terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O RESGATE

   
      Dia chuvoso, mas nada nos impediria de fazermos o passeio até a Quinta da Boa Vista como havíamos programado. Melhor dizendo, ao Museu Nacional.
     Maravilhamo-nos. O Museu de História Natural é belíssimo, com peças incríveis, dinossauros e toda a história da Terra. Lembrei-me de quando fui a Nova York e lá vimos as mesmas coisas. Claro que a consciência do povo americano é diferente. Dão muito valor à sua própria cultura e sabem preservar os Patrimônios. Nós engatinhamos. Conheço pessoas que se encantam com a cultura dos outros países. Mal sabem da nossa!...
     Extremismos à parte, reconheçamos que um país se faz com o seu povo.
     Falei com uma funcionária que vigiava uma das salas. Ela me contou com naturalidade que existem muitas peças que estão, pela passagem do tempo, se deteriorando como as borboletas, por exemplo. E os líquidos que conservam alguns materiais têm que ser renovados por pessoal especializado. Mas, pergunta-se: Cadê esse pessoal?
     Disse-me a mesma que há exaustiva burocracia, até mesmo para as coisas mais simples a serem resolvidas, como uma fechadura que precisa de conserto. São tantos papéis e justificativas para que aquele pedido de conserto seja atendido que o tempo passa e , ao final, já existirão outras necessidades a serem corrigidas. E assim a bola de neve aumenta, o museu deteriora e o brasileiro perde. Perde sua cultura, sua referência, seu amor-próprio. Se for ingênuo, então, irá voltar a sua atenção para as coisas de fora. Não percebe que esta conduta fará com que o nosso país continue na inércia e no descaso. Não falo aqui somente do poder público, mas do próprio povo.
     Havia nesse dia um número relevante de turistas. Estrangeiros. Pois é. Lá fora estão curiosos, descobrem um Brasil rico, intrigante, ao mesmo tempo de povo simples ou tolo.
     Até quando nossa atitude será de desinteresse para com as nossas raízes? Meu sonho é que construamos um sólido país, com uma cultura rica(tantos povos deram e dão ainda sua contribuição) e um povo atento às suas próprias riquezas e possibilidades.
     Mas desejo narrar um fato curioso acontecido conosco. Ao sairmos da exposição não havia táxis na porta do Museu e ninguém sabia informar  sobre isto. Então, aproxima-se um policial da recepção. Era conhecido do pessoal. Notei que ele viera num carrinho, desses parecidos com os que são utilizados em campos de golfe.
     Preocupada, já que estávamos com uma criança pequena e o tempo ameaçador nos assustava, não titubeei. Cheguei perto do  policial _ um homem alto, forte, cabelos grisalhos que lhe conferiam uma aparência de respeito e confiança e fiz o apelo:"_ Senhor, pode nos conduzir à rua e nos deixar num táxi?"
     O policial fitou-me sereno mas , em segundos, tomou a decisão que nos tiraria daquele embaraço. E disse o sargento:"_ Aquela criança está com a senhora? " "_Sim", disse-lhe eu, imagino que com um olhar temeroso, cheio de apreensão.
     "_Pois bem, vamos!..." Foi uma alegria. Arrumamo-nos como pudemos no banco de trás, de costas para o motorista, o carrinho de bebê à frente, ao lado do polido e garboso militar.
     Tão emocionante quanto a exposição foi aquela viagem até a rua . A chuva fina caía sem intervalos. E víamos de uma maneira inusitada e inesperada a bela e suave paisagem da Quinta da Boa Vista.
    Já na calçada, estacionou seu carrinho, saltamos e fez com que um taxista nos recolhesse. O homem, a princípio, levou um susto!... Simples, foi logo mostrando os documentos, pensando que se tratava de uma batida policial. Mas o guarda explicou-lhe com paciêcia e autoridade a situação.
     Enfim, chegamos em casa, em boa hora, sãos e salvos, com uma esperança renovada no coração.
 
 


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