terça-feira, 11 de dezembro de 2012

ARTE & ALMA

     O calor quase insuportável nos fez escolher um recanto pertinho de uma queda d'água. Aproximamo-nos e nos refestelamos a princípio. Depois veio o calor mais gritante, vieram os turistas barulhentos quais maritacas agitadas, apareceu um suspeito na escadaria que logo foi abordado pela segurança.
     Uns mosquitinhos inoportunos, a queda de uma garrafinha d'água mineral no pequeno lago, que provocou o amigo Belmiro a resgatá-la bravamente(há quem diga, ao pé do ouvido, que foi somente uma desculpa para refrescar-se...)!...
 
     Tudo isso e mais alguns fatos inesperados não corromperam a determinação nossa de mergulharmos na Poesia. O amigo Belmiro nos trouxe até o poeta Jânio Quadros(que eu muito admirava);  Hilário, nos fez refletir com as palavras sábias de Niemeyer; a poesia de Bandeira esteve presente e o belo poema de Raul de Leoni__ Árvore de Natal nos deleitou. Além, claro, dos poetas presentes que nos cativaram com as próprias criações.
 
     Por tudo isso creio, quase convicta,  que a poesia não pode parar. Ela é chama ardente, fulgurante, coisa de alma. Ela nos alimenta , exerce poderosa sedução nos nossos corações, enfeita a vida.
     Falo da Poesia, isto mesmo, com P maiúsculo. Desconsidero as que são, para mim, equívocos, que nada têm de poético.   Arte é para elevar, não para chafurdar. Pode até ser bem construída, com técnica, apresentar-se 'enformada', mas isto não basta para a intitularmos de Poesia. 
       Minha Escola foi e é outra. É a Escola do Espírito, onde bebo a inspiração na fonte da Beleza e do Amor.
 
"Toda a verdadeira arte é uma expressão da alma. As formas externas se valorizam, apenas, enquanto são a manifestação do espírito interior do homem."
 (Mahatma Gandhi, em O Rosário)
    
    

sábado, 17 de novembro de 2012

GALERIA IV

Telas e compensados com pinturas de minha autoria, em tinta acrílica 
 
 
 

AMOR PERDIDO
                                    
                                                                    
                                                    
                                                           
 
                                                       ARARA
 

                  ARPOADOR






 ARREMATE DE FLORES




                                                                                                                                                                                          TUPÃ-TENONDÉ











sexta-feira, 16 de novembro de 2012

GALERIA III

As pinturas aqui apresentada são de minha autoria e foram feitas com tinta acrílica s/tela ou s/ compensado.
 
 
 
                      


                                     A PRIMEIRA OBRA

 
 
   ALTAR NO PAU-BRASIL

 
 
                                                          A ONÇA
 
 
  
A ANTA
 
 
 
 
ATRAÇÃO FATAL
 
 
 
 
BORBOLETA NO JARDIM
 
 
 
 
 

GALERIA II

Pinturas de minha autoria, produzidas em tinta acrílica s/tela.
 
 
 
OS DOIS PALHAÇOS


 

                                                                      

                                                                          A AMIGA






                                                            
 
                                                       FLOR DA NINFÉIA
 
 
 
 
 
 
 
A ONDA
 
 
 
 
 
 
                                                           
 

                                                      AÇUCENAS
 
 
 
 
 
 
 
 
 


sábado, 20 de outubro de 2012

SOM DOS ATABAQUES



    Cheiros indecifráveis, aromas diversos, quietudes de brisas leves pela manhã...
     O mar logo se mostra pelas ondas, pelo perfume; os céus, mais exibidos, escancaram o sol por entre nuvens de cores variadas.
     Dirijo-me à praça e vou pela Rua das Hortênsias. Vejo árvores, árvores, árvores... E, na praça, pássaros, pássaros, pássaros nas árvores, árvores, árvores... E nos ramos? Flores, muitas flores!... E nos galhos, protegidos? Ninhos, ninhos, ninhos.



 
     Salvador é moderna, dinâmica. Mas falta o metrô, faltam calçadas, falta segurança. Os baianos saberão o quê mais.
     Dou asas à imaginação e vejo uma Salvador com prédios não tão altos, sem usufruir tecnologia de ponta, sem grandes empresas a surgirem. Salvador sofre.
     Ela palpita verdes! Ela vibra oceanos! A cidade esbanja azuis e ventos fortes!
     A cidade de Salvador precisa libertar-se para sobreviver, para respirar melhor.
     Salvador são terras, são palmeiras; ela é luz!... Engana-se quem pensa em Paris; a cidade-luz fica na Bahia e se chama Salvador. Uma luz natural. Pancetti que o diga.
     O marinheiro pintor, aqui aportando, maravilhou-se tanto que o seu genial dom tornou-se cativo das luzes desta cidade. Encantou-se. Dissera que jamais teria visto tanta luminosidade e criou marinas com seus pincéis abarrotados de brancos e ocres, amarelos e dourados. Soube como ninguém enxergar esta peculiaridade.
     A força desta cidade é a natureza que vibra intensa, quase feroz nas suas entranhas.
     Salvador tem história forte. Nada mais precisa para que se destaque.
     Não combina com luxo e a pretensa modernidade imposta.
     Sinto o som dos atabaques dos negros ainda, o choro nas senzalas rangendo, mucamas acuadas servindo. A natureza  a tudo presencia, se resguarda e cala; ela é pujante e pungente, Salvador grita na boca dos ventos e silencia nas águas mornas de seus mares.
     Talvez eu veja o outro lado desta cidade que aparentemente teima em seguir exemplos de outras, menos afortunadas em sua natureza exuberante. Povo gentil , amoroso e, de certa maneira, ingênuo,com a alma que reverbera sutilezas do povo africano.
     Salvador, cidade única em sua beleza natural, guarda a força da mãe-natureza  e se debate  sôfrega, entre arranha-céus.

    
 
 

sábado, 13 de outubro de 2012

GALERIA I

 
Pinturas realizadas por mim, em tinta acrílica s/tela.
 
 
   VOO SOLITÁRIO
 
 
 

VISTA  DA  SACADA





 ENCONTRO   COM  A  POESIA
 
 
 
 


  NA TRILHA DA POESIA
 
   
 
 
 
TARDE EM IPANEMA

 
 
 
 

 
ROUPAS  NO  VARAL  EM CAMPO  DE GIRASSÓIS

domingo, 23 de setembro de 2012

ALGUÉM PRA FAZER BEM AO CORAÇÃO

   
 
 
 
 
No mundo de hoje, da tecnologia avançada, o amor está escasso. Escassas estão as delicadezas da conquista, os tímidos  olhares furtivos, o suor frio à medida que se aproximavam, os pequenos poemas criados a partir de um sentimento intenso que ruborizava os apaixonados.
 
"...
Sempre é bom recordar quando se tem na vida
A lembrança feliz de uma cousa perdida
De uma emoção qualquer que nos causou surpresas
Recordar é a melhor de todas as tristezas
..."
 

    Nada se compara àquele amor de outrora! Um amor submisso à aquiescência dos pais da moça, à hora marcada para o retorno do passeio, tudo  como mandava o figurino, dizia-se.
    Hoje nem entendo bem o processo. Primeiro, é o tal do 'ficar', que, pelo que percebo na linguagem chula e empobrecida dos jovens de agora, é o 'rala e rola' , preliminares da relação sexual; sim, porque já no 'namoro' ela acontece. Assim, pa-pum!... Tudo rápido, de acordo com a volúpia instalada no seio da sociedade atual.
    Dia desses, liguei a tv e deparei-me com as mulheres-fruta, com uns quadris desproporcionais, entupidos de silicone...Eca!... Aliás, peitos e quadris, pra não dizer bundas. Pareciam uns monstrengos. Deformadas. E os homens enlouquecidos, apreciando o rebolar intenso e escabroso daquelas criaturas, que se esmeravam num contorcionismo indecente.
   Quando jovem, bonita, eu me envergonhava dos quadris. Achava-os volumosos e procurava escondê-los em blusas fartas e compridas.
    E eu me pergunto o que é que está acontecendo?
   Os jovens de agora casam-se depressa, descasam-se mais depressa ainda, todos transtornados pelo desejo exacerbado. Instigados por uma atração febril, pelo instinto bestial.
    Sinto um pouco de tristeza quanto aos jovens que sofrem este tipo de sugestão e não despertam, ou demoram a despertar para os valores da vida. Da vida aconchegante num lar_ ninho de acolhimento, de esperanças e de amor.
    Nada se compara à atração induzida pelo amor, ao desejo de compartilhar a vida com alguém que nos faça bem ao coração; de alguém doce e delicado de sentimento; de alguém que  acrescente  alegria à nossa existência.
    Às vezes, na caminhada da vida, deixamos que se perca um amor de verdade,  permitimos que se afrouxem os laços  de um bem-querer; mas, talvez ele retorne mais vivo do que nunca , numa demonstração de afeto insuperável e definitiva. Talvez ele não tenha sucumbido; apenas cumprido sua sina  e voltado para o aconchego do coração amado. 
    Feliz de quem encontrou na vida alguém que lhe trouxe  a mensagem da felicidade. Alguém que sabe compartilhar, ouvir, falar, trocar. Alguém que sabe amar. 
 

    "...
Alguém que dá um raio de sol à nossa treva
E um sorriso feliz à nossa boca. "
 
 
 
ops! Os trechos dos poemas são de autoria de Olegário Mariano

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PRA QUE TRABAIÁ

 
Em versos revelo a alegria
Que mora no coração
Semeando Poesia
Transformo vida em canção.
 
 
    A tarde do 7 de setembro começou festiva. Afinal, dizermos e ouvirmos poesias alegra a alma; mesmo que seu conteúdo seja triste, nos faz pensar, refletir. Poesia é arte mágica!
    O ponto de encontro do Semeando Poesia  foi no Jardim Botânico mais uma vez; e aquele verdor puro e fresco, aqueles cantares que vêm das copas, aquele brilho do sol da tarde como uma carícia, aqueles aromas indecifráveis e até mesmo o alarido das crianças que corriam pelas alamedas nos enchiam a alma de contentamento.
    A exposição de orquídeas fez o Jardim lotar de visitantes. Fila para entrar, fila para usar o banheiro, fila para o cafezinho. Mas tudo transcorreu muito bem.
 
 

    Dissemos os nossos próprios poemas e de muitos outros autores. Fomos brindados com pérolas de escritores desconhecidos, além, claro, dos nossos próprios poemas e de poetas já consagrados.
 
O JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO
                                                   (Sylvia Mercadante)
 
Amo estas árvores que sempre me acolheram
Amo os pássaros que me revelam seus cantos felizes
Amo estes caminhos que descortinam belezas indecifráveis
Estas folhagens sombreadas e pacíficas
As flores numerosas e os perfumes dispersos
Eu amo as borboletas que me indicam rotas
Amo estes contrastes de miudezas coloridas
E da imponência dirigida aos céus...
 
Eu amo os inesperados encontros com os animais:
o esquilo atravessando a alameda como pluma...
a família dos macacos a quebrar coquinhos, à sombra do bambuzal...
as carpas ociosas a ondularem as águas quietas do lago...
 
Eu amo todo este cenário natural
Que se manifesta
Para a alegria do espírito.
 
 
    O mestre Alberto Caeiro,o poeta da natureza, um dos heterônimos do genial Fernando Pessoa, ali esteve presente, nos oferecendo belíssimos pensamentos acerca da natureza.  
   A poesia da China, fundamental na sua educação, foi bem representada. Três poetas revelei para o grupo e nos deliciamos com os seus textos sucintos e cheios de sabedoria.
   Dentre outros,  Olegário Mariano, o poeta das cigarras, também compareceu e a sua participação foi inesquecível. Suas composições musicadas como música autêntica brasileira, de raiz, caipira, foram admiradas e chegamos até a cantar De Papo Pro Á:
 
Não quero outra vida
Pescando no rio de Gereré
Tem peixe bom
Tem siri patola
De dá com o pé
 
Quando no terreiro
Faz noite de luá
E vem a saudade
Me atormentá
Eu me vingo dela
Tocando viola
De papo pro á...
 
Se compro na feira
Feijão, rapadura,
Pra que trabaiá
Eu gosto do rancho
E o homem não deve
Se amofiná...




      
       E é na voz de Alberto Caeiro que termino este texto:
"...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo e amo-a por isso
..."
 
 

 
 
 





sábado, 1 de setembro de 2012

DE CHAPÉU DE ABAS LARGAS

    Ela estava ali naquela manhã, sozinha, sentada num banco do Jardim, na curva delicada do caminho, no cenário todo verde. Verdor  às costas, dos lados, à frente. Tudo verde. Um verde que cintilava, sob os raios do tíbio sol de inverno, caindo sobre os milhares e milhares de folhas. Tudo ali recendia ar puro, frescura, aromas adocicados, aquietamento, paz.
    Aquela figura sossegada era como uma grande ave que pousara para descansar. Muito clara, de cabelos brancos, vestia um conjunto branco, usava  calçados também brancos e um chapéu da mesma cor, de  abas muito largas. Uma anciã harmonizada com aquele lugar .
    Silenciosa e de aparência calma, chamou-me a atenção pela singularidade. Veio pelo caminho, devagar e sentou-se. Diáfana, a luz percorreu-lhe por instantes a fina silhueta. Deitou os braços ao colo, suavemente e, estática, assim passou a compor um belo e enigmático quadro.
    A cena bucólica inspirou-me. Soltei a mochila das costas vagarosamente e tentei, sem ruído, abrir seu zíper para retirar  a máquina fotográfica. "Ah! pensei, talvez esta cena  seja a origem de uma pintura em tela..."
    Aproximei-me, sem pressa. Percebi seu olhar vivo, perspicaz. Enchi-me de coragem e disse-lhe:
    _Bom dia! Poderia tirar uma foto sua? Fique tranquila, seu rosto não aparecerá. Será uma foto de perfil.
    Ela olhou-me de soslaio e, com um ar de mistério, com um sorrisinho nos lábios finos,  retrucou-me e sua voz soou como um sopro cadente:
    _ Para quê?
    Tentei ainda persuadi-la de que valeria a pena para mim ter aquela bela imagem comigo. Ela me olhava, desconcertando-me, com um ar de descrédito. Com docilidade para não assustá-la, falei sobre a crueldade do mundo, os interesses pouco românticos que afligem a humanidade. Ela concordou  meneando a cabeça pequenina. E continuei, dizendo-lhe que eu gostava de clicar as coisas bonitas, que me faziam bem à alma , aos olhos, ao coração; imagens que refletissem alguma beleza espiritualizada. Mas ela foi dura como um tronco de uma velha árvore, seca, rugosa, que já passou por muitas tempestades e a elas todas sobreviveu.
    Compreendi, então, que não adiantariam nem o meu sorriso, nem a minha fala amorosa e o meu discurso sentimental. Ela já tinha decidido e pronto.
    Um "_ Bom dia!" amável e continuei o meu caminho, agora atrás de um jacupemba que voara com seu porte grande e pesado para a árvore próxima, apoiando-se num galho, para descansar. E essa, eu consegui fotografar.
 
    Veja mais em:www: flickr.com/photos/smercadante

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

PRA COMEÇAR BEM O DIA

    Pra começar bem o dia, precisamos manter um bom astral, aquele que nos permite ver o lado bom das coisas e dos fatos. Pra começar bem o dia, precisamos resolver umas querelas íntimas, dissolver antigas rusgas e despachar o sofrimento. Pra começar bem o nosso dia, precisamos, antes de tudo, aceitar a vida.
    Ao levantar, façamos de imediato um contato especial conosco mesmo; ao invés de ouvir as notícias ruins que a mídia impõe aos nossos pobres ouvidos atordoados, ouçamos o nosso próprio coração. Nele, identificaremos a satisfação e a alegria de viver. A doce alegria.
   Nesse momento, já alcançamos um novo estado e, se pudermos, mergulhemos em nós. Saiamos da mesmice, dos velhos pensamentos, melhorando a nossa vibração. Procurando enxergar a bondade, a saúde, a possibilidade, nos manteremos em contato com a esperança.
    Façamos a primeira refeição do dia em quietude; o silêncio é algo tão construtivo , algo que nos manterá na mais absoluta postura do amor. É um clarão interior. Ouvir o silêncio nos fará mais receptivos ao outro. E isto pode ser aprendido.
    A vida é um longo aprendizado. A cada momento, se quisermos, haverá uma lição a nos esperar. Algo a aprender, a ser adquirido. Estamos muito envolvidos com situações aflitivas, encargos demasiados que se afrouxarão mediante a atenção que lhes dermos. Quanto mais a consciência se esclarece, mais ela cresce, se liberta. E com a consciência libertada, mais se compreende e vamos nos tornando mais dóceis, mais justos porque equilibrados.
    Tudo pode ser modificado. Qualquer situação aflitiva tornar-se-á menos aflitiva se aprendermos e colocarmos em prática as lições dos Mestres. Mas, às vezes, parece que tudo é meio superficial, meio clandestino,  dá-se muito valor ao que é mais fácil de ser adquirido, desenvolvemos reações e atitudes nefastas a nós mesmos. Sim, porque quando julgamos , quando nos aproximamos de alguém com curiosidade mórbida, quando  vidas são esfaceladas por ações hostis, quando acolhemos no coração ressentimentos e desconfianças, quando a intriga é promovida, quando nos rebelamos às coisas que nos acontecem contrárias à nossa vontade prepotente, estamos muito afastados da verdadeira vida.
    A vida pode ser maravilhosa! E ao começarmos o dia, se nos devotarmos a ele com total prioridade aos bons sentimentos,à cordialidade sincera, ao contato com a natureza, a uma caminhada_mesmo que seja dando voltas no quarteirão, desejando manter o coração limpo de toda espécie de veneno que interfira no bom viver, então, não haverá dúvidas! Seremos felizes! Encontraremos aquela luzinha fermentada no nosso interior e deixaremos ela aparecer, num sorriso, num abraço, na luz do olhar.
    Sem isso, perde-se o viço, a carranca ganha espaço no nosso semblante, o olhar fica apagado e a vida passa debilitada...
    Em cada situação do nosso dia, em  cada momento, cada atividade seja feita com esmero, não permitindo que a inércia gere o desconforto mental . Esta nova  atitude nos manterá fortes o suficiente para encararmos a tristeza das perdas, a aflição da doença, para encararmos de frente as voltas que a vida dá.
    Entusiasmo significa Deus em você; sentir isto é mais do que pensar nisto. Sentir a alegria de viver, sem comparar a sua vida com a do outro, sem medir esforços íntimos para conquistar  a plenitude. Ela só se fará com o nosso esforço de cada dia. Não adiantarão a religião sem esta limpeza íntima diária,  o dinheiro sem a sabedoria para usufruir ,  a saúde se não tivermos entendimento para viver a vida.
    Pra começar bem o dia, compartilho com vocês as minhas íntimas motivações e os meus próprios desejos. Bom dia!...
 


  

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

MAS... O QUE É ISSO?...

 

   O que é o ressentimento? Elaboro aqui pensamentos para tentar entender este sentimento avassalador, apesar de frio e recôndito no coração. É lá que ele se instala, sorrateiramente, originando doenças e melancolia. Uma grande nuvem escura sempre presente no coração. Este nefasto e profundo sentimento interfere no estado da saúde do corpo e na do espírito.
    Penso até que é uma '' do sentimento, um passo atrás do bom sentir, um stop momentâneo na caminhada da evolução, que é natural a toda a humanidade. E como disse o Mestre Paramahansa Yogananda: " Todas as pessoas do mundo estão no caminho espiritual", pois ao longo da vida, as experiências  nos levam ao autoconhecimento, às revelações e à suprema conquista da espiritualização.
    E por que uns vão mais à frente, enquanto outros  devagar e outros, ainda, nesta existência não conseguem chegar a um ponto de equilíbrio, felicidade e paz?
    Cada um tem sua individualidade; nuns, a consciência já despertou; noutros, ela  ainda está adormecida. Basicamente, é isso. E com a consciência desperta já é um bom começo. A criatura aos poucos se desvincula da poeira de ilusão que encobre a verdade da vida. Identifica e se desinteressa pelas futilidades, pelos afagos ao ego; desconecta-se naturalmente dos maus sentires, da inveja, da raiva, da intolerância.
    Porém, há os sentimentos muito arraigados que somente com a prática constante da meditação consegue desvencilhar-se, permitindo que emerja seu puro , seu cristalino coração, tal como foi concebido, criado. Por meio desta prática descobre-se 'um paraíso portátil no coração'. É uma prática definitiva. Age profundamente.  Num belo dia, inadvertidamente, ocorrerá  uma explosão de Amor que permanecerá em si.
    Ao invés do esforço a limpar algo esfregando cansativamente,  mais prático e eficiente será  deixar  simplesmente a água límpida banhar aquilo que está sujo. Ao invés de lutar contra algum sentimento ruim que, revelado, possa ser motivo de perturbação, contemplemos a Natureza, façamos desta atitude uma prática metódica; procuremos nela tudo o que nos transmita lucidez e paz, alegria sã e felicidade. Qualquer coisa pode ser transformada.
    Quando menos esperarmos seremos felizes, porque realizados no Amor. Todo homem contém o Amor em si. Toda árvore , toda montanha, todo rio, todo mar também .  E Amor é calor. O Amor é quente, a indiferença é fria.
    Para ser livre da dor é preciso amar.  O ressentimento é destrutivo, causado por uma antiga submissão a um sofrimento; um comportamento íntimo, desfigurado, daquele que escolheu tornar-se 'vítima' e acusa permanentemente a um outro; assim,  mina a vitalidade desapercebidamente. A chave da cura é o Amor. Ele é o fluxo.  
   
   
   
   

sábado, 11 de agosto de 2012

SEU GASPAR

     Meu pai amava os seus pássaros; apesar de mantê-los engaiolados, sua simplicidade era tal que eu entendia a sua afeição sincera e aceitava a explicação dada por ele, justificando o aprisionamento : "_ Filha, esses passarinhos estão acostumados com gaiola, se soltar, eles morrem, não saberão procurar comida e ficarão à mercê dos predadores."
     E cuidava, e levava-os a passear a exibir o seu canto, orgulhoso. Azulões, canários-da-terra, canários-belga, curiós, coleiros e um pintassilgo que era a minha paixão. Até que um dia todos foram levados por alguém inconsequente. Choramos os dois, desolados!... Tivesse eu aberto as portas das gaiolas sentiria menos tristeza.
     Papai de certa maneira era ingênuo e mostrava os bichos a todos, em qualquer lugar, comentava seus dons excepcionais de canto e , então, aguçou algum ladrão, já que os pássaros valiam muito.  Para nós ficou um vazio enorme. A casa quieta, sem cantoria.
     A porta ficava sempre aberta, morávamos em uma vila e a nossa casa era a última; Um grupo de pássaros, certa vez, ficou voejando em círculos, à nossa porta e fazendo um alvoroço incrível! Chamei meu pai e, juntos, fomos ver o porquê. Papai tinha colocado uma gaiola para tomar aquele solzinho da manhã, bem no muro baixo que dividia os dois quintais. E um gato enorme preparava o bote certeiro! A avezinha se debatia nas grades, esbaforida.
     Papai retirou a gaiola dali e espantou o gato. Que inteligência a das aves. Perceberam o ataque e vieram pedir socorro.
     Lembro dele sempre sereno, amigo da Natureza, alegrinho, assobiando pela vila, conversando com os vizinhos. E sabia ser  gentil com os meus amigos também.
     Quando íamos a Sapucaia era uma alegria! Pescávamos no rio Paraíba do Sul, no meio das pedras, depois de pisarmos  naquela areia tão branca e tão fininha. E eu sempre trazia de souvenir as pequenas  pedras roliças do rio!... Tão bonitas!
     Eram momentos muito preciosos esses: nós dois, ali, juntos, papai me ensinando a silenciar para que o peixe se aproximasse. E pescávamos muitos peixes, principalmente lambaris.
    Apesar de sofrer as dores de uma doença incurável, ele se manteve firme e sereno até o último suspiro. Lembro-me de que  na enfermaria, logo no início, quando esteve internado, papai soube fazer amigos; todos gostavam dele, das suas conversas, do seu jeito fraterno. E quando eu ia visitá-lo, sempre me apresentava com tanto orgulho!... Ah, papai, eu tinha, tenho e terei sempre muito orgulho de você! Deixou-me lições sem ter a pretensão de deixá-las; inspira-me até hoje virtudes e tem o poder de me transmitir esperança e alegria mesmo em situações desconfortantes.        
     Sei que, de onde está, envia sua mais pura e doce energia, seu amor. E o amor, vindo desse coração magnânimo e feliz  serve-me como alento e luz indicando-me a direção certeira.
      Como papai amo os pássaros  e cultivo esse amor preservando a sua liberdade; amo o silêncio, preservo a alegria e aprendi que a amizade fortalece o coração.
     De onde está receberá, por certo, a gratidão desta filha reconhecida e que, a cada dia, procura exercitar-se no amar.
     __ Obrigada, pai!...



terça-feira, 31 de julho de 2012

PARLAMI D'AMORE

     O idioma italiano sempre me atraiu, seja nas canções, seja nos filmes. O cinema, o canto, seus artistas sempre me comoveram.
     Entrei, há um tempo atrás, numa lojinha de CDs e encontrei  Toquinho cantando em italiano! Uma raridade. Em seus arranjos de violão, a gente sonha... Composições de Toquinho, de Vinicius, de Paulinho da Viola, Baden Powell, dentre outros. Samba em Prelúdio, Se ele quisesse, Escravo da Alegria e por aí vai um desfile de bom gosto. Um popular requintado!...
     Quem não lembra de Dio come ti amo, Che Sarà, Per Amore, Amore Scusami, Parlami D'Amore, Mariù!...   O grande Andrea Bocelli me emociona com sua voz terna e, ao mesmo tempo, vigorosa. Aliás, os italianos têm essa característica: somos cativantes pela amorosidade e intensos na expressão. E aí eu me incluo, já que descendo de uma família italiana, pelo lado paterno.
     Meu avô Pedro era italiano e veio para o Brasil ainda criança. Levantava-se bem cedinho e ia cortar lenha para alimentar o fogão. Logo, logo pela chaminé, os rolos de  fumaça  subindo aos céus... Tempos de menina!... Férias com meus avós!...  A chácara, as árvores frutíferas, o pequeno canteiro onde vovó Ritinha, descendente de índios, plantava ervas medicinais. E me ensinava: "_ Minha netinha, eu mastigo a folha, ao invés de preparar chá..."
    O rio Paraíba do Sul, próximo, era refúgio meu e de papai para pescarmos! Vínhamos com a caçamba cheia de lambaris e entregávamos para mamãe ter trabalho. Pulávamos as pedras de variados tamanhos, no meio do rio, até acharmos uma maior,  na qual  ficávamos, quietinhos, à espera do peixe... Papai me ensinava o silêncio. Como era bom ter meu pai tão próximo, tão amigo.
    A casa era grande, de fazenda. Víamos o telhado e, à noite, os morcegos. Naquela época, tudo nos divertia. O lustre era um fio pedurado e, na extremidade, a lâmpada com o interruptor. Bem mais prático do que nos tempos atuais.
    O quarto onde eu ficava  era lindo, tinha uma penteadeira grande com tampo de mármore cor-de-rosa e um espelho enorme cuja moldura era toda trabalhada. Uma obra de arte!
    Na sala, os móveis todos tinham espelhos nas portas, do lado de fora.
    Janelões grandes, a madeira verde  emoldurava os vidros. A casa pintada de branco e, à frente e nos lados, os jardins, a horta, o pomar. A limeira irreverente se infiltrando no quarto de papai e mamãe, pela grande janela.
    No outro quarto, uma galinha acostumara-se a colocar ovos na cama. E vovó, pressurosa, preparava-os quentes no café da manhã. Um pequeno arbusto de folhas delicadas, ficava logo abaixo da janela deste quarto e eu achava tão romântico! Era o quarto de meus avós. Como se amavam! Muitas vezes tomavam banho juntos. Mamãe meneava a cabeça, num pequeno gesto de condenação, talvez porque achasse meio indecente já que eu era uma criança. Bobagem!... Eu achava lindo! Dois velhinhos apaixonados ainda, carinhosos que se banhavam juntinhos. Era demais. Eu via amor, naturalidade, simplicidade e beleza no gesto.
    Tantas lembranças... Hoje, simples gestos de amor, o silêncio nas pescarias, um riacho, limas-da-pérsia, goiabas suculentas, mangas-espada, passarinhos, arbustos delicados, doces  carambolas, tudo isso me lembra de Sapucaia.
     O jeito italiano do meu avô  que vivia cantarolando, feliz, que amava sem medidas , que sorvia o vinho tinto italiano à hora do almoço, que gostava da chácara e de lidar com a terra, que acordava cedinho para a lida  e também cedinho se recolhia, que estava sempre sorridente, de bem com a vida; também tinha seus momentos de reflexão e recolhimento _ era o jeito italiano de ser. Um jeito amigo, verdadeiro, alegre, amoroso, expansivo!
    No baú do coração guardo as lembranças mais belas dos tempos de menina ao lado dos meus avós  e das canções italianas sempre a falarem de amor, de paixão! Gente de sentimentos exacerbados, povo alegre, festivo, cantante...! Uma viagem no tempo que aguça o meu ideal romântico e faz retornar os sonhos da mocidade.