segunda-feira, 22 de julho de 2013

COMO PÉTALA DE ROSA

    Ouço Liszt e me torno paciente, calma, aveludada como uma pétala rubra de rosa. Rádio MEC fm  sem parar  para amenizar ruídos inoportunos de fora. Truque antigo.
    Mas qual o barulho bom de ouvir? Pra quem gosta de eletrônico, talvez seja esse o tal. Agora, cá entre nós, barulho, barulho mesmo acho de que nenhum.
    Os helicópteros atordoam o dia todo em virtude da chegada do Papa. Por isto mesmo, o trânsito anda quase caótico, com um rumor estressante. Às vezes, a televisão está tão sem graça, que passa a ser somente um desagradável vozerio ululante e nada é distinguível.
    Mas ontem, à tardinha, o som melodioso de um sanhaço-de-coqueiro adocicou meu coração. Agarrado ao bebedouro de pássaros , sorvia a água açucarada enquanto trinava.  O beija-flor-tesourão, pela manhã, já tinha entrado no quarto e rodeou-me trinando seu canto curto e baixinho. Ah, aquele som foi demais! Não é à toa que os índios com toda a sua imaginação lhe conferem o poder de um Tupã-Tenondé!
    Falando neles, não é que voltaram agora, enquanto escrevo? Colibris, sanhaços e cambacicas disputando a água. Enquanto esvoaçam em torno, (en)cantam. Esse é o som que mais aprecio! Além deste, além de algumas composições melódicas, as vozes infantis que riem, as que falam seu próprio linguajar, seu tatibitate; mas as que choram a dor da fome, estas nos fazem tremer de angústia. Todavia também nos impulsionam a vontade para socorrê-las e envolve-las em amor e carinho. Sempre há os dois lados, tento refletir.
    O mundo fervilha de sons. Há um, porém , que não posso dispensar, pois sem ele não suportaria viver. E é difícil encontrar. Quando subo a Pedra do Arpoador e vejo aquela imensidão de mares, minha alma se deleita e é o  som do silêncio que percebo. " ... ficar em silêncio, apenas ser."
    Certamente essa percepção nos afasta da maldade, da ignorância, do sofrimento, nos facilita a interiorização, nos vitaliza e apazigua a alma. "... comungar com a natureza e observar em silêncio a inteligência que há em todas as coisas vivas. Ficar em silêncio e assistir ao pôr-do-sol, ouvir o ruído do oceano ou de um rio, ou simplesmente sentir o perfume de uma flor. No êxtase do silêncio e em comunhão com a natureza, deslumbramos a felicidade." Nesse som eu aposto!
 






   
   
   
   

Nenhum comentário:

Postar um comentário