"É neste que eu vou", decidiu, animada, quando procurava um cardiologista na lista do plano de saúde, pois o nome dele coincidia com o do seu pai e não era um nome comum. Este foi o critério.
Tudo ia bem nas primeiras consultas, até que o médico revelou-se como pessoa. E aí foi um desastre...
A taxa do colesterol dera alta; e ele , à guisa de que ela aceitasse o medicamento indicado, que produz diversos efeitos colaterais, tornou-se irritadiço, inconsequente, grosseiro.
Alteou a voz , com o dedo em riste e direcionou-a para a pequena saleta onde realizaria um exame preliminar. Mandou-a deitar-se e levantar o soutien num tom agressivo, já que ela titubeava, pois a peça não era flexível, ela queria abrir atrás, mas ele mesmo, com o autoritarismo acirrado, puxou-o para cima , deixando-a numa situação constrangedora.
Alteou a voz , com o dedo em riste e direcionou-a para a pequena saleta onde realizaria um exame preliminar. Mandou-a deitar-se e levantar o soutien num tom agressivo, já que ela titubeava, pois a peça não era flexível, ela queria abrir atrás, mas ele mesmo, com o autoritarismo acirrado, puxou-o para cima , deixando-a numa situação constrangedora.
Após o exame, em passos largos e firmes, dirigiu-se para a sua cadeira e, em tom agressivo, disparou:
"_ Venha pra cá!" , tendo ouvido como resposta, em voz tíbia e delicada:
"__Um momento, doutor, estou me compondo."
A tremenda escassez de gentileza gerava palpitações na paciente. Não se preparara para tal encontro. Acreditava que ele era um bom médico. Ora, ora, mas o que é ser um bom médico? Talvez saber ouvir, saber diagnosticar, saber prescrever a droga correta e, antes de tudo, ter o entendimento que aquela pessoa, à sua frente, está carente de cuidados.
Mas, por certo, às vezes, o médico está numa situação tão deplorável de valores, de compreensão, de empatia que não perceberá detalhes do ser humano. Mecanizou-se, tornou-se um robô para aviamento de receitas.
Ao sentar-se, a paciente ouviu, repetidas vezes, que deveria usar a tal medicação, pois ela era já quase uma sucata!...
"_ Como, doutor? Acho que não escutei direito...", falou, meio aturdida com o que ouvira. E ele repetiu, bombasticamente, com a empáfia de um pobre doutor...
Depois, bramiu, entusiasmado, porque ela dissera " _Ai, meu Deus!", que não acreditava em Deus, que não acreditava em absolutamente nada, com a pose de quem faz uma afirmação muito perspicaz e inteligente.
Depois, bramiu, entusiasmado, porque ela dissera " _Ai, meu Deus!", que não acreditava em Deus, que não acreditava em absolutamente nada, com a pose de quem faz uma afirmação muito perspicaz e inteligente.
Bem, "agora, tudo está claro para mim", pensou ela. Sentiu mais por ele do que por si, já que, alguém que não tenha encontrado seu próprio templo de quietude , está permitindo a agitação e o desvario, longe da paz e da força divinas.
À porta, ele sorriu um tanto sarcástico e, à meia voz, pediu-lhe desculpas...
Ela saiu dali meio trôpega, claudicante, pediu um copo d'água à secretária e, depois de assinar o recibo do Plano, desejou ali nunca mais voltar.
Programou-se para caminhadas e segue uma dieta, nem tão rígida, de uma boa nutricionista. A meditação diária entrou no rol das novas atitudes e, de acordo com os últimos exames, a taxa do colesterol vai muito bem, obrigada!
Ah, doutor impaciente,
que lança palavras mortas,
que planta dissabor...
Ah, doutor!...
Tão belo homem,
imponente...
Mas quebram o encanto da tua presença
a língua indiferente,
ferina, tonta
e o coração ausente...
Ah, doutor,
a Poesia se faz urgente!
Não lamentes a paciente que se foi...
Doravante, sê prudente!...
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