sábado, 30 de novembro de 2019

PERIPÉCIAS NA VIAGEM

     Mala nas mãos e muita disposição para encarar uma turma ansiosa para aprender os caminhos (ou seria ' o caminho'?) de novas possibilidades no trabalho em empresas. Método avançado, criativo, empolgante.
     Viagem longa, até o Rio Grande do Sul.   Não há voo direto de Salvador. Portanto, dirigiu-se a São Paulo, aeroporto de Congonhas. Até aí, tudo bem...
     Já aterrissando... passo seguinte: esperar a mala na esteira que corre, corre, desliza com mil e uma malas e bolsas e pacotes, mas a dele... nada, ainda. Demora!... O jeito é esperar com elegância.
     O uber foi caríssimo até o aeroporto. "Nunca paguei tão caro", pensava, distraído! Oitenta e dois reais!
     Nisso, percebe perplexo, quase de súbito sua calça começa a deslizar, vai caindo... que sufoco! Depois da dieta que fizera, só segura com o cinto e ele esqueceu-se !!!
     " A louca agitação das vésperas da partida!
     Com a algazarra das crianças atrapalhando tudo
     E a gente esquecendo o que devia trazer;
     Trazendo coisas que deviam ficar..."   (*)
     O cachorro latindo, a mulher reclamando que a cadelinha fizera novamente xixi na sala, os filhos aprontando no sofá quem pulava mais longe e a sogra...bem, a sogra dormia como um anjo...
     Pra completar, esquecera também da sua inseparável mochila, com seus pertences, talvez, os mais  importantes para o trabalho, como o carregador e o cabo. Teve que comprar rápido numa loja no próprio aeroporto. Ainda bem que achara, mas foi um gasto extra... Cento e cinquenta e nove reais!
     Para piorar esta receita, o voo atrasou mais de uma hora... Nossa! É preciso treinar a tolerância...
     Finalmente a chamada! Ufa. Pensara  que agora, sim, iria sentar e descansar um pouco... Só que não... desmarcaram seu assento.
     Acomodaram-no no lugar do meio _era o que tinha, entre duas senhoras conversadeiras, cujas vozes estridentes soavam como marteladas em seu cérebro... Entusiasticamente discorriam sobre suas doenças e achaques, nos mínimos detalhes ...
      Finalmente, assim, chegara ao seu destino! Nova espera prolongada da mala na esteira... motorista do uber ( sem ar) discutindo com minúcias  a localização do seu destino... 
     O que ele queria , mesmo, desesperadamente, era chegar logo no seu hotel, tomar uma ducha morninha  e se esparramar na cama!...
    
     (*) Mário Quintana, em A Viagem

    
    
    

sábado, 23 de novembro de 2019

BAIXEM O SOM!!!

     "_Picoléee!... Picolé, picolé!..."eis o segundo chamado do dia,  ritmado.
      Bem antes, cedinho, antes até do comprido assobio do entregador de jornais, o chamado para o acompanhamento do café da manhã: "_ Olha o pão quentinho, pão de queijo, pão delícia, pessoal, quem vai?..."
 
     O famoso pão delícia, tradicional da Bahia, geralmente leva recheio de creme de queijo e é muito saboroso. Mas ainda prefiro o pãozinho francês, quentinho, com a manteiga derretida perfumando os raros momentos de gula, agora cada vez mais frequentes...
     E  o carro de som com a gravação contínua, numa voz irritante : "_ Vem, titia, vem vovó, olha aqui , vem ajudar, compra sucos congelados!"...
     E a Van da água? Seu chamado infalível: " Bebeu água, não! Tá com sede, tô! Olha, olha, olha, olha a água mineral /Água mineral / Água mineral/..." E por aí vai, no som altíssimo, ecoando por toda a rua... Destaco: Água mineral Indaiá...
     Tem o caminhão das frutas e dos ovos! Hoje mesmo passou por aqui, na rua, devagarzinho, com um cara enorme sentado atrás, me dando tchauzinho... A voz forte do motorista anunciava: mamão, abacate, acerola, abacaxi, melão. Não ouvi banana... e dizia mais: " ovos fresquinhos, madame, direto da granja... a caixa com  trinta etc etc etc..."
      Logo eu, afeita ao silêncio das pedras, à quietude dos rios, à observação de pássaros... Mas os silêncios desprezados permanecem ainda comigo. E me acordam cedo, e me fazem levantar e sair, por aí, pelas ruas tortas e quietas tirar fotografias dos pássaros descobertos...... 
 
     É muita informação. É muita azucrinação, uma barulhada quase infernal. Ou aprendemos a lidar, ou  seremos engolidos pelo tumulto.
     Como se nada disto bastasse, ainda teve a brigalhada feia do casal de  vizinhos, na madrugada, em que  não tivemos escolha, ouvimos xingamentos e lamúrias, socos e gritos. Bem pior. Pensando nisto, até que os convites às comidinhas e à água, soam como  alegres melodias... Podiam abaixar um pouco o som!...