domingo, 12 de abril de 2015

SOBRE A CRÍTICA

   



      Morreu neste mês de abril de 2015, uma famosa crítica de teatro. Sua vida foi dedicada a tal empreitada, pautada no rigor. Em todas as semanas , de quinta a domingo  __ li hoje, num jornal carioca, ela ia a vários espetáculos e, ou os enaltecia, ou, simplesmente, os abominava. Tornou-se hábil na análise das peças.
     Certa vez, na TV, vi a incrível comediante Dercy Gonçalves, detentora de um público fiel e audiência certa nos programas de entrevistas  e peças, comentando sobre as duras críticas que sofreu ao longo da carreira, feitas por Bárbara.
     Tenho uma grande amiga que, cantora lírica, chegou a se apresentar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em outros Estados e, também, fora do Brasil. Mas uma crítica, uma só crítica perversa tocou tanto sua alma sensível que ela adoeceu. Enveredou , então, pela Literatura. Afinal, o artista sempre encontra um caminho de expressão, de libertação.
     Interessante como, ao longo da história de vida de muitos autores e artistas em geral, o crítico sempre está ali, presente, com o seu olhar impiedoso, a julgar. E como se valorizam!
     Penso que tudo vai depender da bagagem desse crítico, do seu cabedal de conhecimentos sobre o determinado assunto em pauta, tentando ser ponderado. Há muita bobagem dita como crítica, porém , nada mais é do que ignorância e desfile de vaidades.
     Vejam como tantos poetas sofreram julgamentos equivocados por conta disso. Mário Quintana foi um. A nossa sorte é que ele  procurou não dar a mínima para a crítica que lhe faziam. Houve quem dissesse com pompa que os poemas de Quintana eram 'aloprados'; suas trovas, meras 'quadrilhices'... Mas ele, o grande Quintana, de um lirismo e humor sem par, com um inegável poder de síntese, que sabia como ninguém construir belos poemas com linguagem simples e encantadora, continuava a escrever.
     Escreveu, escreveu a vida inteira... que durou oitenta e oito anos! Consagrado por todos, inclusive pelos críticos de agora, rendidos a sua notoriedade, escreveu sobre todas as coisas, tornou-se um dos poetas mais lidos neste nosso país de analfabetos. E onde estão os seus críticos?...
     Quando resolvi convidar algumas pessoas para que , juntos, mergulhássemos  em poesia, a primeira regrinha era que ninguém poderia criticar o seu colega. Eram todos novos talentos, trazendo em si a força da criação, que brotava ,espontaneamente, a cada encontro. Uma crítica mal dada, pode tolher e mesmo interromper o desabrochar de um dom; por isso, estava escrito num papel que lhes dava à entrada: Nada de críticas! Para o iniciante, é fundamental esta iniciativa. Isto é conduta certa para o desenvolvimento criativo.
     Hoje ainda ,passei os olhos na página quase inteira do jornal, discorrendo a respeito de um livro lançado sobre João Cabral de Melo Neto, que, se a minha memória não falha, foi tido como lírico por Quintana; e este autor, crítico, coloca a poesia de João como  antilírica...
     Avaliar o trabalho de outra pessoa, principalmente se estamos tratando de arte, me incomoda um pouco. Quem acha a opinião de um crítico importante? Estão, na realidade, é abanando a fogueira  da presunção, a arder nos corações e mentes vazios, murchos de ideias e sentires, desertos dos ímpetos criativos. O crítico não cria.
     Valerá algo a opinião, ou, melhor dizendo, o dissecar de uma obra feito por um crítico? Cada um aprecie aquilo com  que sintoniza, com o que lhe afaga o coração ou o faz  pensar. Escolha a arte que faz a sua alma feliz e confortável na vida.
     
    
Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto
alimentam-se um instante em cada par de mãos
e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
 
(Mário Quintana)
 
    
    
    
    
    
    
    

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