segunda-feira, 14 de maio de 2018

VAMOS PASSEAR NA PRAÇA?

     " A praça está silenciosa; ali se
repousa a manhã.
..."
( F. Nietzsche)
     Pois então... votei nele, no candidato à prefeitura, em tempos idos, porque prometeu, veementemente, dentre outras coisas, cuidar das praças do Rio de Janeiro. Que faria de cada uma um lugar aprazível e seguro para as famílias se beneficiarem. Votei nele, votei em César Maia.
     Da mesma maneira da atual prefeitura que, em  discursos de voz mansa e gestual aparentemente conciliador, prometia cuidar das pessoas...
     São os velhos hábitos da fala corriqueira dos políticos(politiqueiros?) que insistem em manobrar os incautos cidadãos com promessas que não sabem e/ou não podem /ou não se empenham em cumprir. Pelo menos é o que parece acontecer e desde sempre.
     Mas o que gostaria de derramar em palavras hoje é a minha indignação, sobre o que vimos pela manhã: Uma praça devastada. Uma praça que tem tudo para ser linda, tanto pelos jardins , quanto pelas esculturas que abriga. Uma praça que pedia para ser admirada!...
 
        Vejam só: lá existe uma obra de arte que poderia ser apreciada e valorizada: o Chafariz das Saracuras ,  de 1795,  criada para decorar o antigo Convento da Ajuda,  na atual Cinelândia. Foi feita por um grande artista brasileiro_ Mestre Valentim!
      Trata-se de um obelisco sobre uma bacia de granito com quatro saracuras de bronze, de onde jorrava água.
PRAÇA GENERAL OSÓRIO
Secaram o lago...
Estancaram o chafariz...
Roubaram as recatadas saracuras de bronze.
 
Numa dessas manhãs estáticas
                      porque sem brisas,
O socó reverenciou o Mestre Valentim
Fazendo um pouso forçado à beira do tanque.
 
Neste pobre cenário,
Nenhum canto afinado
Nenhum grito abafado
                        Ou aflito.
Nada.
 
Apenas a própria praça...
(_Que desgraça!)
...desfalecida.
 
Sem grama, sem graça.
(Sylvia Mercadante)
     Já faz um bom tempo, quando, por volta das sete horas da manhã, ao atravessar a Praça General Osório, vi, no pequeno lago do chafariz, um socó-dorminhoco(Nycticorax nycticorax). Foi o meu primeiro registro desta bela ave.
 
     Algum tempo depois, consegui identificá-lo no Jardim Botânico e noutra praça, a Nossa Senhora da Paz. Aliás,  no Jardim, existem quatro esculturas de Mestre Valentim: a Ninfa Eco e o Caçador Narciso, que são as primeiras esculturas fundidas no Brasil e ainda  duas aves pernaltas.
     Atualmente, na praça General Osório, não jorra mais água no chafariz . E as únicas aves que vemos são os pombos nos galhos dos mirrados arbustos, a esperarem pelo  milho que alguns velhinhos lhes trazem.
     Muitos mendigos ali se banhavam  com balbúrdia e ainda insistem em  viver na praça;  fazem de tudo, se é que em entendem. Hoje vi um defecando atrás de uma touceira.
" e a lua se derrama
por praças tão sem cor
que parecem de pano
...
(Mario Cesariny)
     Os jardins, antes forrados de grama verdinha, com variadas plantas e arbustos viçosos, estão totalmente danificados. O gramado sumiu. Machucado, pisoteado, com excrementos de gente e de cães, uma tragédia já prevista com tanto descaso e falta de policiamento austero e preparado para manter ordem e limpeza.
    A nossa cidade precisa urgentemente de um povo consciente, educado, que estude, que aprenda, que passe a  sentir amor por onde vive e, assim, preserve e cuide.
" Na ampla praça há apenas plátanos.
Nem crianças a correm de tão fria,
nem estátuas a comovem bronzeadas.
..."
(E. Guerra Carneiro)
     Como poderíamos reverter esta situação? Se não houver vontade firme e atitude radical, a praça definhará cada vez mais e entrará em extinção. E tantas outras da nossa cidade, antes maravilhosa...

Ops! Mestre Valentim_ !745- 1813 ; filho de um fidalgo português e de uma africana. Um dos artistas mais originais do Rio de Janeiro.

Ops! saracura (Aramides cajanea)_ uma ave colorida, de pernas longas, presente em todo o Brasil.
 
Ops! plátano : árvore, cuja madeira é usada em compensados
      
    
    
    
    

quarta-feira, 9 de maio de 2018

PARA COMEÇAR O DIA

     Ela foi caminhar um pouco. A manhã estava sem nuvens, somente algumas esgarçadas rosadas, como fragmentos ralos. Deteve-se no calçadão. Afinal, havia um banco livre, à sua espera. Um desses de cimento, sem encosto, bem tosco.
     Quase chegando, um cãozinho pula nele. E o dono admite, com um  breve piscar de olho. Ela não desistiu. Sorriu com o seu melhor sorriso , para o homem, que ficara de pé e para o seu cão, já sentado e olhando-a fixamente, com um rosnado leve e constante. Ficaram alguns minutos assim e logo foram embora.
     Pois não titubeara. Queria tanto apreciar o mar! E não seria um mal-humorado  pitbull que ia impedi-la! A paisagem marítima fica deslumbrante em tempos de outono. O ar leve e um brilho fulgurante, límpido, se destacam.
     Ficou ali por um bom espaço de tempo, até sentir todo o seu corpo aquecido e sua alma recheada de bem-estar. Lembrou-se do místico indiano Inayat Khan(1882-1927): " Todas as coisas existentes que vemos, ouvimos e percebemos, vibram. ... é a vibração que faz as árvores crescerem, os frutos amadurecerem, as flores desabrocharem... a existência do nosso corpo, pensamentos e sentimentos."
     E continuou a observar tudo à sua volta. E a sentir toda aquela refrescância como uma libertação e um aprendizado.
     Ao longe, um barco de pesca balouçava, suave e, na areia, bem embaixo de onde estava, uma simpática lavadeira-mascarada(Fluvicola nengeta) emitia seus trinados e saltitava sem parar. À frente, no  momento em que uma onda se agigantou,  alguns pássaros mergulharam, parecendo tão felizes! Vinham de longe, em bando comprido,  voando rápido.
 
     No alto, acima dela, várias fragatas( Fregata magnificens) rodopiavam, talvez estivessem presas, por instantes, numa roda de ar quente. Voavam baixo e ela pode observar os machos e as fêmeas naquele bailado ininterrupto e singular.
    " O que mais poderia desejar nesta manhã? ", pensara. Nada mais. Estava tão satisfeita que resolveu, então, regressar para casa e tomar o seu café .
    
    
     

terça-feira, 1 de maio de 2018

SAI ABRIL, ENTRA MAIO...

     Sai abril, entra maio. E, com o mês de maio, as farturas das  promoções. Salve o Dia das Mães que, depois do Natal, é o mais cotado em vendas no comércio!
     E mãe sempre espera a boa conduta do filho, a sua lembrança.
     Dia desses, vi na TV uma reportagem elaborada num asilo de senhoras; aquela porção de idosas, olhar perdido, mãos trêmulas, lábios ressequidos, cabecinha branca a falar sobre a alegria da maternidade.
     Tive uma amiga que dizia que sentia muita piedade dos idosos. Admirei-me. "Eu não." Ela surpreendeu-se e lembro até hoje da sua expressão de espanto e incredulidade. "Como não sentir pena dos velhinhos? Olhe lá, olhe lá aquela velhinha na outra calçada", disse-me na ocasião.
     Olhei e realmente vi uma senhorinha andando devagar, meio curvada e não estranhei. Afinal, a velhice nos trata assim... Perdemos a agilidade costumeira, o viço de outrora, a espontaneidade.
      Por outro lado... traz-nos  uma compreensão maior da vida, a dilatação da consciência, a sabedoria. Então... por que nos apiedarmos deles? Não! Mil vezes sentir orgulho_ afinal, estas pessoas contribuíram para a sociedade e vibrar de alegria por terem vencido tantas dores e ainda estarem de pé, animados, optando pela vida!
     Mas no caso das mães abandonadas nos asilos é de cortar o coração tanto descaso, provocado por tamanha penúria sentimental  dos filhos.
     Os que maltratam suas mães , estes sim, serão dignos de piedade! E quando digo maltratar, penso em abandono também. Quantas daquelas velhinhas se queixaram por nunca mais receberem a visita dos filhos; quantas enfatizaram que desejavam somente um abraço no Dia das Mães! Ficavam idealizando a chegada festiva e todas disseram que, com a presença deles pelo menos neste dia especial, toda a dor da mágoa seria apagada.
     Coração de mãe é assim: esquece as maldades dos filhos egoístas porque veem neles aquelas crianças puras e meigas de outrora. E ficam assim, à espera, sempre à espera que despertem para receberem mais uma vez a bênção que, certamente , os libertarão da dor profunda do arrependimento .
    
   MINHA MÃE
Tremulam as mãos magras
Que já afagaram tanto...
Maternas mãos que me embalaram...
Frágeis agora,
Tão ágeis e macias outrora!...
 
Mãos hábeis, cuidadosas,
Fraternas, amorosas,
Mãos ligeiras, protetoras
De quem ao labor se afeiçoara.
 
Mãos amigas.
Ah! Mãe...
É bom ver-te assim,
Com esse sorriso esboçado
Num rosto quase iluminado
Por tantas emoções!...
 
Tomar-te as mãos em minhas mãos
E poder fazer-te sentir
O frêmito palpitante
De meu grato coração!...

 (publicado no livro  Fragmentos da Memória, de minha autoria)
.........................................................................
ops!
Havendo interesse em adquiri-lo, favor entrar em contato  comigo neste Blog