Solicito a parada do ônibus , mas o motorista ignora o ponto e vai mais além. E eu reclamo:
_Motorista, pare, por favor! Ôoo, motorista!...
E ele segue, segue mais um pouco e, finalmente, para. Meio atordoada, pois nunca tivera esta experiência, salto do veículo murmurando. E, na minha cabeça, eu já cogitava: " Poxa, não começou bem o passeio. Vamos ver o que mais irá acontecer."
Um tanto temerosa , respiração ofegante, ajeitei a mochila e procurei prestar atenção aonde estava. Ora, ora, estava bem em frente à entrada principal. O motorista do ônibus em que viera certamente achou que eu era uma turista e quis ser amável. Eu caprichei no visual mesmo: óculos escuros, roupa despojada, tênis, mochila e um belo chapéu de abas largas, presente de minha filha.
Costumo entrar pelo portão do estacionamento porque a Cafeteria vem logo depois; Mas respirei aliviada e atravessei atenta ao semáforo.
Pronto! Agora, sim! Ar puro, verdes de todos os matizes, isto era garantido; o restante faria parte da minha aventura matinal no Jardim Botânico.
Logo na entrada , a beleza da imponência das palmeiras imperiais; mais adiante, um barulho oco, estranho. Eram saíras-sete-cores descendo por um tronco e esvoaçando bem à minha frente. Não deu tempo para fotografá-las. Foram mais ligeiras do que eu.
Um outro casal de pássaros não identificados por mim se embolavam numa penca de fios e concluí que deviam estar tramando um ninho bem aconchegante.
E daí em diante foi um prazer continuado sem interrupções. As flores da ninfeias brotavam no lago do chafariz em tons de rosas e lilases; os pássaros em atividade cantavam; a saracura desconfiada corria da fotógrafa mais desajeitada do que ela; a borboleta preta com 'pois' azuis se destacava no tronco espesso; lágrimas-de-cristo derramavam flores pela fresca relva.
Caminhava sentindo o abraço do sol enquanto a brisa passava, leve. Confirmavam a presença do outono as folhas secas distribuídas nas aleias e flores brancas brotavam de um cactos perto do pau-brasil atraindo abelhas. Repentinamente, como uma despedida em grande estilo, uma revoada de periquitos com o seu típico estardalhaço, por cima das altas copas. Aquilo foi demais!
Arrematei o passeio com um gostoso lanche e, inesperadamente, na saída, uma árvore repleta de frutos! Conheci hoje um pé de caqui-maçã. Quanta fartura!
A vontade era de continuar por lá. Voltarei em breve para sentir novamente a vida natural, a alegria dos pássaros, a quietude da brisa, as sombras protetoras, o farfalhar dos encantos do Jardim.
Quer ver mais fotos? Acesse: www.flickr.com/photos/smercadante
"...
Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem o que é amar...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar..."
(Alberto Caeiro)