terça-feira, 22 de abril de 2014

ESTRATÉGIA

  Arrumo os livros de poesia estrategicamente, de modo que os possa folhear, de vez em vez, assim que a alma, silenciosa, exige.
     Seja pelos apelos do mundo turbulento em que vivemos, seja pelo noticiário quase sempre sombrio, o fato é que a Arte, de um modo geral, nos liberta. Ela nos eleva, nos coloca em outra dimensão, nos toca o coração e nos torna felizes, cumprindo o seu papel.

"...
O sol é grande. Ó coisas
Todas vãs, todas mudaves!
(Como esse 'mudaves',
Que hoje é 'mudáveis
E já não rima com 'aves'.)
..."

     Alguns pequenos livros deixo-os perto de mim, sobre a mesa de estudo, onde passo a maior parte do meu tempo, tão valioso quanto a minha própria vida.
     Outros, coloco-os em pilhas, na estante de madeira que fica logo acima do computador. E fico rodeada por Fernando Sergio Lyra com os seus belos haicais, o pantaneiro Manoel, o sulista Quintana, o tristonho Bandeira, que fez da sua tristeza motivo para enredar-se em versos tão deliciosamente arquitetados, além dos poetas chineses.
     Acompanham-me, desde a mocidade, Tagore com a sua profunda reverência à divindade, Castro Alves, o poeta abolicionista por excelência e Cecília , a poetisa mais lírica.
     Destaques na minha caminhada e para sempre no coração, já que suas revelações expostas em versos sensíveis, cheios de ternura e inteligência recheiam o meu espírito de beleza e esperanças.

" Oh! Eu quero viver, beber perfumes
Na flor silvestre, que embalsama os ares;
Ver minh'alma adejar pelo infinito,
Qual branca vela n'amplidão dos mares.
..."
      
      No lado esquerdo da mesinha, uma pintura para finalizar ali está, exposta, como a chamar-me. Pincéis  num pote japonês, de bambu, com um desenho ilustrativo aguardam o manuseio.
     Porém, ultimamente, são as poesias que me atraem mais pela praticidade, talvez. E quando brota a inspiração, lápis e canetas espalhados  e cadernos e blocos se dispõem a colaborar comigo. Tudo ali, à mostra, bem fácil de ser explorado. Um caminho de sutilezas que me orientam a conduta para a conquista de uma paz alegre, indescritível, pois esta paz é cheia de prazer, amor e vivacidade.


"Se cada um de vós, ó vós outros da televisão
_ vós que viajais inertes
como defuntos num caixão_
se cada um de vós abrisse um livro de poemas...
faria uma verdadeira viagem...
Num livro de poemas se descobre de tudo, de tudo mesmo!
_Inclusive o amor e outras novidades."

     Concordo plenamente...
    




Autores das poesias apresentadas:




1- Manoel Bandeira
2- Castro Alves
3- Mário Quintana








quinta-feira, 10 de abril de 2014

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO...

      Dia amanhecido__
entre os céus e a terra
os sons dos pássaros



      Saí cedinho para caminhar pela orla. A brisa refrescava o outono e animava-me.
     Já no Arpoador, onde procuro comungar com toda aquela beleza, aquele esplendor natural,  passei próximo a um grupo de jovens que, notava-se,  tinha pernoitado ali.
     Perambulantes nas praias, arrumavam suas sacolas improvisadas com os poucos pertences e, ao manuseá-los,  sentia-se um forte mau cheiro.
     Ao passar pelo grupo, ouvi parte da conversa em que um deles 'orientava' o bando a usar corretamente determinada droga. Misto de horror e profunda piedade sacudiram meu espírito.
    Depois o grupo se dispersou calculadamente. De dois em dois se afastaram.
    De modo que, nem mesmo o insistente canto do bem-te-vi, nem mesmo todo o mar de ondas salientes, nem mesmo todo o azul reinante  conseguiram desanuviar  o meu coração. Sinto dó da juventude equivocada, carente, sem ideais nem força, sem discernimento. Tão sós, tão sofredores, tão perdidos...
     Busquei a companhia do sol, presente nesta manhã silenciosa e sentei-me, quieta, num dos bancos de madeira, ao lado de uma palmeira, cujas palmas, ao sabor da brisa delicada, deslizavam pra lá e pra cá, suavemente.
     Aos poucos, fui me conectando àquela maravilhosa paisagem e percebendo os gorjeios das lavadeiras-mascaradas próximas a mim. A natureza palpitava  e me uni a ela durante um bom tempo.
     Deixei o recanto onde recobrei energias e reiniciei  a caminhada da volta, não sem antes bebericar uma água de coco.
     Surpresa maior me esperava no quiosque! Ao invés de músicas inexpressivas o que ouvíamos ali era uma tocante Ave-Maria! Não podemos deixar que o abatimento se aninhe no coração; a vida nos reserva sempre surpresas, geralmente boas!...