terça-feira, 31 de dezembro de 2019

A VELHICE DO ANO QUE SE VAI...


     Desgastado, lá vai ele... trêmulo, espezinhado, corrompido, exânime, claudicante... sofrido...
     Veio cheio de promessas como uma mulher vistosa, mas sucumbiu ante as dificuldades da própria vida, ante as dificuldades dos próprios homens em saber viver. Chegou devagar, foi crescendo, passou por todas as etapas _ verão, outono, inverno, primavera. Então, ninguém mais o suporta. Querem que ele vá embora! O mais depressa possível!
     Tornou-se como a velha rota da imagem( Museu de Nova York), acabada e indesejada. Ninguém o quer mais!
     " Feliz Ano Novo!" É o que dizem. Não se enganem. O ano não vem pronto. Algumas direções os astros até nos oferecem, mas é só: direções. Nada mais. Atitude tem que ser nossa.
     "_ Muita saúde e prosperidade!", desejam os amigos, nas muitas mensagens recebidas.
     Não nos enganemos. Como diz o poeta na sua Receita de Ano Novo (a mensagem de um poeta é para sempre):
"...
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
 Aos amigos que apreciam nossos escritos, um grande abraço , cheio de gratidão e de alegria.  
 
FELIZ ANO NOVO! 
    
      
 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

COISA E TAL

     O mundo tornou-se insuportavelmente esquisito. Que me perdoe  você, que me lê agora e acha que está tudo bem, que as coisas sempre foram assim e tal e coisa.
     Onde está a paciência com que tratávamos os mais velhos? A candura, a doçura com que nutríamos nosso espírito durante uma prece? A honestidade, senhores, que anda sumida, há muitos anos, principalmente no cenário político... mundial, convenhamos. É corrupção de todos os lados!
     A ingenuidade das crianças? Para onde foi? Mataram com a viçosa droga. Consumiram suas esperanças e a nossa, num futuro melhorzinho.
     Usa-se droga como se fosse chiclete... coitadinhos, nem imaginam a multidão de esquizofrênicos a marchar pelo mundo, completamente perdida.
     Afora estas questões, analiso a temática dos filmes(violentos demais!), das novelas( que preconizam relacionamentos mal-ajambrados...) e o comportamento em salas de aula(aterrorizante)!
     Preciso manter minha trilha mental lúcida, pelo menos até certo ponto... o bastante para  conviver com as desarrumações da nossa sociedade sem atrofiar a nossa fé, a nossa esperança e a alegria que ainda dão mostras de vida. Difícil, mas possível, até certo ponto. Senão, vejamos:
     Venho ouvindo muitas narrativas de amigos e parentes sobre seus familiares. Em pauta, colocam questões como o egoísmo, a desconsideração, a quase total indiferença, a desarmonia... tudo orquestrado pelo orgulho, o poderoso chefão do ego.
     Mas, o que fazer quando somos abordados por essas flechadas? Deixarmo-nos abater? Seria o orgulho também, nos cutucando... Entregarmo-nos não é a solução.
     Vou para o youtube. Valho-me desta maravilhosa e útil ferramenta atual e procuro os mestres. Quantos ensinamentos jorram de seus cérebros em perfeito estado! 
     Ainda ontem , uma parenta de quem gosto muito, pelos laços de amizade, não só pelos laços de sangue , pois a mim isto(quase) nada diz, se manifestou triste, de uma tristeza que nos aprisiona numa cápsula de inércia para a vida! Comprou dois gatos, cuida deles e dos netos, quando chamam.
     Disse-me que gostaria de estar com alguém (em quem confia) para falar! Não quer ouvir. Quer " falar, falar, falar tudo, sem interrupções" para aliviar...
     Nada disse. Ouvi com atenção e queria poder esclarecer-lhe que, sinto muito, mas nada adiantará. A não ser que programe uma ida (ou várias) a um psicólogo qualificado. Aí sim.
     As pessoas, seres humanos comuns estão com seus corações atolados na lama da tristeza, amargura, decepções... somos todos farinha do mesmo saco. A diferença que talvez possa existir é a nossa fibra em mudar o quadro apresentado. Como? Depende de nós. Não adianta continuarmos fazendo igual , com expressão de quem está aborrecido, porque ninguém vai reparar em você. Vitimizar-se não é a solução Acredite! O caminho é longo, talvez um pouco penoso, mas vale a pena a tentativa de mudança de hábitos mentais.
     Somos felizes? Sim! A atitude do outro é problema dele. A nossa_ de felicidade, de alegria(qualidade divina), de paz(outra qualidade divina!), de vontade inabalável é de nossa inteira responsabilidade.
     Confiança! Esta é a palavra-chave para os que desejam, de verdade, mudar sua vida para melhor. A mente se abre, novas ideias surgem e o caminho fica livre às bem-aventuranças.
 
    
    
    
    
    
      

sábado, 30 de novembro de 2019

PERIPÉCIAS NA VIAGEM

     Mala nas mãos e muita disposição para encarar uma turma ansiosa para aprender os caminhos (ou seria ' o caminho'?) de novas possibilidades no trabalho em empresas. Método avançado, criativo, empolgante.
     Viagem longa, até o Rio Grande do Sul.   Não há voo direto de Salvador. Portanto, dirigiu-se a São Paulo, aeroporto de Congonhas. Até aí, tudo bem...
     Já aterrissando... passo seguinte: esperar a mala na esteira que corre, corre, desliza com mil e uma malas e bolsas e pacotes, mas a dele... nada, ainda. Demora!... O jeito é esperar com elegância.
     O uber foi caríssimo até o aeroporto. "Nunca paguei tão caro", pensava, distraído! Oitenta e dois reais!
     Nisso, percebe perplexo, quase de súbito sua calça começa a deslizar, vai caindo... que sufoco! Depois da dieta que fizera, só segura com o cinto e ele esqueceu-se !!!
     " A louca agitação das vésperas da partida!
     Com a algazarra das crianças atrapalhando tudo
     E a gente esquecendo o que devia trazer;
     Trazendo coisas que deviam ficar..."   (*)
     O cachorro latindo, a mulher reclamando que a cadelinha fizera novamente xixi na sala, os filhos aprontando no sofá quem pulava mais longe e a sogra...bem, a sogra dormia como um anjo...
     Pra completar, esquecera também da sua inseparável mochila, com seus pertences, talvez, os mais  importantes para o trabalho, como o carregador e o cabo. Teve que comprar rápido numa loja no próprio aeroporto. Ainda bem que achara, mas foi um gasto extra... Cento e cinquenta e nove reais!
     Para piorar esta receita, o voo atrasou mais de uma hora... Nossa! É preciso treinar a tolerância...
     Finalmente a chamada! Ufa. Pensara  que agora, sim, iria sentar e descansar um pouco... Só que não... desmarcaram seu assento.
     Acomodaram-no no lugar do meio _era o que tinha, entre duas senhoras conversadeiras, cujas vozes estridentes soavam como marteladas em seu cérebro... Entusiasticamente discorriam sobre suas doenças e achaques, nos mínimos detalhes ...
      Finalmente, assim, chegara ao seu destino! Nova espera prolongada da mala na esteira... motorista do uber ( sem ar) discutindo com minúcias  a localização do seu destino... 
     O que ele queria , mesmo, desesperadamente, era chegar logo no seu hotel, tomar uma ducha morninha  e se esparramar na cama!...
    
     (*) Mário Quintana, em A Viagem

    
    
    

sábado, 23 de novembro de 2019

BAIXEM O SOM!!!

     "_Picoléee!... Picolé, picolé!..."eis o segundo chamado do dia,  ritmado.
      Bem antes, cedinho, antes até do comprido assobio do entregador de jornais, o chamado para o acompanhamento do café da manhã: "_ Olha o pão quentinho, pão de queijo, pão delícia, pessoal, quem vai?..."
 
     O famoso pão delícia, tradicional da Bahia, geralmente leva recheio de creme de queijo e é muito saboroso. Mas ainda prefiro o pãozinho francês, quentinho, com a manteiga derretida perfumando os raros momentos de gula, agora cada vez mais frequentes...
     E  o carro de som com a gravação contínua, numa voz irritante : "_ Vem, titia, vem vovó, olha aqui , vem ajudar, compra sucos congelados!"...
     E a Van da água? Seu chamado infalível: " Bebeu água, não! Tá com sede, tô! Olha, olha, olha, olha a água mineral /Água mineral / Água mineral/..." E por aí vai, no som altíssimo, ecoando por toda a rua... Destaco: Água mineral Indaiá...
     Tem o caminhão das frutas e dos ovos! Hoje mesmo passou por aqui, na rua, devagarzinho, com um cara enorme sentado atrás, me dando tchauzinho... A voz forte do motorista anunciava: mamão, abacate, acerola, abacaxi, melão. Não ouvi banana... e dizia mais: " ovos fresquinhos, madame, direto da granja... a caixa com  trinta etc etc etc..."
      Logo eu, afeita ao silêncio das pedras, à quietude dos rios, à observação de pássaros... Mas os silêncios desprezados permanecem ainda comigo. E me acordam cedo, e me fazem levantar e sair, por aí, pelas ruas tortas e quietas tirar fotografias dos pássaros descobertos...... 
 
     É muita informação. É muita azucrinação, uma barulhada quase infernal. Ou aprendemos a lidar, ou  seremos engolidos pelo tumulto.
     Como se nada disto bastasse, ainda teve a brigalhada feia do casal de  vizinhos, na madrugada, em que  não tivemos escolha, ouvimos xingamentos e lamúrias, socos e gritos. Bem pior. Pensando nisto, até que os convites às comidinhas e à água, soam como  alegres melodias... Podiam abaixar um pouco o som!...
 
 
      


terça-feira, 29 de outubro de 2019

ESTREPOLIA

     É o que eu digo sempre... Quando estamos enfrentando problemas e cheios de raiva, descontamos naquele em quem confiamos. Especialmente na mãe!
     Falamos com braveza, nos tornamos quase agressivos ; afinal, quem de nós gosta de conviver com alguém cheio de ruídos? Ruídos que não param de crescer e de acontecer...
     Reconheçamos que a vida não está para brincadeiras... A vida que nós enxergamos está para ofensas, dureza, virilidade, testosterona, malandragem, eficácia extrema. Não mais se pode relaxar, no sentido puro e repousante da palavra. Temos que nos portar como se estivéssemos numa grande e inextinguível batalha.
     Aí, então, não há nervos que aguentem... Como se estivéssemos sempre a esbofetear o nosso interlocutor.
     E se há aqueles que temos obrigação de tratar com educação e gentileza, a coisa piora! Sim, senhores! Piora, na medida em que nos esforçamos para aparentar uma suavidade que ainda não conquistamos. Quando a situação cessa, voltamos a esbravejar!...
     Contei para alguém especial para mim. Mas não era um bom dia. Fui julgada e discriminada, sem dó nem piedade. Temos que entender o outro. Então, escrevo para cicatrizar o coração, ainda um tanto machucado...
     Estava quente, muito quente. Saí, fui dar uma volta numa praça cheia de perfumes. Abasteci-me deles. Sentei-me ao pé de uma das árvores portentosas de flores cheirosas. Cheguei a ver um ninho de joão-de-barro.
     Fiquei ali, perdida em sonhos, não sei por quanto tempo. Quando me levantei, estava tão tranquila que sorria. Caminhei pela terra e , em volta de um quiosque fechado, havia um tipo de cerca, ornada por espadas e lanças. Uma pequena maravilha.
     E nessa idade que comemoro a cada dia, às vezes faço umas estrepolias... Fui rápida. Escolhi uma delas e meu antigo desejo foi satisfeito. Retirei do solo árido e coloquei na sacola que trazia na bolsa.
     Atravessei a rua e tomei a condução, feliz da vida! Logo eu, que só tenho uma travessura registrada em toda a minha pacífica existência, estava exultante! Coração na boca, olhar cabisbaixo, sorriso maroto ameaçando acontecer.
     Ah, vida! Chego em casa e já preparo o vaso com a boa terra. Acolho a espada tão verdinha! Converso com ela( a idade permite certas maluquices), apresento-a à casa e a coloco no quarto. Dizem que faz bem. Veremos.
     Por enquanto, o benefício é esta alegria imensa de ter dado a ela condições de uma vida melhor.
    
    



domingo, 13 de outubro de 2019

O BARULHO DO MUNDO

     Quero sossego, paz de espírito, suavidade. Mas o mundo é barulhento, querida! O mundo_ os humanos são irascíveis, confusos, dissimulados, conflituosos. E medrosos.
     Creio que talvez, por isso, sejamos infelizes. Lutando intimamente pra obtermos a tal felicidade, da qual os mestres mencionam tanto. Pelo menos eu me esforço.
     Se dependesse só da gente... Mas não. Vive-se numa sociedade um tanto cruel, um tanto egoísta, um tanto empobrecida de bons sentimentos. Preocupada em primeiro lugar com o poder, com os ganhos materiais, com o tal status.
     Tornam-se pedantes, falsos, mentirosos e, muitas vezes, sarcásticos. Até a hora em que lhes aborda o sofrimento. Então, amedrontam-se. Suas carinhas, antes  arrogantes, agora expressam uma delicadeza, estão murchos. E de tudo! Da tal arrogância e , coitados, da riqueza de sentimentos bons, aqueles dos quais os mestres não se cansam de repetir, de ensinar.
     Muitos sabem da teoria até, porém da prática...
     Acordei, como disse, querendo paz. Coloquei o CD ganho de presente de um jovem confrade da Casa da Poesia, há muitos anos: Jardim Secreto. Vejam, o meu gosto estava apropriado.
     Mas o vizinho despertou diferente. Queria algo barulhento. Uma batida dos infernos, da mais profunda escuridão. Ou, não... Talvez sentisse somente medo. Medo da solidão. Quer gritar ao mundo seu desespero.
     O som altíssimo impedia de ouvirmos o nosso som pacífico. Vim para o quarto e resolvi escrever sobre. Escritor que se preza é assim, qualquer assunto os empurra para o papel. No caso, para as teclas de um computador.
 Hoje, Dia Mundial do Escritor!






    

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

UM ATO POLÍTICO?

     Tarde agradável, aquecida pelo sol de primavera. Brisa repousante, favorável a uma bela caminhada. Mas, minha amiga não esperava que fosse caminhar tanto!...
     Ruas em torno da praça do bairro com o trânsito interrompido pela guarda municipal. Sol esquentando os miolos... paciência infinita de uma avó, sendo testada, de segundo a segundo.
     Explico: Minha amiga foi participar de uma passeata em prol do Dia das Crianças. Os netos estavam eufóricos!... Só que não...
     Todas as turmas, sim, eu escrevi 'todas' _ foram convocadas. Desde o maternal até o fundamental. Menores em colos abrasados dos professores e dos ajudantes, mãozinhas escorregadias dos pequenos agarrados aos seus familiares, professores soltinhos, a promoverem batuque!
     Era muita barulheira! Rostos lambuzados com tintas coloridas, salpicados de lantejoulas, cartazes provocativos , fantasias e muita, muita barulheira!
     Pensando que a tal caminhada seria na pracinha, minha amiga Déa relaxou. Afinal, poderia se acomodar num dos bancos , à sombra das amendoeiras.
     Qual o quê!... Primeira volta, todos animados ainda... Segunda volta, achando esquisito que não subissem pela escadaria que leva à praça, propriamente dita. Terceira rua, nada, ainda, começam a murchar... Quarta rua, pés se arrastando... Havia muitos avôs, avós, coitadinhos! disse-me Déa. Sorrisos coalhados de suor que deslizava, sem cerimônia, pelo pescoço em dobraduras.
     Concordamos que esta manifestação em nada simbolizou ato político. 
     Os netos se colocaram. "Vovó", disse o mais velho, " não gostei quando a professora veio pintar o meu rosto. Disse a ela que sou alérgico, acho que ela esqueceu."
     E o menor, de apenas quatro anos: " Não gostei nada, nada. Os guardas impedindo as pessoas irem para suas casas, né, vovó?"
     E assim que chegaram à Escola, de volta, o pequeno entrou correndo, pondo as mãozinhas nos ouvidos. " Tá muito barulho!"
     O mundo está barulhento demais! Espantaram os pássaros e os pensamentos dos  homens sentados nos bancos , à sombra das árvores. Perturbaram a paz da praça.
    

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

VELHO É O MUNDO!

     Folheando Cora Coralina em Vintém de Cobre, novamente revivi momentos do interior, na cidade de Sapucaia que, semelhante ao interior de Goiás, também mantivera acesos alguns hábitos como o da conversa, entre vizinhos, na calçada...
     E logo me voltou a vontade de escrever aqui, no Blog, à maneira de cronista. De uma insistente cronista. De um alguém que procura dar sentido à vida, já desgastada, mas que teima em reacender , a cada estreia do sol.
     Vira e mexe fatos novos acontecem. É só a gente dar uma saidinha e algo pode nos provocar. E é preciso que estejamos atentos! Ah!... A atenção é que nos torna mais capacitados. Para tudo.
     Dia desses fui até uma das  Lojas Americanas. Lá encontrei o que queria por uma bela oferta: R$ 9,90, dizia a tabuleta, a pilot vermelho, em números grandes! Peguei dois cabides.
     Fui até o caixa. Fila pequena, mas demorou muito o atendimento por causa de uma freguesa que criava caso. Assim que chegou a minha vez, expus o produto e cada um custava, agora, R$ 19,90!
     Levei um baque! Falei com o (um tanto) atrevido funcionário. Digo isto porque, ao me aproximar, depois de lançar-me um olhar arrebatador,  insistia em me bajular: " Que morena de olhos verdes(?), hoje estou com sorte, só mulher bonita aqui no meu balcão..."  Retruquei, apelei para o seu bom senso: " filho, pra você já sou velhinha..." Ao que ele respondeu com tamanho repúdio: " Velho é o mundo!" Bem, não me contive... sorri. Sorri, sorri...
     Ao relatar o ocorrido, pensei que fossem dizer que eu estava enganada, que eu tinha feito confusão. Mas fiquei surpresa! Imediatamente o rapaz foi comigo e verificamos que não havia nenhum cartaz com o preço de oferta! Então, ele procurou a funcionária responsável pela  seção de lingeries e lhe contou o que acontecera, de acordo com a minha narrativa.
     Para o meu espanto sim, a moça confirmou que o preço tinha acabado de ser alterado: de R$9,90 para R$19,90. justamente naquele momentinho em que esperava na fila... E tudo foi resolvido, paguei o menor preço, é claro!
 
"... O trabalhador sente-se forte e seu trabalho se faz leve e ele se esperta / e até mesmo canta, abrindo o eito, estimula os companheiros, / joga pilhéria, graceja e alegra seus parceiros..."
(Cora Coralina)
 
    

domingo, 7 de julho de 2019

TÉDIO DE INVERNO

     Talvez seja difícil cuidar-se aos 88 anos de idade. Morar sozinha, mesmo tendo filhos. Manter a mente saudável, lubrificada por pensamentos serenos e estar disponível às novidades e aos encantos da vida.
     Uma senhorinha, com meio sorriso, magra e baixa, enfeitadinha com anéis e brincos, apreciava, como eu, as bijuterias e bolsas de uma loja recém inaugurada, aqui no bairro.
     Um leve batom cor-de-rosa contracenava com suas muitas rugas. Cabelos pintados de castanho, xale vermelho envolvendo seu pescoço fino. Fez questão de puxar conversa e de declarar a idade, esboçando um ar de mistério.
     Conversamos um pouco, em meio às pulseiras, colares, brincos e bolsas, dentre outros artigos da loja. Paciente, ela conferia o que pegava. Analisava desde a textura dos cachecóis até os preços dos diferentes lenços para cabelos. Chegamos a dar uma volta em toda a colorida loja. Peguei uma dessas bolsas de agora, usadas para mercados, forrada de material impermeável.
     Quando mostrei-lhe , orgulhosa, a minha modesta compra, ela sorriu, entediada e retrucou: " Ah, minha filha, viajo muito, tenho tantas coisas, não preciso de mais nada." O som baixo da sua voz era o som do inverno: triste, contido, gelado, sem nuances de afeto. Se não fosse pelo meio sorriso, sempre presente, eu diria que o coração até secara.
     Colocou novamente pendurada a biju que estava a ver com os dedos, deu de ombros e disse que ia almoçar( eram  três horas da tarde!)no restaurante natural, ali perto. Sorri, nos despedimos como duas amigas sinceras e cada uma foi para um lado.
     Debaixo de um vento assustador, que deixava meu rosto gélido e arroxeado, ainda  passei no novo quiosque de flores. Rendi-me a linda cravina, cheia de miúdas flores brancas! 
     Voltei sorrindo.
    
 
     

quarta-feira, 3 de julho de 2019

FRAGATAS E GAIVOTAS

     Para que nos servem as palavras?... Para entumecer textos? Para encaixotar pensamentos?  Palavras são frias. Ou não?
     De acordo com as pesquisas do Dr. Masaru Emoto, palavra é vibração. Música é vibração. Tudo o que nos cerca e nós mesmos somos vibração.
     Se escrevermos uma palavra que signifique alguma emoção num pedaço de papel e colarmos este papel por fora de um copo com água, por exemplo, haverá transformações nos cristais d'água.
     E o mais incrível é que nosso corpo é de 90% de água! Portanto, somos influenciados o tempo todo pelas vibrações da palavra, do pensamento nosso que emitimos e recebemos, das imagens que vemos, das músicas que ouvimos, das preces que fazemos e que fazem por nós, dos xingamentos que ecoam, enfim, estamos à mercê de toda e qualquer vibração. Influenciamos e somos influenciados.
     Hoje estive à beira das águas do mar e senti um grande prazer com o que vi. Resolvi escrever tal acontecimento  e compartilhar, já que é algo bonito!
     Uma extensa mancha escura ia pra lá e pra cá, à mercê do balanço das ondas...
     Aquilo causou uma grande revolução para as aves do mar. Vieram, apressadas, inúmeras fragatas e algumas gaivotas que fizeram um puro estardalhaço!
    E iam e voltavam, bem ali, pertinho de nós que, maravilhados, estáticos ficamos. Alguns poucos se atreveram a mergulhar justamente na tal mancha. 
     Eram peixes! Peixinhos. Miúdos, brilhantes, ofegantes, tentando se movimentar o mais rápido possível, para despistar ... mas as fragatas vinham e vupt! Bicavam sem dó os peixes à volta. Os que nadavam no centro do cardume se salvavam. 
        Vida exuberante manifesta no mar.
     O livro O Segredo nos relata as novidades no mundo incrível da Ciência , fazendo-nos pensar no que vale a pena_ para a nossa felicidade, pensar, falar, escrever... Portanto, como viver melhor: com justiça, atenção plena e boa disposição!
 
       
    
     

quinta-feira, 27 de junho de 2019

BARULHO NA ALMA

  Há três obras no prédio onde moro: uma no segundo andar, outra no sexto e ainda mais outra ao meu lado, no terceiro andar. Portanto, escrevo mergulhada num barulho infernal, quase indescritível. 
     Além de batuques intermináveis, há o desconforto da zoeira de furadeiras, cheiro de cola e de tinta, além da intensa poeira, é claro.
     Saio, de vez em vez, dou voltas no quarteirão, ontem fui a um lançamento de livro, hoje tem reunião literária. Mas está prevista a chuva!
     Nem sempre queremos sair, nem sempre o intento é este. Haverá sequelas se eu insistir em ficar à mercê de tantos incômodos?
     Acatei a sugestão do meu bom senso e saí de casa. Dei uma volta na praça General Osório, com um pouco de medo de ter que enfrentar um pé d'água.
     O que vi desgostou-me ainda mais. Agora, o barulhão era na alma...
   A imundície, as plantas mortas propositadamente, uma quantidade enorme (cerca de uns vinte!) de mendigos e desocupados tomando conta dos jardins.
   Algumas espécies eu nunca tinha visto, ficam ao redor da grade. E os pedintes deitam-se entre a grade e as plantas mais altas. As baixas eles as sufocam com seus pertences.
     Quando da Prudente de Moraes virava à esquerda, entrando na Rua Jangadeiros, salta um marmanjo do jardim inesperadamente . Olha para mim com um estranho olhar e , retirando de um bolso da calça uma comprida lâmina, passa a raspá-la pela grade, à medida que andava, fazendo um som estridente e ameaçador.
     Fiz que não vi, e, obra do acaso ou não (vai saber?), ali estava, na calçada, toda empertigada, uma planta comprida cheia de graça, tomada de flores de um rosado forte. Diminuí o passo, contemplei-a e segui avante.
     "...
Aos tenros botões,
peço que desabrochem,
se possível com doçura." 
(Du FU, Flores Fugazes)   
    
      
      

domingo, 9 de junho de 2019

O HOMEM DE POLO AZUL

"...
A tua vida, que fizeste dela?
..."    
    Imaginem entrar num hospital público do Rio de Janeiro. Estava  ansiosa, afinal, ouve-se muita boataria... No entanto, este é uma exceção. Um dos poucos hospitais bem avaliados pela própria população.
      Tinha ido  visitar um amigo, recém-operado. Estava muito frio, apesar do sol, sol de outono.
     Notei as pessoas tranquilas ali presentes, desde a entrada, indo para seus lugares nas filas que corriam, sem estagnar. Isto é bom.
     Pessoas de condições sociais humildes, porém, esclarecidas. Observei _novamente, pelas conversas que fluíam, soltas, ao meu redor.
     Ali, pelo menos, enquanto permaneci no ambiente,  passavam uma certa distinção, uma certa nobreza. Conversei com algumas, dei linha, como se diz, para que se soltassem e falassem naturalmente. E falaram. Com muita clareza e simplicidade. Alguns tropeçavam na pronúncia de certas palavras, mas continuavam serenamente, respeitosamente. Outra geração!
     Ah! Mais um atributo: gratidão aos médicos que os atendiam. Eram todos muito afeiçoados aos seus médicos.
     Até que uma funcionária me indicou o corredor dos elevadores. Havia três. Qualquer um deles ia a todos os andares, porém somente num lia-se numa placa, um tanto enferrujada de metal, pregada ao centro, a palavra "SOCIAL".
     À minha frente, três senhores de idade um tanto já avançada. Pois bem. Este elevador chegou ao térreo e, como ninguém entrou... rapidamente a porta se fechou e ele subiu.
     " Os senhores não apertaram o botão pra subir?" falei.  Eles olharam pra mim, silenciosos e, a princípio, nada disseram.   
     Mas, como insisti, o do meio_ vestido com capricho, trajando uma blusa de malha tipo Polo, azul, um azul bonito, celeste, assim como os seus olhos, timidamente, com os braços magros cruzados, levantando os ombros,  balbuciou: "  SOCIAL, não deve ser pra mim; os outros nada têm escrito. Este deve ser para pessoas especiais. Gosto, sabe, dona, de ficar no meu lugar."
     Enchi-me de emoção, de indignação, senti o coração arder, e entabulei com o homem um monólogo rápido e decisivo: " O senhor pertence a mesma sociedade a qual todos pertencemos."
     Percebi o quanto aquele homem estava dizimado em suas qualificações. O que a vida fizera dele?! Sentia-se diminuído, menor que os outros, autoestima rebaixada.
     Novamente o elevador chegou. Falei com autoridade: " Entre!" Ele esboçou um leve sorriso, ainda cabisbaixo, soltou os braços, melancolicamente e estendeu o direito apontando-me a entrada: " Por favor, a senhora primeiro."
     Agradeci e entramos. Ao sair, nos despedimos  com um breve aceno de mão e seu sorriso bom ,agora, era  suave luz no seu rosto.
    
     

sábado, 1 de junho de 2019

A ARTE É A SOLUÇÃO

      Tenho observado que a poesia continua viva, mesmo com tanta feiura  pelo mundo.
     Senão, vejamos estes trechos poéticos,  pinçados de uma autora de agora (Ana Maria Pereira):
"vi andorinhas
carregando sonhos..."
 
"Trilhei o caminho das cataratas
para conversar com a tarde
..." 
" ... ainda nem deslumbrei o sol dentro de mim..."
 
          A Arte salva. Salva aquele que a cria e aquele que a vê. A Arte purifica. Enleva. Anima. Dá-nos resistência ante o sofrimento.
     O ser humano está fadado a criar.  A solução para uma vida menos egoísta e menos perdida é  a Arte.
     Refiro-me a  este prazer da criação que está intrínseco em nós, em nossa alma. Como li noutro dia: "Nascemos gênios, cheios de possibilidades, no entanto a educação nos restringe."
     Naturalmente, o autor se refere à castração da inventividade, que surge, espontaneamente, na experiência da liberdade.
     Vou pelas beiradas, que cada um mergulhe no assunto que lhe aprouver.
     Criar pela vontade, pelo prazer e evitar permitir que o que o mova seja o reconhecimento do outro. É aí que o ser humano, muitas vezes, se perde.
     Numa das minhas visitas à reuniões literárias, pasmem, senhoras e senhores, sobre o que ouvi! Pessoas que não conhecem o idioma, falam e escrevem errado... E ainda se posicionam com ares de sabe-tudo! Uma característica comum nestas pessoas é a verborragia... Quanta ilusão. 
     O que almejam ? Palmas ao final do seu precário e farrapento discurso, desprovido de alma e de conhecimento? Não sei. Fica a pergunta.
     Outro convidado falou, falou e nada disse. Pra fechar, anunciou uma trova! Quanto disparate! Não sabemos o que foi aquilo... uma amiga, ao meu lado, me cutucou e assegurou: Isso não é trova !...  Não, não é, assegurei-lhe.
     E tem mais: Quando anunciam... " Vou dizer uma trovinha..." hum... preparem-se. Coisa boa é que não é!...  
     Trova, soneto, poema... Não tem essa de "trovinha"!
     Não consigo compreender estas investidas de participações em ambientes que deveriam ser cunhados pela correção, pelo conhecimento, interligados, claro, pela alegria e despojamento, este no sentido de simplicidade.
     Difícil ser simples, numa terra de egos inflados.  
    
    
 
    

domingo, 26 de maio de 2019

DIA DE USAR VERDE

     Hoje teve passeata. Sinceramente, não me lembrava de que era hoje. O tempo se mostrava carrancudo, o ventinho batia nas orelhas zunindo, ameaçador.
     No entanto, fui caminhar. Pensei numa caminhada leve, coisa pouca, pra não gripar. Lencinho guardando o pescoço delicado e duas camisetas de malha. A de cima foi comprada do COA(Clube dos Observadores de Aves), há muito tempo, num desses  passeios para observar aves. E é da cor verde.
     Aprendi com os mais entendidos que , ao observarmos aves, devemos estar em silêncio e usar cores neutras, cores da floresta. Por isso, a cor das matas na camisa de malha!
 
     Chegando na orla... a surpresa! A turma vestia orgulhosamente o verde e o amarelo. Até o mar estava verde!Senti-me à vontade!...
     Bandeiras do nosso país tremulavam nas mãos e nos corpos. Apesar de austero, o tempo se manteve firme. Nada de chuva, nem mesmo chuvisco. O céu continuou nublado, o ventinho arrefeceu, a paisagem como sempre, linda, em Copacabana.
     O toque engraçado_ a meu ver, era o churrasquinho na pista fechada, bem no caminho do pessoal! Vi bandeirolas sendo oferecidas às senhorinhas cadeirantes, um drone vigiando tudo, camisetas estampando "Meu Partido É O Brasil". Tudo isto e muito mais num ambiente alegre, festivo, feliz, respeitoso. Meu coração encheu-se de esperança.
     Ao fim de cerca de umas duas horas, achei que estava na hora de voltar. Então, neste  exato momento, fui obrigada a parar e a me perfilar. O coração aos saltos e já brotava de minha boca o nosso Hino: o Hino Nacional Brasileiro. Foi de arrepiar!
     Cantamos com atitude de respeito. E, ao final, um belo sentimento unindo todos, indistintamente.
     A lembrança imediatamente foi lá atrás, correu os anos, muitos... e me vi, novamente, regendo o Hino Nacional, à frente de cerca de oitocentos alunos, no pátio da Escola onde dava aulas.    
     Foi bom eu me vestir de verde. 
    
    
    
     

domingo, 19 de maio de 2019

A TROVA É UM MILAGRE

     Hoje foi dia de trovar na Biblioteca do Clube Municipal. Não pude estar presente, mas imagino que a reunião primou pela alegria e pela confraternização.
     De formação relativamente fácil _ quatro versos, com sentido próprio e tendo cada um sete sílabas métricas, a trova despontou no nosso país no início do século XX.
     Os famosos repentistas do Nordeste costumam usar trovas em suas improvisações. Até D. Pedro I era exímio em trovas! Vamos conferir?
Pelo Brasil dar a vida
manter a Constituição
sustentar a Independência
é a nossa obrigação. 
 
     E já que enveredei neste assunto, vou trazer algumas para a nossa distração.
 
O filho do carpinteiro
foi um artista profundo:
com três cravos e um madeiro
fez a redenção do mundo.
(Raul Pederneiras)
 
 Camões, poeta zarolho,
grande vate português,
via mais por um só olho
do que nós por todos três!
                                                                                     (Paula Nei)
Declaro-me aposentado.
Terminei. Ponto final.
Basta-me o céu estrelado
e as rosas do meu quintal.
(Guerra Junqueiro)
 Como podemos perceber, há trovas de todos os tipos e de todas as intenções. Aproveito para incentivá-los a fazer algumas. É uma bela distração. Se quiserem tirar dúvidas, basta deixar um comentário que responderei em breve.
 Cheguei a me atrever a compor algumas e compartilho  uma com vocês:
 
Em trovas arrumei meus versos
Que compus por inspiração
Pra você quero progresso,
Paz e luz no coração.
 
 
           Até a próxima página, amigos!...
 




segunda-feira, 13 de maio de 2019

SENSATEZ & ABSURDOS

"...(É a sensatez que aumenta os absurdos?)    
(Manoel de Barros)
     Não vale a pena a discussão, o confronto. Não, decididamente, não importa.
      Digo isto, assim, com tranquilidade e convicção, porém sei que é difícil tomarmos esta atitude um tanto blasée.
     O mundo precisa de cada um de nós. Ceifamos, muitas vezes, a nossa criatividade, impedimos a nossa inteligência  aflorar quando perdemos o nosso controle, a sensatez e a verdadeira elegância de comportamento.
     Mas faz parte também alertarmos sobre algum deslize, alguma afronta cometidos a nossa frente. Não dá para ficarmos indiferentes a essas anomalias de comportamento! Por exemplo, citarei um fato ocorrido há poucos dias:
     Na loja de cosméticos, ao notar que a senhorinha ia fazer uma pequena compra _ alguns sabonetes em oferta, a linda jovem, bem vestida e maquiada com esmero, não titubeou quando uma outra cliente entrou. 
"...
_Coisa que não acaba no mundo é gente besta e pau seco.
..."
(Manoel de Barros)
     Rapidamente, prestativa, ofereceu-lhe ajuda. E recebeu em troca um certo olhar desdenhoso.   Nem resposta ouviu . A senhora em questão, com soberba, parecia escolher um perfume. Olhou, demoradamente para a larga exposição, experimentou alguns e, decidida, saiu a passos largos.
    Enquanto isto, a outra, cabisbaixa, silenciosa, aguardava pacientemente. 
     Não contive a tal da indignação. Indignei-me por ela.  Alertei a vendedora inexperiente quanto ao atendimento frustrado. Orientei-a com firmeza e , mal sabia eu que a gerente estava ouvindo tudo. Veio e me perguntou sobre o acontecido.
     Nada relatei. Apenas voltei-me e arrematei: Pergunte a sua funcionária sobre o ocorrido.
     A menina, com olhos arregalados empalideceu... e ganhei, da simpática senhorinha,  um sorrisinho cúmplice.
 

sexta-feira, 10 de maio de 2019

MAGIA DO OUTONO

    Névoa úmida pela manhã; logo depois, lá pelas nove, dez horas, o sol , tímido, surge. Estamos no outono.
     Outono! Estação das frutas __ aprendi na infância. Mas hoje, com a tecnologia avançada, há frutas em qualquer estação... porém... nenhum caqui será tão doce quanto os de agora; nenhum abacate terá a polpa tão saborosa e macia quanto os de agora!
     Enfim, é a mágica época do ano em que desfrutamos da temperatura amena e vivenciamos, naturalmente, com mais facilidade, certas virtudes dos sábios: paciência e serenidade. Nutrimos mais gosto pelo reflexão do que pela fala; a leitura prevalece ante o lazer da praia.
     Hora de rever o guarda-roupa, pesquisar preços, estabelecer certos critérios;  afinal, renovar é preciso!
     Já separei algumas pra modificar bainha, alterar comprimentos, alargar, apertar, modificar, atualizar. "Customizar" (personalizar algo) é a palavra-chave! Para isto, são necessárias algumas qualidades próprias, um certo sentido para a moda, um senso apurado com o que lhe cai bem.
     Fique à frente de um espelho grande _ dizem os experts, e vista as roupas. Observe com atenção o que lhe cai bem, o que ainda se usa. Separe o que precisa de uma retocada, ou aquilo que irá para doação, ou, ainda, o que vai para a caçamba de lixo. Organize-se!
     Para isto, recomendo o método da japonesa Marie Kondo. Muito perspicaz e prática, ela orienta as pessoas a se organizarem. Vale a pena dar uma olhada em algumas abordagens dela.
     Neste período aproveito o sossego, sinto-me mais à vontade para estudar com afinco, dedicar o meu tempo à pesquisa , à prática da pintura e observar a natureza... Ah! Como o nosso mundo é belo!
     Quando sinto necessidade de me enlevar vou à praia, aos jardins, às praças e observo. Contemplo. Mar, árvores, plantas, flores, pássaros... tudo motivo de observação, de atenção plena. As folhas secas , amareladas, rodopiando pelo ar até caírem na terra...
 " ...
Ao pé das muralhas,
apenas árvores seculares,
Nelas, dia e noite,
a voz do outono.
..." (Li Bai)
     Num passeio solitário ao Jardim Botânico, vi um companheiro do grupo de observadores de aves(COA), parado, olhando fixamente para um ponto. Aproximei-me. Qual não foi a minha surpresa ao vê-lo em perfeito contato com um gavião-carijó, pousado num galho próximo. Estavam em sintonia. Que linda cena! Linda, comovente e inacreditável. Muito feliz, contive o meu "Olá!" e permaneci em silêncio, para manter aquele momento e poder observá-lo por mais algum tempo.
     Descubra um bom livro, reveja filmes favoritos, derrame sua emoção nas Artes, permita-se refletir na Vida que o cerca. Estas são boas opções para não passar o seu outono em branco...
    
       

domingo, 10 de março de 2019

A GRANDE POLÊMICA DA MULHERADA

     A grande polêmica agora da mulherada  é deixar ou não  os cabelos brancos. As  que costumam mantê-los coloridos ouvem, quase sempre,  de um jeito acre: " Por que não assume?" Não vai assumir o branco, por quê?" "Eu vou deixar embranquecer naturalmente(e com os fiapos pintados em tom escuro)"...
     Faz tempo que uma amiga me disse, séria:" Sylvia, precisa assumir os cabelos brancos. Uma intelectual que se preza tem que ter cabelos brancos." Quanta ilusão!...
     Fico observando as falas e posturas e noto  insegurança. Pintar ou não é questão de cada uma. É escolha, é estética, é liberdade.
     Ontem mesmo vi um vídeo sobre este assunto. A elegante senhorinha  pregava a libertação do uso das tintas! Num cenário armado, tentando passar um ambiente festivo, com múltiplos artefatos coloridos, bibelôs inusitados, lá estava ela, ao centro, com um vestido jovial, ultra colorido, buscando gestos e palavras que nos cativassem.
       Tudo muito artificial. Cada palavra pensada, cada gesto estudado. E a intenção era a da libertação. Ora, ora! Vejamos com calma. Do uso de tintas? Da pintura em si? Que prisão é esta? Então, não vamos mais pintar as sobrancelhas, nem usar roupas bonitas e novas, nem pintar as unhas e segue a lista... 
     Porém, se você está aprisionada numa baita depressão, ou angústia, ou seja lá o nome que quiser dar, é diferente. Não tem vontade nem pra se alimentar, quanto mais pra se enfeitar.
     Dia desses, fazia uma leve caminhada, no calçadão de Copacabana. À minha frente, duas senhorinhas. Falavam e gesticulavam cheias de vigor. Uma, com os ralos cabelos pintadinhos em tom avelã; outra,  cabelos curtos e brancos. A primeira, alegrinha, caminhava quase em saltitos; a outra, pisava com firmeza e, ao passar por elas, vi seu rosto tão sério, tão carrancudo. Dizia, determinada, em tom forte, que não pintaria mais os cabelos. "Para quê? Ninguém mais me olha... estou velha mesmo."
      Ah... então é isso? Não importa. Seja qual for o motivo , demos a liberdade a quem quer deixa-los branquinhos. Há mulheres jovens ainda que já contam com fios brancos iluminando sua cabeleira e seu rosto. Ficam lindas!
     Reparem que as mais velhas que ousam deixa-los brancos__ não se iludam__ têm um motivo: Ou agem com naturalidade  mesmo( e pra estas eu tiro o chapéu!), ou o motivo é alergia, desânimo   , ou velhinhas que querem estar na onda(estas provavelmente já recorreram ao bisturi! Então ,sua estampa fica interessante. Cabelos brancos adornando um rosto repaginado , glamourizado por uma maquiagem que prima pelo colorido esfuziante de um batom vermelho!)!
     Quem prefere deixar de pintar , que deixe com espontaneidade, sem precisar enfatizar sua resolução. Porque falam como se esta atitude as tornasse mais sábias do que as outras... Que tolice.
     Há muitos anos,  uma senhora minha conhecida, que frequentava o mesmo grupo espiritualista que eu, contou-nos um fato que eu nunca mais me esqueci.
     Muito distinta e elegante,  resolveu parar de pintar os cabelos ao completar setenta anos. Depois de um tempo,  foi visitar seu netinho, que morava nos Estados Unidos; ao vê-la, o menino teve uma reação inesperada. Passou a chorar convulsivamente achando que sua avó iria morrer em breve , já que tinha ficado muito velhinha... Claro que ela voltou a pintar os cabelos!
     Tudo é muito relativo. Quer pintar? Pinte! Quer parar de pintar ? Pare! Nunca pintou e  prefere manter esta decisão? Aplausos. Mas não levantem bandeira, nem critiquem quem age de modo diferente do que o seu. Não somos melhores, nem piores do que ninguém. A cada uma seus motivos. E, principalmente, a sua liberdade de decisão!...
 

terça-feira, 5 de março de 2019

COM AÇÚCAR E CANELA

    
(Praça Castro Alves, em Salvador)
 

    Estava num Café de um shopping, em Salvador. Era de manhã e, quando vou à Bahia, sempre dou um pulinho lá para um café e uma banana real: massa de pastel frita, passada em açúcar e canela com fartura, recheada de banana da terra madura.  Delícia crocante!...
     O lugar estava cheio, mas ainda havia  uma ou duas mesinhas. A essa hora,  o pessoal gosta mesmo  daqueles mingaus, deliciosos e quentinhos, de milho, tapioca, carimã, mugunzá _ou milho branco,  típicos da terra. A maioria ia para as mesas com a sua tigelinha...
     Uma senhorinha dirigiu-se para a mesa onde eu estava e , com um sorriso (simpatizo com pessoas que deixam o sorriso aflorar! O sorriso é a voz do coração.), disse: _ Posso sentar-me aqui?
     Afirmei com a cabeça e retribuí o sorriso.
     Alguns segundos e já estávamos conversando animadamente. Eu devia ter adivinhado: era professora também! Marinalva passou a  falar com entusiasmo e assim  narrava suas experiências marcantes do Magistério. 
     Sua lida com crianças da periferia foi intensa e deixou impressões tão fortes que a fizeram desistir. Não poderia mais continuar. Adoeceu gravemente.
      O que se vê atualmente são crianças e jovens desorientados e que rejeitam a autoridade. Como ajudá-los?...
     Quando me dediquei à Educação ainda era um tempo em que professor era respeitado e ouvido, acatado, tanto pelos alunos quanto pelos seus pais. Mesmo tendo alguns poucos alunos com comportamento um tanto difícil, conseguia demovê-los das más atitudes pela palavra e pelas propostas em sala.  
     Houve, naqueles breves momentos, muita simpatia e sintonia, não só em virtude da mesma paixão que nutrimos pela profissão, como também pelas passagens contadas com veemência. Uma história de vida, permeada, certamente, de inúmeras vitórias.
 
"...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe _ que faz a palma,
É chuva que faz o mar.
..."
(Castro Alves, O Livro e a América)