domingo, 23 de novembro de 2014

SAGA DE UMA GRÁVIDA

     Dia desses, estava assistindo na TV o depoimento de um conhecido médium que tem sonhos premonitórios e até os registra em cartórios__ de tão reais que são, quando recebi várias mensagens de uma amiga que iria viajar a trabalho.
     O sensitivo, num programa de entrevistas, detalhava o grande acidente aéreo que está prestes a ocorrer; enquanto que, minha amiga, pelas mensagens no celular, narrava-me os contratempos que sofria causados pela  empresa aérea.
     O acidente tinha dia e hora marcados, número do voo e o lugar onde irá acontecer. Já a minha amiga foi surpreendida.
     Voo confirmado, check-in realizado, portão de embarque registrado. Grávida, ela aguardava tranquila. No entanto, com os passageiros já acomodados, avisaram que havia um problema e que o avião não podia decolar. Saiu todo mundo revoltado, xingamentos, falação... Hotéis para os que não moram na cidade de Salvador e táxis providenciados pela companhia.
     Luzia voltou para a empresa onde trabalha. Teria que esperar até à tardinha, no novo horário oferecido. Perdera a reunião de trabalho em Juazeiro.
     Partiu de novo para o aeroporto no horário previsto.
     Dentro da nave, a música  altíssima importunando fez com que pedisse para que abaixassem o volume e torcia para que atendessem ao seu pedido. Além deste fato, um barulho persistente acompanhou todo o trajeto do voo: 'nhencnhencnhenc...' Os passageiros nervosos, comentando: "Parece um carro velho que não quer pegar!"
     E sanduíche? Tinha!!! De carne seca! E o homem ao lado , com fiapos trincados nos dentes, disse-me ela, tentava, desesperadamente, arrancá-los com a força da língua que se alongava em movimentos satânicos e barulhos esdrúxulos.
     O avião pousou em  Petrolina. Ufa! Agora é tomar um táxi e partir para a cidade próxima de Juazeiro.
     E não é que o taxista, um ferrenho defensor da moral e dos bons costumes,  a atormentou durante o percurso falando verborragicamente sobre política!? Como não opinasse, displicentemente olhava para a paisagem vista pela janela ao lado, ele partiu, então, para um assunto mais polêmico: Casamento entre gays! Minha amiga não sabia mais o que fazer... Sua cabeça fervilhava. Queria manter a postura pacata, mas   aquela falação a deixava cada vez mais exasperada.
     Finalmente chegou ao seu destino! Acomodação no hotel já previsto, um bom banho e uma noite de sono a fariam recompor-se, pensou.
     No dia seguinte, brindada com um café da manhã farto, típico nordestino, com cuscuz de milho, tapiocas e ovos mexidos, entre outras iguarias, estava nova em folha! Rumo  para a reunião de trabalho!
     Dia findo, aeroporto novamente.  E qual não foi a surpresa da noite? A empresa, por seus funcionários, revela a grande preocupação no check-in do balcão, quando minha amiga escreveu que estava com vinte e cinco semanas de gravidez. Ela só poderia embarcar com o atestado de um médico!  Portanto, somente no dia seguinte embarcaria.
     Luzia fez um escândalo!... Determinada, providenciou o check-in na máquina, porque a funcionária se recusou e foi uma confusão. De onde tiraram esta ideia estapafúrdia? E o seu trabalho? E porque não avisaram antes? E que cuidados são estes criando todo este alvoroço? Isto faz bem pra quem?
     Um passageiro médico  se prontificou a prescrever o tal atestado. E tudo terminou bem. Santo homem.
     Estavam preocupados com a segurança da mãe e do bebê, palavras da funcionária do balcão; no entanto, permitem e aceitam um atestado de um médico desconhecido que nunca a viu e que não a examinou.
     Pois é... Existem companhias e companhias... Há que serem feitas as escolhas certas. Neste caso em questão, a escolha foi feita pela empresa onde Luzia trabalha.
     A companhia aérea, avisada pelo médium do acidente que ocorrerá na próxima semana, já tomou uma medida preventiva: mudou o número do voo. Talvez tenham consultado algum numerólogo e assim, quem sabe, acreditam ter evitado a catástrofe. Aliás, é para isto que servem estes sonhos.
     Já a empresa que faz os voos de Salvador para Petrolina e que aceita atestados médicos de araque continua com os seus voos assustadores e suas medidas 'burrocráticas'. É acertar os ponteiros da gestão.
    
 

  
     

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