terça-feira, 18 de julho de 2017

UM ANJO NO METRÔ

" Esta menina 
tão pequenina
quer ser bailarina.
..."
(Cecília Meireles)    

 Entrei no último vagão do metrô. Era cedo ainda e voltava para casa, depois de um exame de rotina.
     Tentei agarrar uma daquelas argolas acima e agarrar até que consegui... mas o difícil foi  sentir-me segura! Conforme o trem andava, as argolas acompanhavam o movimento pra frente, pra trás, para os lados.  E o meu corpo bamboleava...Haja equilíbrio!
     Uma jovem, do outro lado, talvez percebendo a minha dificuldade, chamou-me para sentar tocando o meu ombro. Mas, rápido como um vendaval  de verão, um homem apoderou-se do assento. E quem se atreveria a reclamar? Era alto, espadaúdo e mal encarado o grandalhão. A moça, meio sem graça, perdeu o seu lugar e deixou de fazer a boa ação do dia. Mas valeu a intenção...
     Conformei-me. Do meu lado direito, um casal cheio de salamaleques... e ao esquerdo, uma mulher de maus bofes, com sacolas aparentemente pesadas,  que lhe causavam provavelmente algum mal estar. 
     Mas... olho para o chão, para aquele cantinho ao lado da porta e vejo um anjo! Uma menininha dos seus oito, nove anos, sorrindo para mim. Isto é de causar espanto!
      Sorriu... sorriu... e disse num gesto pequenino: " Violino!" Apontando enviesado e encostando sua mãozinha delicada num dos ouvidos.
     Prestei atenção. Ah! Sim, agora ouço. Um som de violino incrível, suave, doce, melancólico. Tentei achar o músico de tanta finura ,esgueirando o meu corpo , abaixando-me um tanto até que o meu olhar pôde percebê-lo.
       Voltei o meu olhar para a garotinha que estava ali, entusiasmada com a música. Prontamente ela retribuiu  sorrindo e disse-me, cativante: " Eu já estudei violino!" Não estuda mais?" Perguntei-lhe, encantada. " Não", disse-me ela, " agora faço dança clássica!" e seus  negros olhinhos amendoados apertaram-se de tanta felicidade.
     Eu nessa etapa já me encontrava abaixada também, cheia de ternura. Queria prolongar ao máximo aquele encontro benfazejo.
     Notei que seus dedinhos ágeis vasculhavam o pequeno celular  e, assim que encontrou o que buscava, mostrou-me, sorridente a foto: "Veja, sou eu!"
     Num salto espetacular, como uma ave em pleno voo, ela ali estava. Estudava ballet. E nisso sua alma brilhava. Brilhava tanto que nos comovia.
     Imagem da dedicação na Arte, da pureza e da esperança.      Sua avó a acompanhava e pude perceber a simplicidade e o amor das duas.
     A Arte nos salva, nos eleva, direciona o nosso viver a uma outra dimensão.
     Aquariana, de sete de fevereiro , disse-me ela. Signo dos inquietos, dos que se comunicam facilmente, dos que estão prontos para abraçar a Dança, a Música, as Letras, a Beleza... Signo dos artistas, dos idealistas, dos que sonham com um mundo melhor.
     Ela tem as armas para conquistar vitórias: amor , alegria pura, vontade e ação determinada. Bravo!...
 
    

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