terça-feira, 5 de maio de 2020

O CÉU E O INFERNO

     Falece o grande ator Flavio Migliaccio, dizem os noticiários. De quê morreu? Matou-se.
     Como numa peça teatral, fecharam-se as cortinas; só que neste caso, o próprio personagem puxou as cortinas do palco da sua vida.
     Descrente, afirmou ,em tom melancólico,  na carta em que se despediu: "Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é (...) como tudo aqui. A humanidade não deu certo. A impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este e com esse tipo de gente que acabei encontrando..."
     Faltava pouco, mas ele não conseguiu superar. Devia estar muito pesada a sua cruz. Desistiu, assim, renunciou à vida que levava no seu sítio.
     Não morava numa pocilga, num lugar infame, sem água, nem esgoto. Não. Tinha um sítio e lá estava, passando os derradeiros dias de sua existência.
     Há uma história que diz que um homem queria vender seu sítio e, caminhando na rua , encontrou-se com o amigo, o poeta Olavo Bilac. Pediu então que redigisse um anúncio para publicar no jornal, já que conhecia este lugar.
     O poeta pegou um papel e um lápis : " vende-se uma encantadora propriedade, com extenso arvoredo onde cantam os pássaros ao amanhecer; recortado por cristalinas e rumorejantes águas de um belo ribeirão; e a casa é banhada pelo sol nascente e oferece as sombras tranquilas das tardes na varanda."
     Passados uns dias, o poeta se encontrou com o amigo e perguntou se já havia vendido, ao que o outro lhe respondeu: Nem pensei mais nisto! Depois que vi o anúncio, percebi a maravilha que tinha.
      De sorriso farto, olhar carinhoso, o ator se perdeu nas vias da sua íntima tragédia.
     Hoje mesmo comentei com uma amiga de longa data que o mundo , às vezes, parece estranho... É o filho que não conversa porque não tem tempo,  é o marido que se engraça pela vizinha, é a conhecida que, apesar da idade, se mostra arrepiante de tanta amargura e fel...
     Enfim, já perdi a conta de quantas vezes me vi acabrunhada ante a maldade, a insensatez, a frieza ,e o desamor dos humanos.
     É o que digo: não podemos esperar ternura de quem não tem. Assim como o bondoso nunca faria mal a alguém, o maldoso, o irascível também não poderá transmitir paz nem alento, nem ternura, nem compreensão. Assim funciona a humanidade.
     Estudar nunca é demais; debruçar-se sobre as obras de Kardec nos darão esclarecimentos para que vivamos com consciência.  O livro  O Céu e o Inferno narra de maneira surpreendente a escuridão em que vivem os suicidas.  
     Quem gosta e precisa de carinho e de atenção? Principalmente as crianças e os velhos. Quem está disposto a lhes oferecer isto?


 
    

3 comentários:

  1. De grande valia o seu comentário.Triste, muito triste a vida de um suicida ao pensar que assim iria descansar e viver melhor...que nada, encalacrou-se todo, coitado!!!

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  2. Sim, minha amiga, é a mais pura verdade! Uma pena que vivamos tantos anos e não tenhamos aprendido algumas lições básicas!... Bjks!...

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  3. Que triste, um grande artista, acabar desse jeito - O suicídio - pensando se livrar de tempos ruins, acaba se complicando muito mais. Muito triste...

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