quarta-feira, 23 de março de 2011

CIDADE DE DEUS

   Visita, confraternizações, alegria, entusiasmo num bairro que, não faz muito tempo, fora motivo de medo e apreensão.  Obama e sua simpática família lá estiveram para comprovar a gente boa do lugar.
   Trabalhei no bairro da Cidade de Deus há muitos anos. Vivi um tempo em que as pessoas que ali residiam era gente trabalhadora, esforçada, que queria melhorar a vida. O grande número das casas simples, pequeninas, evidenciavam a classe pobre da população do Rio, que fora transferida de algumas favelas para o novo bairro. Pobre sim, mas determinada e esperançosa de um futuro promissor.
   Gostei tanto deste lugar que permaneci trabalhando ali por alguns anos seguidos, acompanhando turmas desde a classe de alfabetização.
   O bairro era tranquilo, a conduçao farta e segura _havia até Kombis da Prefeitura!_ a Escola ampla, arejada, construção moderna. E os alunos, ah...os alunos! Crianças queridas cuja lembrança afago até hoje no coração. Havia os engraçados, os artistas, os que chegavam atrasados e cansados, pois tinham trabalhado na feira ajudando a mãe, os confusos, os atrapalhados, os traquinas, os estudiosos, os quietos, os calados, os sofridos. Mas não havia  nenhum temido. Não! Todos, cada qual com seu jeito, sua história de vida, cada um deles com seus dons e suas virtudes eram como células de um organismo que pulsava harmônico.
   Eu sempre inventava passeios e a condução teria que ser gratuita. Eu sabia pedir! As Forças Armadas davam uma ajudinha. Não me importavam  as dificuldades. Aquelas crianças tinham ânsia de aprendizado, de vida, de alegria e confiavam tanto em nós, que não podíamos jamais frustrá-las! Além das aulas das letras e dos números, havia a de Conhecimentos Gerais, que abrangiam História, Geografia e Ciências, de Música, de Religião, de Educação Cívica, de Artesanato, de Recreação . Então, providenciamos os passeios para complementar o aprendizado.
   Descobri que muitas não conheciam o mar. Pois foram apresentadas a ele. Certa vez  viajamos na Kombi do padre da região! Íamos e voltávamos cantando, felizes. Foram vários os passeios: Fábrica de sorvetes Kibon, Museu do Índio, desfile do 7 de setembro em lugares reservados e muitos e muitos outros...  
   Guardo na memória ainda a sala espaçosa , a sólida mesa de madeira e o vasinho tosco diariamente abastecido de rosas . Pequeninas rosas do jardim da casa de um aluno nosso, filho de portugueses( as classes eram variadas: nortistas, nordestinos, cariocas, sulistas, portugueses e até um simpático coreano!), loiro, sorriso farto, bochechas rosadas.
   Agora existem também as Ongs que colaboram realizando um trabalho belíssimo e bastante diversificado. Porém, nos idos de 70, éramos somente nós, professores, que tratávamos de modo amplo da Educação e da formação do povo brasileiro na figura ainda frágil e ingênua das crianças.

2 comentários:

  1. Tempo qu o Professor, principalmente sendo excelente e dedicada como você, era respeitado pelos aluno e responsáveis.As condições de trabalho ainda eram razoáveis, infelizmente o salário era a cada ano desvalorizado, mas o esforço para ensinar, educar era sempre grande. Parbéns pelo seu trabalho.

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  2. Oh, obrigada, professor Paulo Rubem! Também queridíssimo por seus alunos e colegas. Pessoa carismática e amiga.

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