terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

É UM SAMBA TEU CORAÇÃO

     São poucos os livros de poemas... Guardo a lírica Cecília, o pantaneiro Manoel de Barros, o admirável Quintana, o sôfrego Bandeira,  o ' cantor dos escravos'__ Castro Alves, a genial Cora Coralina, em sua aparente simplicidade, a simbolista Gilka Machado e um dos grandes poetas brasileiros, um modernista, porém  ainda romântico__ Augusto Frederico Schmidt:
 
"De repente, meu amor,enquanto
os sinos tocavam,
Vi a asa de um pássaro
Cortando o céu matinal.
..."
 
     Resolvi me despojar de qualquer outro imortal. Quero ficar mais leve, apenas agregando à minha coleção (mais viva do que nunca!) alguns haikaístas que amo , uns dois ou três autores clássicos chineses e também indianos, como o educador e artista Tagore, que imprimiu à sua criação o misticismo.
 
"  O mundo é doce. Eu não gostaria de morrer.
Queria viver a vida eternamente viva do Homem."
(Tagore, Kadi o Komal)
 
     O tempo urge, reflito. Os livros na estante ganhando poeira e mofo? Não, seria desrespeitoso. Prefiro estar a folheá-los, amiúde; encontrar, vez ou outra, pérolas que  ainda me surpreendam, que preencham o meu coração daquela alegria que alimenta a alma.
 " Moreno,
dos meus zelos e cuidados,
tens a beleza mais linda
essa que deslumbra ainda
vista com os olhos fechados.
Ocultas no aspecto langue
amortecido vulcão;
há batuques no teu sangue;
é um samba teu coração.
..."
(Gilka Machado, Canção Tropical)
 
     No aconchego de casa, prefiro. Mas me esbaldo em cafeterias, em livrarias ou, até mesmo, creiam, na praia!...Por que não?
     Levar um desses debaixo do braço ou na bolsa e mergulhar em suas páginas é um prazer para a mente e para o espírito. O mundo anda tão desnorteado que, às vezes, concluo que um aliado desses é muito bem-vindo, pois nos socorre a manter a mente em  equilíbrio.
     Nas minhas andanças  pelas manhãs, bem cedinho, nestes breves dias de folia, vi tantas coisas feias e  degradantes que me desconcertaram.  Homens nus, urinando em público, mesmo com tantos banheiros mal cheirosos entulhando e enfeando as praças e os jardins... Jovenzinhas recém iniciadas na puberdade correndo, esbaforidas, trajando minúscula roupa íntima... Outros, se amparando nos muros da cidade, nas árvores,  totalmente bêbados e confusos. Excrementos pelas calçadas... palavrões, assaltos... Arremedos de seres humanos.
     Um dos caminhos  que nos salva é a Arte, sem sombra de dúvida. Ler um poema do brilhante(aliás, sua inteligência desperta fazia brilhar seus olhinhos miúdos) Mario Quintana nos tira deste purgatório e nos faz transcender. Esta, creio, é a função da Arte. Não é para avivarmos o ego na fogueira da vaidade, nem é coisa rasteira... A Arte nos ajuda a superarmos todas as pequenezas , as nossas e as do mundo.
     Um mundo mágico está à nossa espera, aguardando, silencioso, confiante. É só abrirmos as páginas e nos permitirmos essa viagem pela condução das palavras e do ritmo. É ler pra crer!
    
    

    

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