos falar.
    Mas uma boa surpresa me aguardava para esta sexta-feira, coincidentemente o Dia do Amigo. Finalmente, José pôde vir ao Rio de Janeiro!
    Pensei num lugar agradável que também fosse um ponto turístico para nos revermos. E, claro, o nosso ponto de encontro seria num lugar acolhedor, turístico e meio mágico, com  ar cheirando a madressilvas, com os passarinhos se alimentando na relva orvalhada, com as borboletas colorindo os ares: o Jardim Botânico do Rio de Janeiro!  


    Falante, simpático, inteligente, alegre, de uma naturalidade cativante. Continua com as mesmas  qualidades que o destacaram no nosso  primeiro encontro. Agora, já formado,  José vive outra etapa em sua vida. Mas sempre buscando a beleza e a alegria para alimentar o coração. 
  

sexta-feira, 13 de julho de 2012

COMO AUDREY HEPBURN

     Minha amiga foi ao Banco. Calça blue jeans, sapatilha e bolsa pretas, blusa de malha branca com  mangas compridas e um casaquinho básico, em tom vermelho-carmim. Mas estava bonita. Caprichosa, brincos em forma de coração vermelho e um anel de pérolas com a  imagem de uma Santa a enfeitavam na medida. Os cabelos soltos,naquele tom de mel que tanto a favorecia.
     O sorriso esbanjando simpatia estampado em vermelho vivo, do batom da Boticário. Sobrancelhas realçadas com um lápis próprio e  um rímel da Natura passado delicadamente compunham o visual do rosto que nos remetia à lembrança de Audrey Hepburn.
    Já não é a primeira vez ("_E nem será a última!", garante-me ela,rindo) que a moça do caixa encrenca com ela na fila dos idosos. Olha-a de alto a baixo, desnudando-a , com uma expressão no rosto que, faça-nos o favor, ninguém merece!
    Além da desconfiança de que minha amiga  esteja enganando a idade, mostra uma certa maldade.Hoje fui testemunha. Tratou-a com rispidez, com secura na voz e no olhar. Foi perversa.
    Quer dizer que, além da mulher ter que se acostumar com a chegada daquela fase de que ninguém gosta...velhice !... , ainda tem que ficar comprovando o fato. Ora, ora!... É crueldade demais! Ou seria inveja?
    Dia desses  fomos ao cinema. Quando chegamos ao guichê aconteceu a mesma contrariedade. Foi desacreditada, mesmo ao mostrar  a carteira de identidade. A funcionária sorriu de lado, maliciosa, um tanto irônica e não adiantou a minha amiga dizer que já tinha sessenta. A mocinha não acreditou. Duvidou da legitimidade da carteira de identidade!...
    Mas teve que aceitá-la. E minha amiga sorriu, feliz. Afinal, ainda estava em boa forma.
  

quarta-feira, 11 de julho de 2012

LIFE LIST

    Preciso encontrar um tempinho para organizar a lista das aves que já observei e que identifiquei ao longo da vida. Nem foram tantas assim, mas para mim, em cada uma delas encontro um significado.
    Gosto de rever as coisas boas que fiz. E o que é uma coisa boa para mim, naturalmente? É o que prenche o meu espírito, me diz algo ao coração, me energiza, me alegra, me faz feliz.
    Para alguns coisa boa  pode ser ficar à janela, olhando a vida passar... para outros, reencontrar 'amigos' no Face, viajar, ler, para mais alguns cuidar das plantas, fazer artesanato, pegar onda, surfar, mostrar a todos os prêmios e as  medalhas que ganhou ao longo da vida, compor uma canção. Depende de quem seja. Para o poeta, poetar, para o místico, meditar!!...  
    Mas coisa boa mesmo é estar na Natureza; me encontro nela quando respiro conscientemente , quando a vejo, quando me sinto inserida. Nada mais revigorante do que este contato. Todos os dias, de alguma maneira, reverencio aquela que é a nossa Mãe, que nos provê  de tudo quanto precisamos para vivermos felizes, saudáveis e seguros.
    Um monge, certa vez, nos disse: "_ A Natureza é o único livro que eu preciso ler."

(a autora e a arara no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu)

    Se formos analisar estas palavras vemos nelas muita sabedoria. A Natureza expõe lições, alertas e todas as maravilhas para que a nossa vida seja plena e se renove .
    Uma amiga mostrou-me um vídeo em que um uirapuru canta.  Que suave melodia!Então, compus um haikai:

      O canto flautim
do belo "wirapu' ru"
acorda a floresta

    O canto de um pássaro é uma forma de amor libertado. Assim como o sorriso. Assim como estes pequenos versos.
    Vou rever minhas anotações, meus registros em aquarelas e me deliciar com as boas lembranças.  
    

sábado, 7 de julho de 2012

UMA PEQUENA AVENTURA NO METRÔ

    Lá vem o velhinho
 da praça.
 Sem graça...
Levando a desesperança
                          na pança.


    Metrô. Cheio. Já sentada, vejo um idoso descendo a escadaria. De repente, ele dá uma paradinha por segundos. Noto sua dúvida se daria  conta de chegar a tempo com toda aquela vagareza.
    Seu olhar então se acende. Resolve arriscar.  Ele corre, desce os degraus bamboleando, desajeitadamente, mas  consegue finalmente entrar de lado no vagão, pois as portas estavam  quase cerradas.
    Nossa! Aquilo foi realmente, demais! Uma travessura e tanto!...
    Ele novamente tem dúvidas entre manter-se discreto, com aquela alegria fazendo  o coração quase explodir ou se entregar ao sorriso espontâneo. Faz mais! Primeiro, suspira profundamente; depois, deixa um sorrisinho maroto, meio de lado, aparecer, talvez, inconscientemente, para tentar disfarçar aquela emoção toda. Tenta empertigar-se. Afinal, ele não era um velhinho qualquer, não! Tinha talento. Sabia medir o tempo e correr riscos.  Segura no balaústre, olha ao redor com confiança e rodopia , graciosamente, com seus pezinhos ligeiros, como se fosse um garoto.
   
   
       (jardins do Museu da República, Rio de Janeiro)

MÉTODO DE TORTURA

    O dia está ensolarado . Água açucarada espera pelos passarinhos na janela.  Até acrescentei um petisco no suporte: a metade de um maxixe que comprei ontem no novo Horti Fruti aqui do bairro. O dia que surge parece tranquilo, conformado com o seu destino, a rotina da vida prossegue normalmente. E eu me lembro de papai , de manhãzinha, cuidando dos seus passarinhos engaiolados. Aquilo me incomodava.
    Sempre assobiando, espírito leve, homem bondoso e calmo, papai tinha muita afeição aos pássaros. Mas os mantinha em cativeiro. E se deliciava ao vê-los cantarem, a quase explodirem seus delicados pulmões em árias sofisticadas.
    Azulão, canário-da-terra, canário-belga, curió, coleiro e um pintassilgo que era a minha paixão. Bravo, se encostássemos a pontinha do dedo na grade da gaiola, ele fazia um barulhinho diferente e bicava sem parar. Eu cuidava dando-lhe banho, limpando a sua gaiolinha com o esmero de quem ama.
    Um dia, aconteceu um imprevisto que fez papai ir às lágrimas: No silêncio da madrugada, foram roubados todos os pássaros. Morávavamos na última casa de uma vila comprida, bucólica, cheia de jardins e árvores frutíferas. Ficamos muito tristes. E meu pintassilgo?
    Eles tinham sido vistos por muita gente. Papai levantava cedinho nos finais  de semana e lá ia ele com algumas gaiolas nas mãos exibir o canto que nunca desafinava. Deu nisso. Papai  entristeceu-se de tal maneira que não quis mais cercar-se deles. 
    E eu fiquei pasma tentando entender como alguém tivera a triste coragem de roubar pássaros causando tanto infortúnio?
    Acho que por isso amo tanto os pássaros, mas quero vê-los livres, afinal para que as asas se não podem voar? Privá-los da liberdade para ouvi-los cantar parece método de tortura.
    Existem agora nas esquinas pássaros de plástico que possuem um mecanismo no qual quando batemos palmas eles cantam. É cada uma!... Tudo para preencher a tal da solidão...já ouviram falar dela?

(lavadeira-mascarada, no alto da Pedra do Arpoador)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

CORAÇÕES QUIXOTESCOS

(foto tirada por um dos participantes, Belmiro Ferreira, notável poeta, um semeador da cultura.)

BELA E RICA É A NOSSA VIDA
ESTA É A PURA VERDADE!
SEMEANDO POESIA
NOS NUTRIMOS DE FELICIDADE!...

    A alegria tomou conta dos corações destes poetas, destes declamadores e apreciadores da arte poética. A Natureza, como sempre, colaborando para os nossos encontros. Tarde de sol ameno, na companhia das velhas árvores que  pareciam entender que aquele era um momento de louvação, de um  reencontro final com toda esta atmosfera bucólica, de gratidão pela vida e pela beleza  que elas nos proporcionam. Uma despedida em forma de poesia, já que muitas  serão  mortas para, em nome da modernidade, o povo contar com a expansão do Metrô. Haveria outra maneira de ser construída esta nova estação. Porém, por algum motivo alheio à nossa compreensão, ao nosso entendimento, ceifarão a vida.
    Nesta foto aparecem alguns dos participantes, logo no iniciozinho do Semeando Poesia, nesta sexta-feira, dia 6 de julho de 2012.
    Os trovadores foram lembrados, claro! Afinal, o Dia do Trovador será em 18 de julho. Procurei levar algumas trovas humorísticas, porque, como disse Yogananda, "as pessoas gostam de rir."Citamos trovas de  Belmiro Ferreira, Bastos Tigre, Martins Fontes, Sylvia Mercadante, dentre outros.

Quem ama parece louco
Leva uma vida enganosa
É como eu sou, que, ainda há pouco,
Disse bom dia a uma rosa.
(Martins Fontes)

    Desfilaram poemas de Cecília Meireles, Olavo Bilac, Déa de Escobar, Regina Coeli de Almeida, Castro Alves(sempre lembrado!), Sylvia Mercadante, Fagundes Varella, Guilherme de Almeida, dentre outros.
   Pelo conteúdo , tivemos uma rica apresentação, corações irmanados pelo amor à Arte da Poesia e à Natureza.
   
     Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas.
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas
...
(Olavo Bilac)


... certa vez, parei um pouco,
e ouvi gritar: _ " Aí vem o louco
que leva uma árvore na mão!"

E, erguendo o olhar, vi folhas, flores,
pássaros, frutos, luzes, cores...
_Tinha florido o meu bordão.
(Guilherme de Almeida)


    ...
Tudo ali... num só lugar... de uma só vez...
E eu, na praça, a ler poemas...
Será que me tornei encantada?...
(Sylvia Mercadante)


   Ninguém rouba esse bem enorme que existe nos nossos corações um tanto quixotescos: o sentimento  da felicidade, que podemos levar sempre conosco.
    Como é bom para o espírito nos debruçarmos sobre as poesias escritas com a alma, nos entrelaçarmos por este simples desejo! O Semeando Poesia mais uma vez transformou e fez repercutir a alegria pura .  

Agito a bandeira branca
Bem no alto, bem subida,
Pra todos verem o quanto
Eu quero a paz garantida.
(Sylvia Mercadante)

quarta-feira, 4 de julho de 2012

FRIO NA ESPINHA

    Ainda não li nada sobre criança índigo e criança cristal, que tenho ouvido falar na mídia. Noutro dia, no Programa de Ana Maria Braga, houve uma entrevista e o assunto era este. O entrevistado, uma autoridade na Doutrina Espírita. A conversa estava muito interessante , mas eu tinha horário marcado num compromisso e não pude assistir na íntegra.
    Dizem que essas crianças são especiais, trazem consigo uma certa luz, algum conhecimento já, a consciência despertada. Serão a base para um mundo melhor: mais justo, mais equilibrado, mais amoroso.
    Índigo é a cor do chackra frontal,  que fica entre as sobrancelhas, uma região de energia sutil, que eleva a consciência e desenvolve a intuição por excelência. Relaciona-se com o potencial nervoso, mental e psíquico. Serão, portanto, crianças mais intuitivas? Terão essa capacidade acelerada, dons mediúnicos, farão premonições?
    Já a luz cósmica branca flui para o âmago de nossa consciência, é a luz da pureza e da perfeição, da consciência crística. Alguém que se identifica com a luz branca experimenta o crescimento da percepção, a purificação e a cura pela fé. O branco renova a mente e nutre o espírito.
    O que sei é que certas habilidades para a conexão com o mundo extra físico não garantem o desenvolvimento espiritual, ou seja, a doçura natural, a paz íntima, o bem-querer, a paciência, a tolerância, enfim, as qualidades do coração. Pode a mediunidade _ se assim a pessoa desejar, ser um caminho no processo evolutivo, caso aceito com dedicação ao estudo e humildade.
    Ser criança também não significa, necessariamente , que aquela criaturinha pequena e dependente seja dócil e boazinha. Já vi casos de arrepiar, em que a maldade emergia com tanta naturalidade que assustava.
    Um caso para ilustrar: Num certo dia do verão passado, em que tinha feito compras ali, pela Visconde de Pirajá, o cansaço tomou conta. Então, comprei um sorvete no saudoso Chaika e fui até à praça Nossa Senhora da Paz, pensando em me acomodarr num daqueles bancos à sombra de uma árvore amiga para saborear. Sentei-me.
    Logo depois, uma menina loirinha,de olhos azuis, linda como um anjo(ilusoriamente, é assim que imaginamos os anjos...), aproximou-se com passos firmes. Aparentava ter uns cinco, seis anos. Estranhei  o modo  um tanto brusco como  vinha na minha direção.
   E sem nenhuma conversa inicial, começou a me bater com raiva. Apesar do susto , procurei manter a calma e a aparência tranquila, como se nada de especial estivesse acontecendo. Então, ela vociferou: "__ Saia do meu castelo! Saia! Saia!"
    Perdi o gosto naquela manhã. Apesar do calor quase insuportável, um frio percorreu a minha espinha . Insisti. Falei com uma suposta calma que eu era uma fada que tinha vindo visitá-la no castelo. Não adiantou. Seus olhos faiscaram. Então, sentenciou:"__ Vou pegar umas pedras e jogar em você!'
    Diante de tanta determinação em me expusar do banco da praça, aliás, do castelo da bruxa, levantei-me sem pestanejar, rezando para que ela não viesse atrás de mim e eu mantivesse a prudência.
    O mundo está mesmo precisando com urgência de uma faxina geral  e de que renasçam seres tendentes à boa vontade.