domingo, 25 de agosto de 2013

VIVA A ARGENTINA!

    Sol das oito numa sexta-feira preguiçosa, eu me esparramo nas areias ainda frias  de Copacabana, ali, no finalzinho, quase na colônia dos pescadores.
    Pouca gente saboreando o dia. Ainda era cedo e até a véspera fizera muito frio. A proposta era aproveitar rápido, já que o tempo anda incerto e caprichoso. Céu de um azul intenso, águas relativamente calmas e eu usufruindo as delícias do cheiro do mar, do alvoroço das aves.
    Logo avisto uma senhorinha sentada num banco do calçadão, alegre, com sua pequena  máquina fotográfica. Cabelos curtinhos, já grisalhos, a mão esquerda protegida por um elástico escuro e um sorriso estampado no rosto faceiro que lhe dava brilho e transmitia alegria.
    Passei a reparar a cena que se desenrolava pertinho de mim. Primeiro ela inicia uma conversa com o vendedor de cangas_ uma atração à parte para qualquer turista. Depois de um tempinho, ela mesma, decidida, estica o braço e bate uma foto dele. Pronto! Havia conquistado um admirador, que grita, entusiasmado:"_ Viva a Argentina!" 
    Um outro vendedor, desta vez de chapéus, se aproxima, pois o colega o incentiva a chegar perto. E ela, sem cerimônia, pede que lhe tire uma foto com ele. E o abraça, sem titubear. Com a maior naturalidade. Achei o máximo esta atitude tão espontânea e sincera.
    Quando nos deixamos guiar pela inteligência, recebemos a vida com alegria, de braços abertos, sem choro, nem lamentações. Haverá sempre dois caminhos: o da alegria, promovido pela aceitação e o da ranzinzice, quando nos tornamos lamentosos, apegados ao passado onde tínhamos outro estilo de vida, mas, como o nome diz, já passou.
    Resta-nos  o poder da escolha agora, com as possibilidades que temos: sermos felizes ou infelizes. Às vezes, parece que nos acomodarmos reclamando é mais fácil_ não precisa de muito esforço, basta nos queixarmos. Enquanto que para sermos felizes de fato, apreciarmos a vida e darmos boas soluções às diferentes questões que se apresentam é imperiosa a  renovação das atitudes.
    Aproveitei bem a minha manhã: além do sol poderoso que me encharcou de saúde e alegria, pude constatar uma cena singela, mas que me fez pensar.
 
 


   
   
     

terça-feira, 20 de agosto de 2013

VENCER DESAFIOS!

   
 
 Estive perambulando pela praça, de manhãzinha. Cães, criancinhas, mendigos, os cadeirantes e as velhinhas que proseiam, proseiam, proseiam, todos unidos pelo poder do sol.
    Mas existem aquelas que ficam ali, paradas, indiferentes à vida que corre, ou anda ... O olhar fixo em algum ponto longínquo faz parecer que conquistou uma imensa quietude inabalável. As acompanhantes, por sua vez, as desestimulam de falar, pois ficam com o celular nas mãos, jogando sem parar ,um tanto inquietas, sem nem ao menos olhar com um pouco de atenção àquela pessoa que ali está, frágil. A moça, às vezes,  fala muito ou, até mesmo,  discute com as outras, sem freios na língua. A linguagem torpe, mesclada com obscenidades fez-me sair de fininho para não me meter e chamar a atenção de uma delas, em especial.
    Como seria a vida daquelas senhorinhas que já viveram tanto? Talvez tenham sido mães, quem sabe? Ou são avós, ou já deram muito carinho e se desdobraram em cuidados para com os seus?
    Penso, repenso e me aflijo. E me compadeço. Acho muito triste no final da vida estarem tão solitárias e tão dependentes de outros que não compreendem o que estejam sentindo; não percebem a oportunidade que têm de aprender e se instruir. Mas o meu sentimento não é de pena por isso. Vejo, em cada uma , uma estrela solitária brilhando por tudo o que já viveram, tornaram-se fontes de luz e sabedoria. Pena eu sinto de quem as deixa, à mingua; pena eu sinto de quem ridiculariza a velhice. Cada idoso talvez tenha se tornado fonte de luz e alegria, com o coração repleto de amor e compreensão. Mas muitas vezes o imaturo nem olha para o velho; não lhe dá a atenção que merece e necessita como qualquer ser humano; mas ele já passou por tantos momentos sombrios que não contabiliza mais o sofrimento, mas sim todo e qualquer momento de paz e alegria.
    A vida passa rápido. Lembro-me das palavras de Buda, cheias de sabedoria:
 
" Nossa existência é transitória como as nuvens do outono.
  Observar o nascimento e a morte do ser é como olhar os movimentos da dança.
  Uma vida é como o brilho de um relâmpago no céu,
  Levada pela torrente, montanha abaixo."
 
    Estão ali, as pobrezinhas, despedindo-se da vida, serenamente. Com o semblante descansado, fazendo pouco caso do cantar dos pássaros, das frivolidades comentadas ao redor, da preocupação estampada nos rostos  das silhuetas que passam, apressadas. Alheias a tudo o que as rodeia, sonham, talvez, pelas lembranças que nunca se exaurem; da vida que já viveram, dos amores que já as alimentaram. Agora, na atual realidade, sucumbem, aos poucos. Velhice é para ser saboreada. Descobrir novos rumos, vencer desafios! Velhice tem que ser descoberta, dia após dia. Fazer disso uma arte. A arte de viver no futuro sonhado. Muitas vezes, sem o marido, com os filhos longe com seus afazeres, se distanciando e/ou perdendo os amigos, resta-lhes uma certa esperança no porvir. Os espiritualistas, numa libertação da carne que oprime; os materialistas, aqueles que  em nada acreditam após a morte, desanimados, sem fé, pesa-lhes mais o tempo da terceira idade. Pensam eles que tudo virará pó.
    Acredito que no profundo de cada ser haja uma dúvida quanto a essa realidade causticante. E a dúvida alimenta e anima o espírito. Desejaria que abordassem a leitura dos povos mais esclarecidos espiritualmente pois o bálsamo da fé conforta no final da existência, faz o sorriso permanecer.
 
    " O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo.
      O que for o teu desejo, assim será tua vontade.
      O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
      O que forem teus atos, assim será teu destino." *
     
   
 
* __ Brihadaranyaka Upanishad  IV,  4. 5


sábado, 17 de agosto de 2013

A ESCRAVIDÃO É UM INSULTO À LEI NATURAL

    Entrei na locadora, ávida pelos filmes recomendados num jornal, que propunha algumas obras de ficção não somente  como entretenimento, mas, também, como fonte de ajuda ao vestibulando. Cada filme conta uma história em certa época importante da humanidade.
    Como em meu íntimo corre ainda o perfume do professor e do educador apaixonado por sua profissão, pelas possibilidades que tem em ajudar a reverter o quadro doentio da atual sociedade, mesmo sem estar atuante como antes, não perdi tempo e entreguei a lista à atenciosa atendente.
   Somente um não conseguiram encontrar: " A escravidão é um insulto à lei natural". De resto, como já tinha visto alguns, como Os miseráveis, O menino do pijama listrado e Lincoln, a lista resumiu-se a seis. Desta, selecionei três: O ano em que meus pais saíram de férias, O pianista e O nome da rosa, que se passa na época do Renascimento, eu creio.
    Enquanto a busca pelos filmes acontecia, percebi que um jovem funcionário do local escolhia no andar de cima um filme para exibi-lo no telão da entrada. Fiquei curiosa e atenta para ver qual seria. Certamente uma novidade interessante para atrair o cinéfilo.
    Mas bastou-me olhar e entristecer-me. Violência era o tema. Já o título conferia: Renascido do inferno, ou algo semelhante. Como o rapaz percebeu meu 'interesse', descreveu o assunto, empolgado. Disse-me que era a história de um homem que é traído pela mulher e, além disso, é morto por ela e pelo amante. Só que ele não morre; fica em coma e daí acontece toda a trama pavorosa. Mas o garoto contou isto de maneira animada, como se fosse uma grande coisa! Deu pena...
    "_ A senhora vai querer levar?"
    "_ Não, meu filho, para saber deste conto só preciso ler o jornal." As meninas que faziam o atendimento riram.
    E completei:" _ É assim que a sociedade é minada." Ver e saborear durante quase duas horas cenas de violência e maldade, quebra a consciência crística do homem. Pode acreditar. 
     

sábado, 10 de agosto de 2013

PREPARA QUE AGORA É A HORA...

     Tenho visto e observado muitos idosos. Aqui, neste bairro de Ipanema e também em Copacabana, na "Cidade Maravilhosa", são muitas as pessoas que já conseguiram passar dos sessenta anos.
    Aprecio, com uma certa inveja, os velhinhos e as velhinhas que, religiosamente, comparecem nas areias do Posto 6 para curtir o seu volleyball, bem cedinho. Discutem, gritam, levam a coisa a sério! É divertido ver aquela turma. Eu fico ali, na cadeira quase cativa, saboreando o meu coquinho, espreitando todos eles e me banhando de sol. Esbanjam alegria e companheirismo, apesar de todos os palavrões insultantes, à primeira vista.
   Para quem teve uma vida pacata, voltada para o estudo e a reflexão, para quem nunca os ginásios esportivos fizeram parte do seu dia a dia, fica difícil estabelecer uma mudança de comportamento; ate porque os amigos  amealhados ao longo do tempo serão do mesmo tom. 
    Mas insisto em apreciá-los! Faz um bem enorme saber que há idosos que não estão nem aí para a idade fisica; devem ter suas limitações, certamente, mas não ficam tricotando sobre elas, não perdem o tempo que lhes resta viver. E sabem viver! Porque estão tomando sol, alegres, saborendo seu coquinho após o jogo, jogando conversa fora, felizes. Ah, e paqueram...
    Infelizmente existem outros grupos de idosos, os que se deixam abater, os que se tornam  invejosos, os tristes, os deprimidos, os desalentados, os chorosos. Não sabem se rebelar, se adequar à nova idade. E difícil mesmo. Porque toda a vida passou muito rápido; e só entenderemos isto quando chegarmos a esta idade especial. Ja chegamos no futuro; além disso, existirá  a morte que virá, como ladrão da noite nos arrebatar o espirito.
    Então, penso... como se adaptar a esta nova etapa para que a vida não perca o brilho ? Anoto uma serie de benefícios que esta fase proporciona e me surpreendo com tantas opções! Ir ao cinema e ao teatro e pagar meia, ir de graça ao Jardim Botânico, não ter vergonha de agradecer um elogio que, porventura recebamos, usufruir do tempo esticado para novos interesses como a fotografia, a pintura, a escrita, a leitura. Ou ficar somente curtindo uma bela paisagem, ou dar voltas no quarteirão, viajar, fazer um rápido passeio, conversar, aprender a meditar.  Passar uma tarde incrivel numa livraria e descobrir poemas, descobrir novas maneiras de retocar a decoração da casa! Fazer uma pintura no apê para  uma renovada!...
     Pensou em mais alguma? Deixe registrado em 'comentários '.
    Jamais se deixar abater pela solidão! Os filhos estão criados, estão vivendo!... Seria bom estarem juntinhos? Claro, mas, às vezes, a vida não permite. Eles tem o seu trabalho, os seus filhos, as sua ocupações. Então, nos preparemos para receber, com atenção plena, o que ela pode nos oferecer paulatinamente, porque se tornou mais flexível, mais lenta, menos estressante. Entendermos isto e aproveitarmos. Estávamos tão acostumados à vida corrida, à série infindável de preocupações que, quando o seu ritmo diminui, tropeçamos em um monte de ideias quase desastrosas.  Temos, para o nosso próprio bem, uma tarefa maravilhosa: aprendermos a viver numa outra etapa da vida, completamente diferente. Olha só que estimulante!... Muitas vezes nós mesmos somos os responsáveis pela espichada ou pelo encurtamento da nossa vida.
    O rádio esta tocando uma música animada que eu rejeitava, mas não quero me tornar uma velhinha chata e ranzinza, afinal, sou vovó e quero ser atualizada: " Prepara/Que agora/ É a hora/ Do show das poderosas/ Que descem e rebolam( bem, cá entre nós, rebolar, ok, porém descer, aí complica)... uma tal de Anita está cantando...  Quem sabe é legal? Noutro dia, vi no programa Encontro, da Fátima Bernardes o grande e inesquecível Caubi Peixoto. E chorei... chorei... Acho que não por ele, em si,  mas  pelo tempo passado, pelo meninice quando eu o ouvia cantar no rádio com aquele vozeirão:"Conceição, eu me lembro muito bem..."Tempo bom, com mamãe, papai, casa de vila, quintal, sapotis do grande sapotizeiro do vizinho que se esparramavam pelo chão ...
    Agora é a hora! Vida bem vivida pra recordar, filhos, neto, amigos, o dia está lindo, possibilidades a descobrir! O que mais importa?