domingo, 15 de abril de 2018

UM PAR DE TÊNIS, POR FAVOR!...

     Ela só queria comprar um par de tênis, mas foi difícil a escolha. Não pela estética, nem pelo preço_ sabia que iria encontrar preços abusivos, mas pela variedade enorme dos modelos.
     Chegou mansa, encontrou uma vendedora disposta(fato raro nos dias de hoje. Geralmente apresentam-se com cara de tédio, nos miram de alto a baixo e, só então, nos dirigem a palavra...).
     Lembrou-se dos tempos idos do Colégio Pedro II. Fora lá que calçara seu primeiro par de tênis. Aqueles simples, de cor azul-marinho, solado reto e branco. Acho que eram chamados de  Alpargatas, ou coisa semelhante. Foi quando a atividade física começara no referido Colégio. Lá pelos anos sessenta.
     Usava-se como uniforme blusa de malha branca e um calção azul-marinho que, Deus nos acuda, era bufante, preso às coxas por um elástico e feio, muito feio. As pernas magricelas das meninas adolescentes ficavam mais evidentes e provocavam um  alvoroço! Aquilo era uma grande novidade, quase uma revolução dos costumes!
     A cada ano, reparem,  há mais modelos. Tênis não se compram a toda hora... Pois criam cada vez mais  com características diferentes.
     Um tem proteção de gel no calcanhar, outro, a proteção vai além, estendendo-se por toda a base do pé. Noutro, é garantida a durabilidade e assim vai... beleza, conforto, segurança para calcanhares, para joelhos e, pasmem, para a coluna lombar. Para todos os gostos, apresenta-se uma variedade enorme de cores e materiais.
     Ela só queria um par de tênis! Ingênua, insistia no modelo mais bonito esteticamente, branco e preto, mas a vendedora habilmente socorreu-a: " Por mais cinquenta reais a senhora levaria um bem melhor, que dá segurança ao pisar! Na realidade, seu preço é de X reais, porém, na promoção de hoje cai para Y reais!"
     Depois de exaustivamente caminhar na pista de corrida da loja ,com um pé de cada par, para decidir qual  o mais confortável, sempre sob o olhar atento da funcionária, minha amiga ainda tentou resolver a equação:

                                             Y
                  ______________________= conforto supremo
    
                        máximo de prestações
      Achou a solução. Compra efetuada, partiu para um cafezinho a fim de relaxar, mesmo tendo a certeza de que acabou de programar a sua insônia para aquela noite. 
     A propósito, depois da compra efetuada, pede-se ao cliente que elogie a comerciária(antigamente esta era a profissão), no site da loja. Tudo tem um propósito, não nos iludamos.      

domingo, 8 de abril de 2018

BOA FAXINA!...

     Mesmo sem chuva, como faz bem arrumar gavetas! Porque dia de chuva é que é dia bom de arrumar gavetas...
     Foram para o cesto do lixo as caixinhas vazias de sabonete que servem para aromatizar, os papéis delicados e floridos que forravam o fundo delas, algumas peças em desuso. Enfim, esta será uma tarefa que levará alguns dias. E pressa pra quê?
     Um dos lenços de seda teve um destino certo: foi para uma loja de moda feminina que os recolhe e os distribui para mulheres que perdem os cabelos em tratamentos difíceis. 
     Toda mulher gosta de renovar suas roupas,  suas tralhas, principalmente em mudança de estação... É preciso arejar os armários.  Trocar os lugares, organizar de modo diferente! É revitalizante.
     E, junto a esta atitude saudável, é bom aproveitar para retirar da mente pensamentos antigos que já mais não servem, atulhando e atrapalhando a criatividade, que precisa de um campo limpo e ventilado para brotar viçosa.
  Um jovem monge  nos aconselha a que mantenhamos tudo limpo e perfeitamente em ordem ao nosso redor, no ambiente em que vivemos. Encontrei o livro assim, por acaso, logo que entrei na livraria. Bati os olhos , peguei o exemplar , acomodei-me numa  poltrona de veludo e me deliciei com a leitura.
     E como "um dos discípulos de Buda encontrou o nirvana varrendo"... amigas/amigos, se puderem, encarem esta tarefa com serenidade e alegria!Então, tudo o mais, deduzimos que seja benéfico para o espírito.
     Chega uma etapa da vida que os interesses materiais diminuem. Vejam só: semana passada entrei no cinema disposta a ver um filme(francês)que achei que fosse legal. Bons artistas(Juliette Binoche e Gérard Depardieu, entre outros) e um título otimista: Deixe o sol entrar!
    Já na fila, no entanto, a senhorinha à nossa frente avisou--me, com ar de sabe-tudo: "Não vá assistir este filme! " E apontou para o cartaz ao lado. Retruquei então que A Livraria eu já tinha visto e os outros filmes passavam em sessões à noite e que isto não nos convinha.
     Fez uma careta e meneou a cabeça grisalha , de um lado para o outro. Estava ali para comprar seu ingresso para o dia seguinte . Nunca dá certo comigo. Quando me antecipo, as coisas nunca saem como imagino...
     Comprei minha pipoca salgada e entrei confiante. Enrolei-me na echarpe que sempre trago comigo(estas salas são muito frias!), peguei os óculos e me senti confortável.
     Mas a senhora tinha razão. O filme é de uma pobreza só. Depardieu faz papel de um vidente no final e acho tudo muito bobo. A personagem principal é de uma tolice que dá dó. Enfim, mais uma história sem graça, desprovida de riqueza, de pensamento, de componentes que verdadeiramente nos atraiam e prendam a nossa atenção. Desperdício de talentos.
   Sem perder o fio da meada, apostemos em  atividades que enriqueçam o espírito. Não há outra saída!  A vida corre como um sopro...
     Boa distração, atividade intelectual, boa leitura, música e limpeza, muita limpeza! Cada uma tem o seu significado. Se for feita com esmero e boa vontade conquistaremos qualidades imprescindíveis ao equilíbrio e à alegria, afirma a sabedoria oriental. 
     Roupa suja acumulada? Panela do almoço ainda na pia? Livre-se do desassossego e da fraqueza de espírito. Lave. Limpe. Mas todo o trabalho realizado com consciência e naturalidade.
    'Bora começar agora?
 
    
    
    
    
    
    
    
    

quarta-feira, 4 de abril de 2018

A MESMA DESCONCERTANTE PUREZA DAS CRIANÇAS

    Ultimamente, de vez em vez, tenho me lembrado das palavras do sensível Raul de Leoni, em seu poema  Árvore de Natal_
" ...
Eu tenho tanta pena das crianças!
Elas são todo o mundo a começar de novo
Para as mesmas incertas caminhadas,
Para o mistério das encruzilhadas;
São toda a Humanidade que renasce,
Ingênua, simples e maravilhada,
Como a primeira vez que apareceu.
..."
     São versos que tocam o nosso coração. Poema bom é o que nos abala, o que sacode as fibras mais íntimas da alma. O resto... bem, o resto é distração.
     Como disse, tenho pensado nisto insistentemente. As mesmas expectativas, a mesma pureza... mas o mundo cada vez mais cruel. E observando os animais, vemos que eles tentam se adaptar/ fugir/dar a volta a toda essa estranheza.
     Vejam só: até os pássaros estão mudando seu comportamento em função das transformações do mundo que nos cerca, causadas por nós!...
     Animais têm seu modo de viver instintivo,  constante, já vem gravado neles; no entanto, alguns têm transformado seus hábitos.
     Algumas espécies de aves foram extintas; outras estão quase extintas. Ainda bem que a Ciência torna-se a grande aliada para impedirmos estragos maiores, com seus estudos e conclusões e apontamentos de possibilidades de ações que impeçam o caos total.
     A ciência nos adverte, dentre outros fatos, de que, por exemplo, cantos de pássaros  se modificam à medida de que algumas espécies estão ameaçadas de extinção(aves que entoavam doze sequencias musicais, agora, com a população reduzida, cantam três ou quatro, pois não têm mais o número suficiente de companheiros para imitar_ "tutores") .
     Outras aves, em virtude do fato de que o ambiente urbano, com o barulho tremendamente  nocivo e antinatural    as perturbam, tentam se adaptar, usando artifícios na vocalização. A poluição sonora também agride e muito o meio ambiente .
     Imaginem o que nos causam então todo este estresse , esta vida estranha e falsa que enfrentamos no dia a dia. O que faz conosco, com o nosso corpo, a nossa mente, a nossa alma?
     Como saída, podemos escolher entre caminhar com atenção plena(mindfulness), mergulhar na meditação, entrar no mundo das Artes, viajar  e  tantas outras dicas apontadas por muitos. Achamos então que assim escapulimos da fadiga.
     Mero engano! Apenas vislumbramos, num relance, uma faísca da beleza ungida pela paz, o que  confere um certo esmaecimento da balbúrdia interna e, muitas vezes, nem percebemos que ela permanece aninhada nos recantos sombrios da alma.
     Por fim, calcada no poeta mencionado, rendo-me e ,perfeitamente solidária,  me apiedo da humanidade "Semeando alegrias e esperanças", semeando poesias... 
   
 
     



domingo, 1 de abril de 2018

TALVEZ SEJA UM ANJO

      Diz Quintana num dos seus comentários(ele é quase um filósofo!) que " O que os santos têm de mais sagrado são os pés. Por isso os antigos fiéis lhos beijavam..."
     Lembrei desta passagem ao ver , hoje, na praia, um meninote dos seus doze anos com os pés e pernas atrofiados. Usava uma prótese que lhe foi retirada para poder molhar-se, à vontade, nas águas convidativas do mar de Copacabana.

     Hoje, domingo da Páscoa e Dia da Mentira; no entanto, condoí-me_ em princípio,  tanto do garoto que resolvi escrever sobre o que vi e pensar  um pouco. Pensar falando... não. Pensar escrevendo... Penar junto com o leitor... ou não! Vamos saber!...
     De feições bonitas, um rosto bem talhado, olhos claros e expressivos, nariz bem feito, boca bem desenhada, cabelos loiros e finos. Tronco e braços torneados. Chegou  com o pai, a mãe e a irmã que  o acomodaram numa cadeira, à sombra da larga barraca. A mãe descansou noutra cadeira e a menina, que parecia ter cerca de dez anos, deitou-se sobre a canga colorida. O pai, como um nobre sentinela, manteve-se de pé, braços em cruz, olhar atento à volta. Ficaram ao meu lado.
     Conversavam baixo. O menino calado e sério. Lá pelas tantas o pai convidou o filho a ir até à beira. O menino com a ajuda deles, foi conduzido até o encontro com o mar que, particularmente hoje, estava incrível! Águas limpas e fartas em cada onda que se esparramava na areia macia.
     Alegrei-me com a alegria deles, com a cumplicidade estampada em seus rostos , palavras e gestos gentis. Ah, é bom ver esse lado da humanidade. A fraternidade, o auxílio mútuo, a confraternização, o bem-querer.     Que importavam os pés, se aquela família reunida dava-lhe asas?
     E só então reparei no seu sorriso, lindo, como o desabrochar de uma flor .