terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

E O CARNAVAL JÁ PASSOU...

    

 Lá fora, a multidão enlouquecida se lança à folia. Nenhum empecilho aos desvarios típicos do carnaval.
     Os carnavais nos quais brinquei, sem contar os da escola primária, onde primorosamente me apresentava, com fantasias feitas por minha mãe_ exímia em tudo que fosse do lar e da família, que me lembre, foram dois: Um no único clube social de uma cidadezinha do interior do Rio, na época do... "Ei! Você aí!...Me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!..." , do libriano Moacir Franco, e o outro na Igreja Nossa Senhora da Paz!
     Creiam-me, sim, na igreja! Muito diferente dos nossos tempos de criança, em que carnaval era mau visto pelos clérigos, num tempo em que a farra eram os alegres blocos de rua e os desfiles de fantasias em grandes bailes.
     O padre comparecia logo no início para abençoar a festa. Numa grande sala, onde ocorrem almoços e encontros com finalidades beneficentes, a música e a dança aconteciam.Há poucos anos. Pulávamos como crianças, ao som das marchinhas e cantorias alegres.
     Anteontem me atrevi a ir à praia bem cedinho. Já havia uma movimentação estranha no calçadão. Mas consegui tomar um banho rápido! O mar me enlaçou com suas águas mansas e frescas e mantive aquela sensação durante um bom tempo.
   Pouco depois, o  som altíssimo já invadia o espaço. O carro alto, levando a turma engajada do funk, do batidão estraçalhava.
     O que  faz nesta cidade os que não curtem o carnaval atual, sem cuíca e sem pandeiro? Abasteço-me de filmes na locadora_ hoje revi Alguém Tem Que Ceder, com os primorosos Jack Nicholson, Diane Keaton e Keanu Reeves(lindo!) , ponho em dia a leitura ( sugestão? O Despertar do Coração Budista, de Lama Surya Das, ou Faça o Seu Coração Vibrar, de Osho; Toda Poesia de Paulo Leminski e Pimentas, de Rubem Alves, um adorável cronista que atualmente é meu xodó).
     Além dos de autoria do professor Leandro Karnal, filho de imigrantes alemães que, cada vez mais se destaca na mídia por seu amplo conhecimento e forma magnífica de se expressar.
     Aliás, soube, dia desses, que ele irá assistir de camarote o carnaval da avenida. Uma contradição aos seus enfáticos pronunciamentos. Espero nunca vê-lo no BBB, contrariando o seu discurso tão bem delineado, baseado na sensatez e no equilíbrio...  
     Que cada um encontre a sua maneira de se divertir, se distrair , ou ... de estudar! Por que não? Aproveitar o tempo, que passa rápido(os que já alcançaram a idade da ternura sabem disto com clareza !...)e jamais desperdiçá-lo!
     O tempo_ o senhor de tudo; é com o tempo que aprendemos, que esquecemos o que nos fez mal, que criamos vínculos, que a cura se faz, que estabelecemos hábitos, enfim, o tempo é o grande sábio que governa o mundo e a todos nós. 

 
 
       
       
    


domingo, 4 de fevereiro de 2018

UMA HISTÓRIA DE AMOR

 " A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
..."
       Desta vez, comecei pelo título. Quando voltei para casa, já sabia qual seria.
     Afinal, não é todo dia que conhecemos alguém que nos presenteia com uma  bela e real  história de amor. Ali, avistando todo o mar e a alegria palpitante das fragatas misturando-se aos surfistas, tocados pelas ondas bravíssimas,  conheci a personagem desta história.
     O grand final digno de um filme romântico ? As cinzas jogadas ao mar, do alto do Arpoador. 
     Com um sorriso encantador durante toda a narrativa, presumo por isto mesmo que ela tenha realmente vivido este romance. Com que minúcias descreveu a dedicação que teve durante os últimos anos do esposo doente. Montou um home care para tornar mais confortável aquele longo período de despedida. Aos poucos, seu marido definhava. Ela ficou ali, sempre presente, leal, correta, digna, amorosa. 
     Diariamente dizia de seu amor por ele e perguntava com doçura: "Quem mais te ama neste mundo?" Esperava pela resposta que vinha com  lentidão, mas nunca fora esquecida: "Você!" E ela continuava: "E quem me ama mais que tudo? "E ele  dizia, com um leve sorriso de felicidade estampado nos lábios: "Eu!..."
     Faz cinco meses que ele partiu. Um casamento que durou cinquenta anos deixa marcas e muitas  lembranças.
    As fotografias de um tempo de felicidade  com molduras renovadas preenchem seu quarto , remodelado agora com almofadas coloridas. Neste ambiente acolhedor,  ela sustenta ainda a alegria de viver.
     Filhos e netos a consolam. Tem amigas. Faz caminhadas. Socorre-se da crença da vida além da morte e busca, a cada dia, novos interesses que a prendam por aqui, , sempre amparada pelas boas recordações.
     As cartas dos tempos da mocidade, quando ainda noiva, ela guarda como um tesouro numa caixa de madeira e as relê, quando a saudade aperta o coração.
     Minha manhã terminou com chave de ouro, o coração nutrido pela esperança num mundo melhor. Num mundo recheado de histórias de amor!...


 
 
ops! Trecho poético de Inscrição para uma Lareira, de Mario Quintana
    
    

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

BLOCOS & BLOCOS

     Não dá pra esquecer da agenda dos blocos nos dias da festa mais popular da nossa cidade! Temos que nos organizar, nós, pobres (?) mortais que preferimos a boa música, o silêncio, a leitura, a boa arte, os encantos da vida na natureza.
     E o que fazer? Como nos prepararmos para tal evento?
     Atualmente esses grupos de foliões saem desde às 7, 8 horas da manhã! É um desperdício de tempo e de energia...
     Houve uma época_ e até recente, em que conseguia chegar até a Lagoa, cedinho, para fotografar! E, vejam, uma fartura de aves se colocava à nossa disposição!... Uma beleza!
               
                          Garça-branca-grande
 
                                                              Bem-te-vi
Socó
      Agora, com blocos também na Lagoa, não podemos mais usufruir da maravilhosa paisagem que se descortina neste bairro .
        É separar os livros, providenciar os filmes na locadora mais próxima, despertar os pincéis e as tintas e  os blocos para dar vazão às ideias. Esperem...  blocos de papel!...

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

RECANTO À BEIRA DO LAGO

     Só faltava essa! Não conseguir entrar no Jardim Botânico!...
     A rua estava tomada pelo bloco. Não como  aqueles dos idos de 60, 70, ao som das cuícas, pandeiros e tamborins,   mas   um carro de som enorme e o volume nas alturas  é que dava alma àquela infeliz manifestação carnavalesca. Incomodava toda a vida à volta com seu  barulho infernal.
      Ah! Sim, lembro-me agora , havia uma música, falava no " velho guerreiro", alusão ao apresentador Chacrinha que deixou saudades para muitos. Mas o que mais se ouvia era uma batida, tão forte que parecia fazer tremer até o asfalto.
     A rua fechada ao trânsito fez com que fôssemos andando para a entrada principal do Parque. " Andem pelo cantinho", observou um guarda , atencioso. Mas qual o quê!... Que cantinho, que nada! A rua estava tomada pelos foliões enlouquecidos e o tal "cantinho", ou seja, ao lado de toda a murada do Jardim, fora tomado pelos vendedores ambulantes de água e cerveja!
     De modo que, chegando bem próximo ao tal carro, o coração acelerado, a cabeça parecendo que ia explodir em segundos, entontecida pelo barulho dantesco, não houve  jeito senão o de  voltarmos ao ponto de partida.
     Quase desisti. Quase. Um fio de vontade me fez lembrar da entrada  que existe atrás do Parque. E logo encontramos um motorista hábil que nos levou até lá!
     Fiquei contente. Enfim, tinha driblado a zoeira carnavalesca e iria entregar-me aos braços balsâmicos e amigos da natureza.

     Durou pouco tempo a esperança. Ao entrar neste paraíso de perfumes e cantos, de ar fresco e convidativo,  percebemos o barulho trepidante ecoando por entre as árvores , pela alamedas sombreadas.
 
     Até que, finalmente, descobrimos um recanto, perto de um pequeno lago, onde bancos convidativos nos aguardavam. E pude, então, ouvir os bem-te-vis, apreciar as lavadeiras-mascaradas , sentir o aroma das pitangueiras e descansar à  sua sombra.