quarta-feira, 17 de junho de 2020

CASACA-DE-COURO

"...prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores." (Cecília Meireles)
 
     Hoje o passeio matinal _ apesar da pandemia alastrada, atemorizando todos nós, foi específico para procurar pássaros. Sim, sem dúvida, ela parecia ansiosa, e nada havia que pudesse demovê-la deste intento. Só, talvez, se caísse um toró daqueles!
     Aliás, diga-se de passagem, a palavra pandemia ( do grego = " de todo o povo")  é uma epidemia de doença infecciosa que se espalha entre todo o povo de um continente, ou mesmo de todo o planeta.
     Mas, voltando às amenidades, ela, a nossa personagem em questão, com sua Nikon a tiracolo e máscara, naturalmente, lá se foi  a percorrer, devagar, a comprida rua sombreada pelas amendoeiras em profusão, ao romper da madrugada.
     Um sol fabuloso ameaçava surgir, então não perdeu tempo. Seguiu.
     Uma enorme abelha(seria um zangão?) rodeou-a diversas vezes, enquanto parara a fotografar, causando-lhe um certo desconforto: zzuuu...zzuuu...zzuuu... Mexeu as mãos com delicadeza e o bicho sumiu...
     Vencida a primeira etapa, continuou, jogando de vez em vez migalhas de pão . Quem sabe gostariam do quitute? Era pão integral e fresco!...Foi assim até o final da rua.

    
 
 
 
 
 
     Num cruzamento, policiais que fazem a ronda no bairro pararam para que atravessasse. Que gentileza e cuidados! Isto deu-lhe mais tranquilidade para continuar. Afinal,  " estamos em casa, mas os bandidos continuam nas ruas..." É o que dizem.
    
  
      E o casaca-de-couro estava lá! Finalmente ia aprisiona-lo numa foto! Mas o bicho é rápido demais. Muito agitado... mas conseguiu uma foto, quando aquietou-se por milésimos de segundo no telhado de um restaurante; então, foi mirar e clic!
 
      Vivia atrás deste bicho  há muito tempo, desde que o viu pela primeira vez, ainda nesse ano. Foi amor à primeira vista! Muito arisco, nunca conseguia. Até que enfim! Metade do corpo, mas tá valendo.
     Deu meia volta, lentamente, prestes a retornar para casa. Uma mulher passa, a fazer caminhada, sem máscara. Que vacilo! 
      O coração suavizado pelas boas emoções do romper do  dia, com as luzes da manhã surgindo, pouco a pouco, acompanhadas da cantoria espalhafatosa dos pássaros! Tem coisa melhor? Funciona como remédio a cicatrizar feridas profundas da alma.
     A caminhada foi breve, o percurso pequeno; no entanto, já tinha conseguido fazer uma faxina e tanto no coração. Aliviada, seguindo seu curso, ainda bateu algumas fotos. Um passarinho aqui, outro ali, até chegar em casa.
     Foi assim a sua manhã, cheia do mistério da vida. A vida real, de beleza, de atributos muitas vezes indecifráveis. 
"...
 
Para seres feliz, levanta cedo:
Vai à floresta e, sem recato ou medo,
Exibe, enfim, as tuas cicatrizes...
 
 
   Consolar-te-ão as árvores felizes;
   Há ninhos e perfumes no arvoredo,
   Onde chilreia, álacre, o passaredo,
   Expandindo-se em glórias e matizes!
     ...
 ( Renato Travassos)
        
 
    
 
  
     

quarta-feira, 10 de junho de 2020

FALANDO DE UM BICHO FEDORENTO

     Já é o segundo percevejo aqui em casa. Bicho fedorento!... Soube que existem dezenas de milhares de espécies! Este era o mais inofensivo, o "percevejo-fedorento", marrom e que  suga as plantas. Provavelmente procurava calor nestes dias frescos...
     Na semana passada, um grudou na grade da varanda, mas levou um banho de álcool! E o que ele fez? Voou na minha direção,  parecendo enfurecido...
     Um grito saiu da minha garganta, no momento do voo. Não pude conter-me.
     Morreu com uma chinelada.  Tonto, foi fácil. Que me perdoem os budistas convictos!...
     Como exemplo, cito a carismática Monja Cohen que narrou, numa de suas simpáticas palestras, que havia uma porção de formigas na pia da cozinha do mosteiro onde vive. Então, para  evitar a matança, resolveu assopra-las!... Não dá no mesmo?...

Percevejo-do-mato
agarrado à grade _
fedor na varanda
 
      Hoje, caprichei no lanche: café na xícara vermelha de Nova York e duas torradas com geleia de cassis _ sentada no pequeno sofá,  assistindo a  mais um episódio da série coreana(adoro!) "Chocolate", vejo uma mancha escura deslizando no chão da sala, com certa rapidez...
   Quase não acreditei... Será que é da família do que morreu? Será que veio reclamar o corpo? Ou, pior ainda, será que é aquele mesmo que recuperou a vida?     
    Tive que ser rápida e certeira: com a havaiana surrada dei-lhe um golpe! Levantei o chinelo pra conferir o estrago. Qual o quê! O bicho continuou a andar, todo serelepe, deixando seu odor nauseabundo...
     Então, decidi ser mais enérgica. Splash!  Com violência e prolongando o tempo calcando a sandália velha em cima do diminuto monstrinho, finalmente ele morreu.
     Com papel toalha peguei-o e o joguei no saco do lixo. O mau cheiro empestava todo o ambiente.
     Mais álcool! Mais papel toalha!
     Finalmente, tudo serenou... mas quando vou até a área de serviço, o cheiro ainda está lá...
     Fico me perguntando: Por que não entrou, pela bucólica varanda, uma colorida borboleta, a dar voltas, alegrando a quem visse?  Ou mesmo uma  linda joaninha,  joia rara nos jardins? Ou, ainda, uma libélula atraente, inspiração para haijins? Até um grilo sapeca ou um pirilampo enamorado? Por que?...
 
Ousada libélula
na ponta do caule
tal qual uma flor
    




segunda-feira, 8 de junho de 2020

UM DIA DE CADA VEZ

     Já não saio mais de casa... já não visito amigas, nem recebo mais! Insegura, evito conversar com vizinhos e funcionários da padaria , ou mesmo da farmácia costumeira. Portaria do prédio? Somente um tchauzinho de longe.
     Que tempos são esses?  Falam agora numa mudança do vírus, que passou a atacar violentamente crianças e adolescentes. Sem piedade. Aliás, parece que piedade esse vírus não tem mesmo.
     Esta meia vida se apresenta  muito mais possante do que o próprio Hércules!...Esperemos que não seja imortal tal qual o herói mitológico...
     Do jeito que as coisas vão, acredito que tudo pode piorar. Senão, vejamos: os cariocas passaram a andar, livremente pelas ruas, exercendo o direito de ir e vir... assim, como se estivéssemos numa sociedade diferenciada, muitos sentindo-se  isentos da obrigatoriedade do uso de máscaras.
   Procuro, pesquiso, mas não vejo ainda uma solução estabelecida. Cruel experiência as crianças estão vivenciando...
     Saudades das manhãs no Jardim Botânico, onde desfrutava de momentos inesquecíveis , observando pássaros, peixes no Lago Frei Leandro, carpas coloridas no lago do Jardim Japonês,  aprendendo a pintar, ou somente caminhando por entre o arvoredo, palmilhando suas aleias ricas de aromas! 
     E , muitas vezes, destes momentos prazerosos, brotavam  poemas! Tudo isso passou, como um filme... Nunca mais serão iguais os meus dias ali.
 
MOMENTO ENCANTADO NO JARDIM
 
A Natureza pródiga estende
um tapete vermelho-carmim
submisso, a meus pés.
A cada minuto, um eco
da tinta rubra que cai na tela
da terra barrenta.
 
Tem um cheiro gostoso...
É um não sei quê de suave e doce...
 
E o som continua a espocar.
 
Estamos sós. Eu e os jambos.
 
     Os cinemas em Ipanema, o Shopping Leblon, as galerias e seus cafés... não creio que tudo volte como era antes, até porque muitos estabelecimentos já haviam cerrado suas portas, falidos, ou quase.
     Tento viver um dia de cada vez, sem imaginar a médio e a longo prazo. Este vírus deu uma grande rasteira na humanidade e não sabemos bem como será daqui por diante.
     Não fazemos ideia, portanto é viver um dia após outro, com hábitos higiênicos reforçados, máscaras (hoje comprei uma de oncinha, era o estampado que tinha!...), sempre levar conosco um vidrinho de álcool gel, nos distanciarmos das pessoas(isto é o mas difícil) e seguirmos em frente alegres(senão, a imunidade pode baixar!...)
     Crianças estudando pelo computador, funcionários de empresas de variados portes em home-office, os cabelos crescendo e não mais " ficando em pé", médicos atendendo pelo valioso WhatsApp... Novos comportamentos surgindo, a humanidade se reinventando... e o vírus seguindo sua faina incansavelmente.
     Certo dia desses, um Guru afirmou  que a prática de alguma técnica meditativa nos ajudará a mantermos e até  a aumentarmos a nossa imunidade. Vamos tentar? 
 

 
 
    
    
    
     

segunda-feira, 1 de junho de 2020

APOSTEMOS NA CURA

    
      Traduzido precariamente, este é o texto criado por um Guru que, pela mídia, tornou-se muito conhecido.
     Vez ou outra o assisto, pois suas palavras são coerentes, seus ensinamentos têm fundamento.
     Ontem, durante sua preleção, tomou de uma folha de papel e, suavemente, pergunta_ há um enorme auditório em frente a ele _ "_Vocês querem ouvir o poema que fiz sobre o Corona?" E dá um sorrisinho ... 
     Aplausos. Então, sempre com seu jeito calmo , com uma dose de brejeirice, Sadhguru toma do papel e diz, com naturalidade, o poema que ele intitulou ....................  
      
                                         "CIRCA 2020"
Descrevo os olhos dos seres humanos
Oscilando entre o medo e a esperança
Procurando através de portas fechadas
E abrindo janelas
Para detectar vestígios do vírus.
Ele nos lembra como o organismo invisível
Que pôs o mundo de joelhos, dança.
Ele observa como os cuidadosos
São rotulados como covardes
Os muito ousados morrem.
Como as soluções falsas são muitas
E como um organismo minúsculo
Confundiu a humanidade.
Humildemente ele continua ali
E com esse tempo desafiador
Traz à tona
O melhor e o pior
Das diferentes pessoas...
    
      Verdadeiramente, cada um reage de acordo com a bagagem que traz em si. Muitos fazem preces, enviam energias aos doentes, procuram manter a mente sã e atendem às recomendações dos médicos e cientistas; outros fazem diferente: revoltam-se com arrogância.
     Piores são alguns  governantes que se destacam no noticiário,   tentando burlar a lei.  Nefastos ao povo, à sociedade, procuram como um vício_ ganhar dinheiro ilicitamente, com compras de remédios e aparelhos de ventilação superfaturados... Calamitoso comportamento.
     Mas, vejam a flor como um bom exemplo: em seu caule pode até haver espinhos danosos, mas no ápice destaca-se a flor tão bela quanto perfumosa. Assim os humanos: existem os que ferem,  assim como há aqueles que surgem  como flores, espalhando seu doce aroma.
     Apostemos, portanto, na cura do desânimo e da desesperança com o perfume da amizade, a alegria da beleza e o calor do amor.