sábado, 6 de abril de 2013

VIDA CHOCHA

    O filme começou e eu já vi logo que não me agradaria; era modernoso demais. Pobre, com uma linguagem deficiente, cenas insípidas, nada causava emoção.
    Logo no começo, quando percebi a enrascada em que me metera, minha memória voltou-se para A Noviça Rebelde. Que graça, quanta arte neste filme envolvida! Que boa lembrança! Bons tempos.
    Até que a personagem principal entra no banheiro, limpa a maquiagem das pálpebras, limpa, limpa mais uma vez, vai jogando os papéis que usou no vaso sanitário...E  eu pensei: "E o vaso na Argentina não entope?... Agora só falta ela sentar-se e fazer as necessidades."
    Não faltou. Mais de uma vez a cena nada bucólica se fez presente. Além do vaso entupir.
    Até o namorado que arranjou no final era sem graça. Uma semgracisse só. De sentir piedade.
    Mas o que senti não foi pena; foi, antes, um tantinho de revolta por estar ali, sentada, junto a dezenas e dezenas de senhoras , na tarde de um sábado delicioso, de sol ameno, céu azulzíssimo, colorê!... Não. Era demais.
    O filme falava da solidão a começar pelo nome da moça: Soledad. Tudo tão óbvio e sem tempero.
    Mas com o decorrer da história até que fui me afeiçoando à personagem, tomando gosto por aquela sua vidinha  morna, chocha; ao final,  declara ao namorado que era assim mesmo emotiva(chorava por qualquer coisa, exacerbava o sentir) e chorava porque gostava, quando ela gostava, ela chorava, que  esta era a maneira de  expressar  o seu grande carinho; então foi aí que me identifiquei com ela e surpreendi-me com algumas lágrimas que teimavam em deslizar pelo meu rosto. Não podia ser. Afinal, a maquiagem que eu tinha feito nas pálpebras iria borrar e eu teria que ficar um tempão no banheiro limpando, limpando, limpando... 
 


quinta-feira, 4 de abril de 2013

ALBERTO NA CABECEIRA

    Escrevo porque me conforta; e quem é que não precisa de um certo conforto no seu dia a dia? Conforto que ameniza os desencontros, suaviza a rudeza de alguns momentos provocados pela vida, que vai passando, passando. E, às vezes, nem nos damos conta de como passa célere!
    Hoje é um daqueles dias em que a emoção parece ter-se instalado de vez. Preciso ouvir o doce canto de um pássaro, com urgência; enfeitar a casa com a pureza das flores, apreciar o seu  colorido  e sentir o perfume.
    Hoje, repito, é um daqueles dias em que preciso de um abraço, do carinho sincero de um amigo, olhos nos olhos, sorriso espontâneo desabrochando sorrisos.
    Viver a vida com prazer, deixar que a brisa embarace os cabelos, entrar no mar sem medos,enfeitar a mandala do coração com os mais belos e puros sentimentos. Fazer pelo menos uma criança sorrir, ou, quem sabe, um ancião acreditar ainda no ser humano.
    Viver o dia de hoje seguindo em frente, refletindo no agora e nas inúmeras possibilidades de ser feliz, fazendo a felicidade; procurar manter a esperança como chama na engrenagem da alma.
    E tendo na cabeceira a companhia do mestre Alberto Caeiro, destaco versos como quem destaca versículos bíblicos que alforriam a alma sedenta de luz e expansão:
 
"Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com o florir e ir correndo.
É essa a única missão no mundo,
Essa _ existir claramente,
E saber fazê-lo sem pensar nisso."