terça-feira, 25 de julho de 2017

NO JARDIM DA VIDA









  As amizades são flores no jardim da existência.

   A vida caminha... ritmada, constante e rápida como um sonho. Se quisermos, poderemos adquirir novas virtudes, anular defeitos, fortalecer , quem sabe, algumas qualidades que já ornamentam o nosso espírito.
     Agora, tenho tido mais tempo para estudar, ler e  me dedicar à reflexão. E, naturalmente, analiso as amizades, principalmente as que nos acompanham ao longo do tempo. Afinal, as amizades se constituem nos alicerces da vida. Surpreendo-me então, pela   possível ruptura da sintonia fina que antes nos prendia aos suaves laços do companheirismo.
       Entristeço-me, pois não sei o que fazer ante àquela  conversa insípida e sem graça. Ouço, ouço e percebo que o que temos em comum é pouco para rechear as nossas conversas... 
      Umas vivem em perene depressão __  a doença do século; outras, estabelecem uma ligação forte com o desânimo e a descrença;  Mais outras estão decididamente propensas a discorrer, em suas falas intermináveis, sobre os mínimos detalhes das doenças algozes e algumas, que ainda conservam um mínimo de alegria,      vivem às pressas, fruto de um ambiente estressante.
     Constato estupefata que aquele tempo de conversas tranquilas,  de entendimento, de ajuda mútua, de momentos de confidências  partilhadas perdeu-se...
     Ah! Se nos renovássemos a cada dia!... Se pudéssemos manter a chama da curiosidade ante à vida!...
   Resgataríamos nossos encontros e as nossas atitudes  seriam gentis, elegantes, as conversas animadoras, estimulantes! Retornariam as visitinhas simpáticas e alegres regadas a lanches saborosos e todo aquele frescor de antes tornar-se-ia ainda  mais aconchegante, mais amigo. Seria uma amizade madura, consistente e doce como o bom fruto da árvore da vida.
  Mas percebo que este  desejo é o meu.  Fora ceifado dos outros corações, distraídos pelos atropelos da vida que segue, pelos hábitos, pela enfadonha rotina que nos tolda o pensar criativo e feliz.
     Compactuam com a tristeza, com a melancolia, com a negatividade que se alastra a mãos cheias, com a violência, pois, à medida que vasculhamos estes assuntos, caímos na  sua malha terrível da insanidade.
      O tempo passou ... passa... e o que vejo__ com raras  exceções, são o desmantelo mental , a vontade frouxa e o encarceramento em ideias de medo.
     E fico a cismar se haveria alguma maneira para tentar recuperar aquele fulgor  das tão valiosas companhias de outrora.
    
    

terça-feira, 18 de julho de 2017

UM ANJO NO METRÔ

" Esta menina 
tão pequenina
quer ser bailarina.
..."
(Cecília Meireles)    

 Entrei no último vagão do metrô. Era cedo ainda e voltava para casa, depois de um exame de rotina.
     Tentei agarrar uma daquelas argolas acima e agarrar até que consegui... mas o difícil foi  sentir-me segura! Conforme o trem andava, as argolas acompanhavam o movimento pra frente, pra trás, para os lados.  E o meu corpo bamboleava...Haja equilíbrio!
     Uma jovem, do outro lado, talvez percebendo a minha dificuldade, chamou-me para sentar tocando o meu ombro. Mas, rápido como um vendaval  de verão, um homem apoderou-se do assento. E quem se atreveria a reclamar? Era alto, espadaúdo e mal encarado o grandalhão. A moça, meio sem graça, perdeu o seu lugar e deixou de fazer a boa ação do dia. Mas valeu a intenção...
     Conformei-me. Do meu lado direito, um casal cheio de salamaleques... e ao esquerdo, uma mulher de maus bofes, com sacolas aparentemente pesadas,  que lhe causavam provavelmente algum mal estar. 
     Mas... olho para o chão, para aquele cantinho ao lado da porta e vejo um anjo! Uma menininha dos seus oito, nove anos, sorrindo para mim. Isto é de causar espanto!
      Sorriu... sorriu... e disse num gesto pequenino: " Violino!" Apontando enviesado e encostando sua mãozinha delicada num dos ouvidos.
     Prestei atenção. Ah! Sim, agora ouço. Um som de violino incrível, suave, doce, melancólico. Tentei achar o músico de tanta finura ,esgueirando o meu corpo , abaixando-me um tanto até que o meu olhar pôde percebê-lo.
       Voltei o meu olhar para a garotinha que estava ali, entusiasmada com a música. Prontamente ela retribuiu  sorrindo e disse-me, cativante: " Eu já estudei violino!" Não estuda mais?" Perguntei-lhe, encantada. " Não", disse-me ela, " agora faço dança clássica!" e seus  negros olhinhos amendoados apertaram-se de tanta felicidade.
     Eu nessa etapa já me encontrava abaixada também, cheia de ternura. Queria prolongar ao máximo aquele encontro benfazejo.
     Notei que seus dedinhos ágeis vasculhavam o pequeno celular  e, assim que encontrou o que buscava, mostrou-me, sorridente a foto: "Veja, sou eu!"
     Num salto espetacular, como uma ave em pleno voo, ela ali estava. Estudava ballet. E nisso sua alma brilhava. Brilhava tanto que nos comovia.
     Imagem da dedicação na Arte, da pureza e da esperança.      Sua avó a acompanhava e pude perceber a simplicidade e o amor das duas.
     A Arte nos salva, nos eleva, direciona o nosso viver a uma outra dimensão.
     Aquariana, de sete de fevereiro , disse-me ela. Signo dos inquietos, dos que se comunicam facilmente, dos que estão prontos para abraçar a Dança, a Música, as Letras, a Beleza... Signo dos artistas, dos idealistas, dos que sonham com um mundo melhor.
     Ela tem as armas para conquistar vitórias: amor , alegria pura, vontade e ação determinada. Bravo!...
 
    

sexta-feira, 14 de julho de 2017

DECISÃO

     Preciso adquirir um novo mouse; este está renitente e preguiçoso. Meu ombro direito dói, pela pressão que faço, todas as vezes em que digito.
     Mas como escrever , pra mim, é um prazer , continuo a digitar incansavelmente. Indiferente fiquei ao longo da vida pra comprar coisas. De modo que vou levando e faço de conta que está tudo normal. Uma massagem leve com gel de arnica aliviará o incômodo , acredito.
     O noticiário na TV tornou-se insuportável, pois nos sentimos impotentes ante a árdua arte de viver. E viver não é simples? Nos tempos atuais, não!
     Dia desses acordei cedinho e fui ver o mar palpitante com seu vai-e-vem perfumado. Detive-me a apreciá-lo. Imaginei-me a mergulhar em seu frescor mesmo com a temperatura de 17 graus! Frio exagerado para um/uma carioca é incompreensível. Não sabemos nos vestir, nos agasalhar adequadamente. Ah! Saudades da rasteirinha, da bermuda e camiseta, dobradinha incomparável nos dias abrasados e do boné estiloso, marcado com a figura da tartaruga do Projeto TAMAR.
     Voltei tranquila, com aquela paz  no coração que adquirimos depois de estarmos conectados com a natureza.
     Dei um pulinho no mercado e, quando retornava, um tiroteio aconteceu. Senhoras e crianças e jovens e motoristas atordoaram-se. Eu olhava e parecia que andava em câmera lenta. Aparvalhada, olhava o corre-corre.
     Custei a acelerar o passo... Custei a acreditar... Parecia um pesadelo. Cheguei arfando , mais pelo susto do que pelo andar rápido.
     Então, decido a cada vez mais  envolver-me em literatura, na arte da escrita, em aquarelas e tintas e pincéis e em tudo o mais que me apazigua, em tudo o que me transmita paz e harmonia, em tudo o que me faz conectar com o que é belo e puro e pacífico.

     Afinal, precisamos fazer alguma coisa para combatermos a violência que se alastra, a ignorância que tenta nos oprimir . Portanto,  que esta coisa seja benéfica para nós.
     Lidar com a arte, concentrarmo-nos no que é bom e justo , no que é belo nos desvincula do mal, do pessimismo e da desesperança.
     Apoie esta ideia!...
 

      "Depois das trevas, depois do mundo perdido,
...
Depois do deserto. do tédio, do coração ferido,
Aleluia, aleluia!
..."
( Frederico Schmidt)