segunda-feira, 26 de março de 2018

VIDA COMPLETA?

     Sim, já plantei  árvore, escrevi  livro e sou mãe.
     A árvore_ lembro-me bem, foi na Escola Primária Affonso Pena, na Tijuca,  há muitos anos. Não  me recordo qual a espécie, porém consigo sentir a  emoção do momento. Era boa aluna e, por isso, fui designada, no Dia da Árvore, a plantar , no jardim do colégio.  Toda a escola perfilada e, junto a mim e à pequena muda, a diretoria. Que luxo!
     O livro na verdade foram alguns. A partir de 1993 comecei a escrever crônicas e contos até chegar na poesia. Mas já gostava da arte da escrita! Acho que o gosto foi se desenvolvendo pela leitura.
     Em todo aniversário ganhava um livro. Fosse  Natal ou Páscoa, sempre o livro como presente. Carochinha, Malba Tahan, enciclopédias, Quixote... Li  quase todos os autores brasileiros, alguns portugueses e obras traduzidas. Jornais estavam no programa também, principalmente as crônicas! Cheguei a elaborar uma coletânea delas. Que tempo bom...
     Líamos com voracidade. Penetrávamos num mundo sem igual. Compúnhamos o cenário_ de acordo com o texto e lá ia a nossa imaginação permitindo que a história encorpasse e ganhasse vida!
     A família constituída deu um novo sentido à existência. Cuidar com esmero e dedicar-me ao bem-estar do outro no nosso ninho familiar, sem dúvida é um treinamento para alçarmos voo, ampliando o raio de ação aos outros seres.
     Pelo menos assim reconheço a função da família, que nada mais é do que uma oportunidade de nos aperfeiçoarmos no sentimento mais nobre, que é o amor.
     Refletindo, portanto, sobre as  condições consideradas  para encerrarmos a etapa atual da vida, estas já estão concluídas...
     Resta-nos agora, a cada dia, alimentar os vínculos fraternos , como  exercício  constante para o coração; testemunhar os frutos das realizações  estabelecidas ao longo da vida  e reconhecer e aceitar a urgência de estreitar os laços, cada vez mais,  com a mãe-natureza, pura e simplesmente.
    

quarta-feira, 21 de março de 2018

UMA PROSA LIGEIRA SOBRE O DIA DA POESIA

  

   Dia do Homem, Dia da Mulher, Dia do Índio, do Trabalho, do Bombeiro, Dia do Padeiro... Existe até o Dia da Felicidade!...
 Uns criados há muito tempo, outros são mais recentes. Entretanto, hoje, hoje, 21 de março,  comemora-se algo fundamental a nossa existência. Como viver sem esse alimento imprescindível  para a alma?
     Uns farão cara de enfado, expressão de repúdio, torcerão o nariz . Refiro-me ao especialíssimo Dia Mundial da Poesia, criado em 1999, pela UNESCO.
     Sim, existe. E logo no início do outono, esta estação de deliciosas brisas, de folhas peroladas pelo orvalho, noites aprazíveis, sol ameno, perfumes delicados pelo ar. Um período do ano  tão suave e belo tal qual o sussurro de um poema de amor.
     E o que é a poesia? É Arte que nos envolve, nos liberta dos distúrbios e nos aprisiona  ao que é verdadeiramente belo. É camafeu de lembranças,  de toques de amor. É força da vida.
     É preciso uma certa bagagem de sofrimentos, decepções, amarguras, ilusões, alegrias, realizações que sirvam como fertilizantes para que, num certo momento, brote no campo do coração a Poesia.
     Pode vir formatada em sonetos, em trovas... ou livre, com a cadência própria do poeta; pode ter ou não ter rimas; o que importa é que a Poesia vá direto à alma de quem lê. Pode cantar a vida, pode cantar a morte. 
 Na brisa de outono,
Onde farfalham as folhas
Prestes a desmaiarem
No solo frio e úmido,
O perfume da manhã.

     

    
    
    
    

sexta-feira, 9 de março de 2018

A MULHER NASCEU PARA DANÇAR OU PARA SERVIR?!...

        " O homem foi feito para guerrear e a mulher para dançar para o guerreiro", de acordo com Nietzche; já  o impagável Quintana,  admite o ideal burguês: " o homem foi feito para comer e a mulher para servi-lo à mesa."
      Dia da Mulher... foi ontem: 8 de março. Dia  Internacional da Mulher... E aí você é massacrado com informações, felicitações, uma baforada de parabéns e uma enxurrada de aplausos só-porque-você-nasceu-mulher. "Somos fortes, guerreiras", isso e aquilo... Bah!
     Acho um certo exagero. Espreito a próxima rota de interesse nas páginas sociais. E me previno, cautelosa. Talvez se voltem para as eleições que ocorrerão ainda neste ano. Nas ditas redes sociais, parecemos um só corpo, uma manada direcionada ao assunto do momento.

     Intuo que a solidão tornou-se a companhia constante. Não adianta camuflar, com poemas, textos e tudo o mais pra preencher o vazio. Temos que encarar e aprender a torná-la nossa aliada.
      Como diz Karnal, perdemos o controle do nosso tempo  com o celular. Se nos dispuséssemos a focar o que realmente importa para a nossa  vida, para a nossa realização e melhoria íntima, veríamos o amável objeto um pouco, talvez antes de dormir, aquela olhadinha básica, uma mensagem ou outra pra sinalizar carinho e só. Boa noite e bom sono.
     Mas não é o que ocorre. Eu mesma, confesso, cheguei a penar com uma baita dor na região cervical, oriunda da má  postura . Entrei no Google(abençoado Google!) e, imediatamente, aprendi técnicas que previnem dores e lesões na coluna.
     Mas dando continuidade ao assunto Dia da Mulher, sabe-se que no início do século XX (1917),    a mulherada operária russa entrou em greve para reivindicar ajuda, ante as dificuldades que enfrentavam, principalmente no âmbito de trabalho. Bem, esta é uma versão.
     Há outra, ou outras, uma catastrófica, onde 129 operárias morreram carbonizadas , em virtude de um incêndio criminoso nas instalações de uma fábrica têxtil; tudo como repressão extrema às greves e levantes das funcionárias rebeldes ante tanta humilhação e penúria.
     Historiadores e pesquisadores ,no entanto, admitem que esta seria uma versão falsa.
     De qualquer maneira, a rebelião das mulheres operárias russas é a origem do dia consagrado a se reverenciar a mulher.
     Ontem, saindo de um consultório médico, um desconhecido olhou-me, sorriu tanto pelos lábios finos quanto pelos miúdos olhos azuis, segurou a porta para que eu passasse e, gentilmente, estendeu a mão direita numa saudação entusiástica pelo dia especial. Agradeci, surpresa. Afinal, não é todo dia que se recebe um efusivo e sincero cumprimento de um  desconhecido.
     Soou muito bem, porque sorrimos e sorrir faz bem; porém, também soou estranho... Foi uma mistura de sentires. Mas aprendi a viver com certa diplomacia e um "seguir em frente". Pouco me iludo, ou me deixo arrebatar pelo entusiasmo oco.
     Já começo a pensar nas mulheres fortes da minha vida e, sim,  deixaram sua marca e muita saudade_ minha mãe, minhas avós... quantas lutas no dia a dia, vida tecida com persistência e fé.
     Filhas dedicadas e que lutam bravamente por seus ideais; amigas com sua tenacidade ante os sofrimentos impostos no caminho... E tantas e tantas outras  anônimas que traçam suas vidas sob a égide do amor e da bravura. A elas o nosso apreço.

    
     

terça-feira, 6 de março de 2018

PAPO COM O TAXISTA

          Cheguei sozinha em Salvador. O trânsito desliza na morna manhã. A cidade fervilha: novas etapas do metrô sendo construídas e revejo o contraste dos prédios modernos com as antigas casas de bairros boêmios.
     Ah... Salvador! Existe algo a mais nesta cidade bonita e buliçosa, uma alegria, um certo alvoroço contido, a criatividade latejante, inerente aos inquietos soteropolitanos.
     À saída do aeroporto, destacam-se os fiscais da cooperativa de táxis. Um se aproxima, simpático, a falar timidamente um espanhol derrapante... Aviso-lhe, de imediato: "Não sou turista!" Ele sorri, meio acabrunhado pela interrupção abrupta e pergunta qual a minha direção.
     Digo-lhe o bairro  que fica longe  e ele castiga:" cento e nove reais!"
     Escapa-me um meio sorriso, à la  Elvis Presley e, quase sem pensar, proponho: "oitenta!"
     Ele desconversa e, então, devagar, eu me viro, indiferente...  O fiscal me toca no ombro e diz apressado:" Feito!" E balbucio: "setenta... "
     Acordo prontamente aceito. Nem mesma eu esperava tal negociação. Numa fila de cerca de uns trinta motoristas carrancudos, de braços cruzados, um se ofereceu, solícito.
    " Ufa!" pensei. "Até que enfim."
     Sorridente _ sorriso é tudo!,  pegou a mala pequena e durante a viagem, um tanto longa, conversamos.
     Avô aos quarenta e sete anos, pai de uma moça, feliz com o seu longo casamento. "Respeito, paciência, compreensão, parceria e liberdade é o de que precisa um casamento  para dar certo como o meu."
     E eu retruco, já um pouquinho comovida: " E isto não é simplesmente... amor?"
     Se você ama, você respeita, é parceiro, compreende, é paciente e liberta o outro.
     Tecem, assim, com primor, a cada dia,  a tão sonhada felicidade.