segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"... COMO UM SUSPIRO DE EXTINTO GOZO..."

     Caminhando à tarde pelas ruas aqui do bairro, observo a impaciência das pessoas que transitam, esbaforidas. Correm para onde? Qual o motivo de tanta pressa?
     Sem querer, esbarram, atropelam, insanos momentaneamente. E fico me perguntando o que move estas pessoas para que ajam assim?
     A vida passa muito rápido! Isto já percebi. Creio que viveríamos bem melhor se mantivéssemos a calma, a ternura, o bom humor, a gentileza. Não dizem que " gentileza gera gentileza"? Pois é...
     Num mundo só meu, dissipo meus iniciais desmantelos mentais pela atenção plena movida pela vontade; e afirmo que, às vezes, confesso, não é nada fácil! São infindáveis os estímulos para que nos desorganizemos emocionalmente e, com isso, dá-se o  abalo físico, gerando desde uma simples dorzinha de cabeça que um analgésico comum soluciona, até uma doença grave ou mesmo, crônica.
     Lembro-me de um renomado fotógrafo que passou a vida a clicar cenas desconcertantes, nefastas, mostrando miséria, doença, decrepitude. Até que adoeceu e foi-lhe dito que se não mudasse o foco, não teria cura. Seria o seu fim. Mudou a atitude, então. Passou a se interessar pelas belezas do mundo natural. Viu sua saúde ser recuperada aos poucos. À medida que se detinha na observação da vida, sua saúde era normalizada. 
     Faz sentido. Se você presta atenção em determinado fato, esmiúça-o e repete e repete, certamente essas informações serão guardadas no seu computador, o cérebro. E isto, possivelmente, irá afetá-lo.
     Tomamos conhecimento de muitas informações para  nos preservarmos, mas esbarramos em tanta notícia negativa que , geralmente, não conseguimos suportar.
     Hoje, por exemplo, me detive a ver o noticiário na TV durante o café da manhã. Isto foi péssimo! A hora em que nos alimentamos, dizem os mestres, devemos silenciar e comer em quietude, com respeito, a nossa refeição. Logo de início, noticiário trágico, anúncio de mortes, de bandidagem. Uma lástima!
     Por distração, talvez, estamos longe de admitir que isto nos faz mal.  Quanto mais notícias de crueldades, mais violenta a sociedade será. Até os filmes na televisão, que seriam para a nossa distração, nos transmitem emoções ruins, pesadas.
     O premiado artista japonês Hayao Miyazaki, afirmou recentemente: "...Talvez tenha havido um tempo em que era possível fazer filmes que importassem, mas hoje muito do mundo é lixo".
      E ficamos assim, meio negativos, meio melancólicos, meio... Nunca inteiros! Porque a Natureza, da qual fazemos parte, nos aponta o caminho da sanidade, das bênçãos da alegria, da suavidade, da fraternidade, da ação harmoniosa. Mas ainda estamos longe destas conquistas que nos trarão sanidade, paz e amor, de fato.
     Portanto, haja Poesia!... Pois a Arte em geral   nos salva da loucura, do desequilíbrio, da indiferença, da maldade.
 
de Manuel Bandeira,
FELICIDADE
 
A doce tarde morre. E  tão mansa
Ela esmorece,
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro de  extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim cumprida, morre, descansa...
 
E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda a minh'alma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!
 
Oh, ter vontade de se matar...
Bem sei é cousa que não se diz.
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!
 
__Vem, noite mansa...
 
 

 
    
    

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