Sentada, na expectativa da agulhada. Aquela agulha tão fina, entrando pela veia, retirando meu sangue... não acostumo com isso.
A funcionária do laboratório percebeu o nervosismo e desatou a falar. Começamos pela seca em São Paulo, a grande ameaça da falta d'água!
Quando me casei e adentrei pelos milagres das receitas culinárias, sempre afirmava que poderia viver sem luz, sem gás... mas sem água, seria impossível! De vez em vez, o porteiro nos avisava que iam racioná-la, então, eu me desesperava! Era um tal de encher baldes, vasilhas, banheira... Era um Deus nos acuda!...
Agora, a ameaça é maior. Bem maior. Uma cidade inteira como São Paulo, sem água? Impossível acreditar.
O assunto foi adiante; a mulher arregalava os olhos, limpava o pouco sangue que ainda saía do meu braço e narrava: noutro dia, podou uma mangueira do seu terreno__os galhos estavam entrando no quintal do vizinho, explicou. Depois desse ato inocente, causou uma pane na natureza: muitos percevejos entraram em sua casa, passarinhos desabrigados procuraram seus ninhos. E ela chegou a chorar, contou, já meio atordoada, revivendo o fato pela lembrança.
E por aí foi descrevendo a atitude da natureza que nos oferta, nos consola, nos abriga, mas, também, se revolta e nos pune... Entusiasmada, relacionou com textos bíblicos e tive que tomar a iniciativa para sair, burlando o seu domínio discursivo...
Talvez nós, pessoas comuns, ainda não tenhamos percebido a totalidade do avassalador impulso do homem cruel, ávido por lucro, por dinheiro. As matas sendo destruídas para construções, rios sendo mortos, sem nenhum constrangimento.
Muitas pesquisas e recentes estudos mostram, por outro lado, que a humanidade está despertando e se unindo em prol do planeta, nossa casa Terra. Imperioso é que nos debrucemos sobre qual a melhor atitude no dia a dia, a pequena ação que interferirá ao final. Todos se unindo __ empresários, governo e o cidadão para que haja uma revolução de ideias e de ideais, com o foco na saúde do planeta, este ser vivo, palpitante. Afinal, dependemos dele, é a nossa casa que, generosa, tudo nos oferece para que tenhamos vida de qualidade. E nós a maltratamos tanto?
Desde a infância já é bom que comecemos a semear noções de amor à mãe-natureza. A leitura oportuna e as conversas serão bem-vindas.
TOQUES DE OUTONO
Os espíritos da natureza
Se manifestam na brisa que sussurra,
No vento que surge,
Cobiçando os verdes apaziguadores.
Pássaros atiçados
Voam assustadiços,
Gritam alvoroçados.
Somente o riacho continua, em sua rota inalterável,
Invadindo a floresta que, mesmo em silêncio, ruge.
Suculentos frutos
Debruçam-se nos galhos dadivosos
Do garboso jambeiro.
Os perfumes acentuam-se.
Na mata, a criação conspira.
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