domingo, 10 de junho de 2012

TUDO PRONTO PRO ARRAIÁ

   




    (Taí um belo buquê para um casamento à moda caipira!)
   
    Coloridos balões japoneses subindo aos céus... Na altura do muro que separava o quintal da nossa casa do rio, trepada no banquinho que mamãe pressurosa segurava, cheia de cuidados, eu me entretinha, maravilhada, junto a papai, que na ponta do pau da vassoura lançado acima do riacho, mantinha presa a rodinha que chamuscava aceleradamente, rodando, rodando, louca, a dispersar fagulhas cheias de vivacidade.
    Sozinha tinha a permissão para soltar estrelinhas. Papai pegava um fósforo, acendia uma extremidade e, a partir daí, tudo era magia! Eu tinha estrelinhas tão perto!Nas minhas mãos! Ficava maravilhada...
    Bombinhas eu não curtia muito;só mesmo a molecada do bairro que se entretinha com elas, além dos estalinhos e dos famosos e temidos buscapés. Era uma fartura de fogos e de balões. Ainda não eram proibidos. A vida era diferente.
    Meu colega dos tempos de Escola Primária, Marcos Vinicius, neste período, a cada ano nos convidava para a festança na casa de seu avô, ali naquela mesma rua onde morávamos. Casa grande, quintal maior ainda  e nos esbaldávamos! Fogueira, quentão, batata-doce assada, mandioca, milho...  Êta trem bão!... E as bandeirolas coloridas, tremulando, coladas no fio de barbante grosso.
    Sempre gostei de dançar; quadrilha, então, nossa! Era o ápice da festa! Ficávamos eu, papai e mamãe até bem tarde... Não havia proibições. Tudo era permitido: dançar com o amigo, tentar pular a fogueira, comer o que quisesse, me lambuzar à vontade, soltar fogos!Tudo era deliciosamente farto e alegre! O sorriso vinha fácil nos lábios sempre sisudos de minha mãe, austera; meu pai esbanjava sua simpatia atordoante, conversava animadamente com todos os amigos. Grupo bom, gente companheira, espaço, ar livre, ingenuidade, simpatia, gritaria, a sanfona que não se cansava nunca!
     Nunca fui a noiva do jeca; morria de vontade de ter um buquê de couve-flor! E jogar aquele arranjo pra trás como fazem as noivas de verdade...
    A simplicidade fazia a felicidade de todos os presentes. Um tempo em que as canções eram mesmo de música caipira; as roupas eram confeccionadas de chita, um pano de algodão todo colorido! Meninos usando  bigode, cavanhaque e costeleta pintados com lápis.
    Minha mãe me maquiava e sempre tirava de uma caixinha redonda, verde e minúscula, com tampa transparente o sinalzinho que aderia fácil na minha bochecha. Eu achava o máximo!E ficava linda e toda prosa!... A saia bem rodada, batendo nas canelas, armada com anáguas engomadas com Maizena.
    Acostumarmo-nos ao tempo que passa... ou será que nós é que passamos pelo tempo... isto é difícil de entender...mesmo que nos expliquem com tais e tais teorias e filosofias ... Não adianta. Nosso coração carrega um montão de saudades. De gente, de coisa boa que vivenciamos, de gostos que o paladar não esquece, de músicas que ouvimos e que marcaram momentos felizes, de festas especiais dos Santos.
    Abro a janela e vejo as estrelas cintilando mais do que nunca nesta noite fria de junho. 


   

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