Incrível aquele jardim que mamãe tratava com tanto amor. Tínhamos até um pequeno flamboyant que, apoiado no muro, esbanjava beleza com a fartura de rosadas flores!
O que dizer da dama-da noite que muito me impressionava pelo perfume que só vinha... à noite? Aquilo era mágico! Ainda menina, sentava-me no banco verde de madeira e, em silêncio deixava-me encantar.
O banco era um adorno importante neste contexto de sonhos. Pés trabalhados em ferro e , unindo o encosto ao assento, ferro retorcido em desenhos bem elaborados. Era um primor!
O banco era um adorno importante neste contexto de sonhos. Pés trabalhados em ferro e , unindo o encosto ao assento, ferro retorcido em desenhos bem elaborados. Era um primor!
Em noites plenas de luar, o céu rico de estrelas , eu estendia o olhar para o outro lado do rio e lá estava a silhueta de um pé de jabuticabas! O rio passava pelos fundos da nossa casa, que era a última, de uma bucólica vila da Rua Leopoldo.
Eu ficava ali, sonhando acordada, absorvendo o perfume fresco da dama-da-noite , naquele cenário magistral.
Pela manhã, os sapotis maduros esparramados no chão, caídos da grande árvore vizinha, habitada por diferentes pássaros e por morcegos assustadores.
Era um jardim diferente. Folhagens enormes serpenteavam os muros, mimosos buquês-de-noiva contrastavam com as trombetas cor-de-rosa que anunciavam sempre a alegria dos aromas... Havia um arbusto ornado de cachos com flores roxas; jasmins de várias qualidades nos embeveciam pelas cheirosas flores delicadas.
Eu apreciava muito os manacás. De cor lilá que mudava , lentamente, para a branca, quando a morte se avizinhava ! E suas flores desmaiavam, uma a uma, sobre a terra úmida, ornando à volta do pequeno arbusto. Até hoje, quando os encontro em outros jardins, minha memória voa e me faz retornar à casa paterna, onde passei a infância e a juventude.
Quantas doces recordações! Vivíamos num paraíso, portas abertas, cantos de aves, fartura de flores e frutos.
Mamãe ainda, cuidadosamente, colocava uma pequena bacia com água fresca no chão para atrair as aves. E elas compareciam. E que prazer o banho com estardalhaço, logo cedinho, pela manhã! Cenário que ficou na lembrança, fazendo-me sorrir sempre que retorno a ele.
Dia desses, meu coração afligiu-se. À frente do prédio onde moro agora, há um pequenino jardim, porém tratado com capricho. Algumas plantas rasteiras, pequenos tufos aqui e ali, outras com espinhos, mas sempre floridas e o arbusto que nos dava orgulho: um pé de trombetas!
Mas o novo vizinho do primeiro andar, cuja janela fica bem atrás deste cantinho , mandou o porteiro cortá-lo fora, sem compaixão. Condomínio sem leis! Mataram a beleza da entrada do nosso prédio! Não há mais perfumes. Somente algumas espécies inexpressivas resistem.
O homem insensível, insensato, por certo, agora aprecia a rua, o trânsito, as pessoas, os assaltantes... E todos, moradores ou não, podemos perceber, neste pequeno terreno sem graça, plantas minguadas e tristes, tristes como nós.