terça-feira, 15 de dezembro de 2015

HIBISCOS

     Na Casa de ervas  em Copacabana o susto foi grande. Depois de enfrentar  a fila enorme para escolher e pedir o produto, ainda havia a outra fila para fazer o pagamento. Saíamos de uma e entrávamos em outra.
     Algumas pessoas desistiam quando percebiam o processo  e calculando o tempo que levariam, iam embora murmurando.
     Mas resolvi treinar uma das maiores virtudes que podemos conquistar: a paciência! Detive-me na primeira e esperei. Atrás havia uma senhora sorridente, trajava um leve vestido, usava sapatilhas confortáveis e disse-me, completara oitenta e um anos. E, como é de praxe, logo retruquei: "_ Oh! Não parece!" Realmente era muito lúcida, alegrinha e cheia de iniciativa. Mas não resistiu aos tortuosos minutos ali, em pé, num calor de 36 graus do final da primavera carioca.
     Saiu uma, entrou outra alta, cabelos tratados  e penteados  com capricho. Num vestido estampado de seda de corte reto , usando bolsa simples de couro caramelo e sapatos usaflex de pouco salto , chegou logo tomando o seu lugar na extensa fila piscando o olho pra mim, afirmando: "_Assim já poupo tempo."
     Esperta a velhinha, que começou a perguntar alto sobre os benefícios de um certo chá  à senhora do balcão __que a tudo respondia com precisão  em sua voz metálica, com pompa e uma pitada de mistérios. O povo gosta. Desde surfistas machucados curiosos acerca de óleos que amenizassem inflamações, até senhorinhas aflitas e trêmulas a questionarem sobre chás.
     Esta última tinha dúvidas sobre hibiscos. Contou , para quem quisesse ouvir, que amanhã irá ao cardiologista e não queria apresentar-se com aquele desastroso inchaço nos pés. Seguindo a dica de uma amiga, beberia chá de hibiscos!...
     Ouvi histórias variadas; vi gente de todo tipo(até porque escritor que se preza observa!) e , aliviada, percebi que meus problemas são  leves e contornáveis.
     O jovem atendente, em sua lentidão, finalmente pesou para mim os damascos, as castanhas e as pecãs , fonte de proteínas que tanto aprecio. 
     Aliviada, entrei na outra fila  e lá estava a velhinha dos hibiscos que já colocara em sua cestinha dois pães de forma  que ela, muito sábia,  escolhera com cuidado. Quando lhe perguntei se eram aqueles os pães sem glúten que ela tanto anunciara, disse-me arregalando teatralmente os olhos azuis , que ainda traziam uma certa beleza e suavidade: "_Sim, sim! Treze reais cada! Treze reais!". E todos riram, tal a maneira como manifestou a sua indignação.
     E comentei enfática: "_Continuarei, portanto, a comer tapiocas! " Mais risos. Até que chegou a minha vez de pagar à falante gerente do local. Entreguei-lhe as poucas compras e esperei o valor parecido com o do mês passado. Mas qual o quê!...
     O susto viria agora e eu, confesso, não estava preparada. "_São setenta e quatro reais", ouvi daquela voz desagradável ainda mais desagradável agora, me dizendo o total a pagar...
     Meu lábio inferior tremeu... A senhora do chá gritou: "_ Somente três produtos! Vejam! Só três coisinhas!..."
     Eu estava atônita. Retirei calmamente o cartão da pequena bolsa. Entreguei-lhe e manifestei o meu desgosto. E a velhinha, sabida, embalada pela fala solta  e imaginação fluente dispara: "_ Choveu muito no sul! Por isso os preços aumentaram.
     Ainda tentei , abalada, timidamente retrucar , mas já estavam todos muito assustadiços com o ocorrido. E, afinal, é tempo de Natal.
    
    







domingo, 6 de dezembro de 2015

"AO PEDRO II TUDO OU NADA?..."

     MEUS TEMPOS DE PEDRO II é uma breve página sobre_ como o título já anuncia, o período em que estudei neste Colégio, na época, exemplar. Sairá publicada na próxima Antologia, ainda neste mês de dezembro.
     "Inesquecíveis aqueles anos da década de 60. Nunca poderia imaginar que, a partir da ..."  Assim começo a narração.
     A vida corre, muitas coisas, comportamentos, a própria sociedade foi transformada. Uma transformação silenciosa, paulatina, sem planejamentos, porém algo aconteceu.
     No tempo pacato em que estudei lá, um tempo sem violência, usava o charmoso bonde ou o lotação. Não existem mais.  No tempo em que estudei no Pedro II havia um respeito aos professores oriundo de profunda admiração. Até porque aluno respeitava professor. Mesmo se não o admirasse tanto assim. E hoje em dia?
     Hábitos, conduta, vocabulário, questões variadas; atrevo-me a dizer que a sociedade na qual vivemos foi um tanto corrompida.
     Por isso também tratamos as nossas lembranças  com especial carinho. Por isso, mantemos no nosso coração a chama de amor a este tabernáculo da cultura.
     Muitos colegas ficaram na nossa memória, outros nos acompanham com a sua amizade até os dias atuais.
     Professores carismáticos, inspetores determinados , Hino Nacional Brasileiro cantado sempre à hora da entrada. Formação, cultura, conhecimento.
 
 
     Várias personalidades estudaram lá. Era o ensino de referência. Passar no concurso para o Colégio Pedro II nos enchia de orgulho.
     Mas as minhas histórias conto no livro. Um pouco das minhas boas lembranças...