quinta-feira, 26 de maio de 2016

CABELOS CURTOS OU LONGOS?

    
     Passando a vida a limpo, na conversa gostosa com a amiga de há muitos anos__ cerca de trinta, chegamos a várias conclusões.
     Entre cafés   e sorrisos, alegrias e recordações, pãezinhos e bolos, as confidências foram muitas. Afinal, conhecêramos as famílias uma da outra e, portanto, temos alguma intimidade.
     O lanche leve, a disposição para a boa conversa e a alegria do reencontro favoreceram para que a porta das lembranças fosse aberta. Fazia frio e o lanche quentinho e saboroso veio a calhar.
    Dentre tudo o que foi dito nesta tarde, algo mexeu comigo como uma revelação e fiquei a remoer o assunto.
     Ao contrário da minha amiga que mantém os cabelos lisos  bem curtos, eu já prefiro um meio termo: nem  joãozinho, nem longos. Para mantermos cabelos compridos  saudáveis  temos que frequentar com assiduidade o cabelereiro, coisa que não me agrada muito. Vou, vez ou outra, para um bom corte, destes que adornam o rosto, revelando-o favoravelmente.
     E gosto deles soltos, à vontade,  livres de prendedores, laçarotes, tiaras, elásticos, qualquer objeto que impeça a  liberdade do movimento.
     Às vezes, chego a  prendê-los, definir uma composição estética,  tento enfeitá-los . Mas qual o quê! Logo em seguida, desmonto o pretenso penteado, liberto as madeixas onduladas e sinto com prazer o vento mudando o visual, alterando sua forma. 
     Minha mãe, dedicada ao extremo, cuidadosa, preocupava-se  em manter a minha  aparência impecável. Meus cabelos longos exigiam que estivessem sempre muito bem penteados e ...presos! Desde bem pequena, era assim.
 
 

 

   
 

 
 
 
    
 
 
 
 
 
 
 
     Pomposos laçarotes, ou fitas arrematando tranças apertadas faziam doer a minha cabeça ao extremo. Mas a menina recatada era muito calada e submissa.  Simplesmente sempre aceitara o que me era imposto pelos meus pais. Nunca ninguém me perguntara se eu queria, ou se gostaria disso ou daquilo.
     Hoje ouço com um certo espanto as jovens mães perguntarem a seus filhos pequenos, de dois, três , quatro anos qual a sua preferência (da roupa, do sapato, do penteado, do programa)...
     Talvez seja este o motivo pelo qual nunca os prendo. Sempre libertos a esvoaçarem, pois são muito finos e leves.
     Naqueles tempos, mamãe  aparava os meus cabelos; mas, certa vez,  fez uma proeza. Tirando um pedaço da minha orelha logo no início  do corte,  vimos o sangue salpicado, em todo o vestido branco engomado.
     A aflição e o nervosismo estampados em seu semblante  me fizeram engolir o choro e nada disse para não causar-lhe mais sofrimento ainda.
     Por causa disto, mamãe determinou então que eu passaria a frequentar o  salão de cabeleireiros.  
     Livrei-me para sempre das torturas dos penteados presos ou de algum escape da tesoura amolada de mamãe... Preferia os cabelos bem curtinhos, um corte muito badalado na época, chamado  joãozinho. Ah! Como gostava! Livre, enfim,  da longa cabeleira...
     A partir destas lembranças ficamos a imaginar_ eu e a amiga, quantos fatos ocorridos na infância não determinam  comportamentos, gostos e aversões na vida adulta.
     Quedamo-nos a pensar... e até onde nosso próprio comportamento e palavras  não interferem diretamente na conduta dos  nossos filhos?
 

 
     

terça-feira, 17 de maio de 2016

CAUBY

   "...
Mais perto de Deus, como um anjo querido.
E ao relembrar-te a gente diz, então:
Parece um sonho que ele tenha vivido!"
(Quintana)
 
    Tirei o dia. Sim, amigos, tirei o dia pra curtir, pra recordar Cauby Peixoto! Quem diria... eu, aquariana(como ele, Cauby), substituo a acupuntura e o pilates   de hoje para ouvir Cauby em vários vídeos no youtube!...Não que este fosse o motivo inicial__ uma forte dor de cabeça e outras questões me impediram de seguir a rotina, que prezo tanto.
     Quando dou por mim, percebo-me refestelada na pequena poltrona em frente ao computador, deliciando-me com suas apresentações... de tirar o fôlego, de qualquer um mísero mortal, exceto de Cauby.
     Suas entrevistas deliciosas me entretiveram durante a manhã. E reflito sobre este artista, sua vida, seu caminho, sua determinação. Viveu da Arte . Em seu percurso determinou-se a se dedicar, se esmerar na profissão de cantor e intérprete. Alegre, jovial, generoso. E de uma voz e inteligência inquestionáveis.
     A geração atual nada sabe sobre ele. É aquela velha história... O Brasil é um celeiro de artistas criativos, cheios de dons, porém, infelizmente, alguns são criticados pelos motivos mais sórdidos, mais cruéis.  Há que se deter puramente na apreciação da expressão da Arte. E, neste quesito, ele foi imbatível.
     Confesso que, na mocidade,  apreciava sua voz e as canções do seu repertório. Mas espalhavam tantas tolices a respeito  dele... fruto da ignorância e do preconceito, que a minha admiração acabou sendo abalada. Portanto, agora que me sinto livre  e já não sou tão jovem assim, posso fazer minhas escolhas e aclamá-las.
    Era menina e gostava muito de cantar e imitar em casa os cantores da época!... Nada me intimidava. Ângela Maria (A Noiva), Cauby( Conceição) e Dalva de Oliveira( Ave Maria) eram os preferidos. Mas havia uma música em que eu adorava soltar a voz: Granada. Nossa!
     Morava numa casa de vila e, certo dia, a moradora do terreno ao lado veio se certificar se era eu mesma quem cantava. Depois disse, com olhar de admiração que eu alegrava os seus dias... Nunca mais me esqueci nem me esquecerei deste encontro. E até os dias atuais, revejo na minha mente o seu rosto e o seu sorriso.
     Dali em diante, quando eu cantava, achava que já tinha, afinal, uma certa responsabilidade. Não poderia falhar ou decepcionar o meu 'público' cativo.
     Cauby, sempre impecável nas suas apresentações, foi correto até o suspiro derradeiro. Elegante, extravagante como todo artista, genial. Que voz!.. Agora certamente emocionará plateias celestiais.
    
    
    
    
    

segunda-feira, 16 de maio de 2016

INOCÊNCIA DE PAPA-MOSCAS

  " É no ínfimo que eu vejo exuberância."
(Manoel de Barros)
 
        Aranhas... era este um dos  assuntos pautados na TV, no programa  pela manhã deste sábado.
     Confesso que , a princípio, rejeitei mentalmente. "Pra quê vão falar sobre isto?" Perguntava a mim mesma. "Que mau gosto!"
     Mas estava a beber meu café, saboreando tapiocas e deixei acontecer. Fiquei assistindo. Foi esclarecedor!
     Tanto que, após o programa, fui varrer ligeiramente a sala. Mas quando limpei embaixo do sofá, caprichei!... E não é que duas pequenas aranhas, transparentes, camufladas de pucumã, saíram apressadíssimas do esconderijo bem montado?
     Dissera o especialista na entrevista que, as que vivem nas casas não são inocentes, podem nos picar. Esqueci por momentos a minha índole budista... E conferi-lhes um golpe certeiro e mortal com a velha havaiana amarela. Foram dois: um para cada uma!
     E ele ainda dissera que aranhas têm veneno! Varia a periculosidade, dependendo da espécie.
      Lembrei-me de vovô Pedro, sempre presente em minhas recordações da infância.  Passávamos as férias no sítio dos meus avós e recordo-me perfeitamente da imensa e grotesca caranguejeira que vovô mantinha encarcerada numa gaiola, pendurada numa das paredes da grande sala...
     Mamãe achava estranho e tinha medo. Eu somente curiosidade, pois confiava em vovô. "_ Bom ter uma dessas, para atrair dinheiro", diziam os antigos.
     Até o dia em que a grande mãe teve filhotes. Foi um desespero! Mil e uma aranhazinhas correndo pra cá e pra lá, pela casa grande da fazenda. Foi um "Deus nos acuda!" 
     Cutucando a memória vem à tona outro fato : uma amiga e sua filha contaram-me que , ao pernoitarem num hotel, a caminho de Teresópolis, pela madrugada deram de cara com uma imensa aranha no banheiro.
     Minha amiga gritou aflita, batendo na parede que compartilhava com o outro chalé, ao lado, pedindo ajuda. Mas qual o quê! Ninguém veio socorrê-las, pobrezinhas! Ainda reclamaram do barulho. Insensível vizinhança...
     Resolveram ligar para a recepção e, depois de muito tempo(parece que foram buscar o bom homem em sua casa, no meio do mato), um corajoso agricultor veio com uma vassoura e nos ensinou: aranha se mata com vassoura!... Espetou-a mil vezes até que a pobre coitada tivesse fim.
     Aqui em casa, eu passei a simpatizar com um papa-moscas que me faz companhia entre livros e papéis, na minha mesa. Muito à vontade, passeia pelo computador, pelo radinho de pilha, sobe e desce no cavalete, vai pela pequena estante presa à parede em frente,  e, às vezes, dá umas voltinhas pelo chão , chegando a pular pra frente.. Sua inocência me toca. 
     Mas  depois do programa, aprendi que ele é também uma espécie de aranha e que guarda o seu veneno; pouco, é verdade, mas é veneno.
     Olho de soslaio para ele. Começo a implicar com o meliante. Achei que fosse inofensivo. Toda a cautela é pouca, porém... percebo que já me afeiçoei ao bicho! Não pretendo melindrá-lo.
 


 
" COM FIOS DE ORVALHO
ARANHAS TECEM
A MADRUGADA."
(Manoel de Barros)
   
    

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A LISTA

     Agora existem uns mosquitos que se tornaram famosos... os de pintas brancas. São bonitinhos!... Já vi um pousado comodamente numa bela rosa, no canteiro de rosas do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Pude observá-lo bem.
     Aliás, este é um lugar que vale a pena visitar. Ar puro, canto dos pássaros e verde, muito verde...
     Fiquei um bom tempo sem ir lá, com medo dos mosquitos!... Passei a caminhar no calçadão, ou simplesmente, beber água de coco apreciando o mar . Um pouco difícil é escolher agora um passeio para desfrutar a natureza. Porque é disso que eu mais gosto!


     Cinema? Nem pensar por enquanto, por causa da gripe. "_ Evitemos aglomerações", dizem os entendidos. A vacina já me causou um grande mal estar, portanto, também a evito. Sendo assim, resta-me o consolo dos livros, dos passeios vespertinos nos shoppings, das cafeterias com os amigos, da escrita.
     Gosto muito de viajar a conhecer lugares onde a natureza seja exuberante, como em Foz do Iguaçu, por exemplo.  Atualmente, em virtude desses empecilhos, recuo ante a ideia. Tolho-me. Adoraria vasculhar o Pantanal, conhecer seus pássaros exóticos, perambular por lá. Mas já me avisaram que insetos  não faltam e temos até que tomar a vacina contra a febre amarela antes da viagem... Desisto.
     Confesso que, neste período em  que atravessamos, cheio de inseguranças, a tendência nossa é aquietarmo-nos. Observar o rumo que o país tomará. E , a mim, esta situação presente me faz cautelosa ante gastos extras.
     Se pensarmos demais, em contrapartida, nem sairemos de casa... O perigo pode estar em qualquer lugar, desde a esquina da nossa rua,  até numa ingênua visita aos jardins do Museu da República, onde garças e aves aquáticas nos esperam. Os famigerados aedis egyptis nos espreitam em qualquer lugar!...
 
 

 
     Contudo, a lista de viagens desejadas continua à espera da realização! Mochila nas costas, a minha companheira inseparável das minhas aventuras __ a máquina fotográfica, roupas confortáveis e disposição. Sonho.
 
 

quarta-feira, 11 de maio de 2016

BOCEJOS EM DEMASIA


     Já nem me lembro direito se chuviscava, pela manhã. Saí cedo, o tempo estava feio, mas precisava reivindicar o  vale postal por direito, nos Correios da agência da pracinha.
     Imaginem que enviei , por Sedex (pra chegar no dia seguinte), no começo de abril, um livro como presente da Páscoa para uma pessoinha muito querida, residente na cidade de Salvador, na Bahia. Chegou dez dias após...
     Pedi então  uma pequena indenização pelo atraso. Ok, os Correios concederam. Agora, é gastar sola de sapato, pois sempre dizem na agência: "_ Ainda não chegou..." ou "_ Não chegaram..." os minguados reais. 
    Se fosse só ouvir a negativa, já é de se esperar, porém o caso torna-se mais grave quando a funcionária do último guichê chama você, que se dirige esperançosa ,   confirma  o que você desconfiava de que iria ouvir , mas isto tudo em meio a bocejos insistentes _ quase uma patologia!...
     Foi demais! Um jeito estranho de falar, a voz arrastada e bocejos... muitos... um atrás do outro... Até que não me contive! Disse à pobre moça, de olhar pernóstico e sem brilho algum, cabelos curtos e mal cuidados, fala mansa, esmalte descascado, gestos teatrais: "_ Querida, vá beber um café forte! E, de preferência, sem açúcar, para, talvez ,acabar com este sono teimoso e inoportuno."
     De novo aquele olhar atravessado encontra o meu e lentamente define: "_ Ah, eu peço até...(bocejo)...desculpa...(bocejo)...  à cliente...(bocejo)...porq(bocejo)...ue pode pensar...(bocejo)... que é falt...(bocejo)...a de educação...(bocejo)... mas...(bocejo)... não!...
    Diante deste comportamento, nada mais disse. Não adiantaria.  Ninguém modifica o procedimento  por ouvir o outro alertá-lo. São poucos. Só mesmo os de inteligência aguçada e de boa vontade.
     Já que não gostamos de sermos tratados assim, devo, então, procurar conduzir-me na vida de modo diferente! É o que procuro fazer: dar atenção, ser gentil, sorrir amistosamente, saber ouvir com interesse, alimentar   virtudes. E não tenhamos dúvidas! Quanto mais nos esforçarmos , seremos nós os maiores beneficiados: o coração pulsará forte e a nossa face irradiará felicidade, pois, naturalmente, expressaremos o  verdadeiro eu.
 
"...
O homem tem a pobre, a estreita cabeça fechada...
(Porém, não para sempre, meu Deus... Não para sempre!)
 

      (  Mário Quintana, em O OVO SAPIENS)