Sábado,feriado. Laboratório conhecido na zona sul da cidade, mais precisamente em Copacabana. Rua Xavier da Silveira.
Parecia que todo mundo tinha combinado. Lotado. Cerca de duas horas e meia de espera. O pessoal pra fazer exame de sangue com doze horas já de jejum, entrava em crise. Entreolhavam-se, temerosos de que alguém passasse à frente...
Na vez, ela entra, e vai dizendo, timidamente pra enfermeira, que começava a ver meio cinza, sem limitações...E a criatura, um tanto possessa, se dirige a ela, ao mesmo tempo em que crava a agulha em seu braço fino e delicado:
"_ Olha aqui, tá pensando em desmaiar? Não desmaia não, porque aqui não tem ninguém pra te segurar, minha filha! Eu tô com mais fome que você! Éeee... isso aí!...Não cai não!"
A mulher, sentindo dor na dobra do braço, com a mancha roxa já estampada, tenta parecer simpática ante a ferocidade da outra:
"_ Ah, imagina, tava pensando no Brad Pitt pra me segurar...he he he..."
"_ Como é que é? Heim? Dá pra repetir? Porque se cair, não tem nenhum Brad Pitt, não, minha filha, aqui só tem o Cruz Credo!... Éeee..."
E olhando pra mulher educada, que conseguia manter um sorriso doce estampado em seus lábios finos explicou, num desabafo:
"_ Nós pensávamos que não viria ninguém hoje, feriado! Mas veja só! Tudo cheio! Tínhamos planejado tomar aquele café da mnhã, seria uma comemoração! Cada um de nós, funcionários, trouxemos algo para o café.E não pudemos comer, até agora. "
A paciente ganhou a rua, aliviada. Sentiu o ar fresco no seu rosto. Ouviu e aplaudiu o violinista da esquina. E decidiu tomar um farto café na cafeteria mais próxima. Sem culpa.
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