domingo, 10 de abril de 2016

ESPECIALISTAS...

     Já ouviram falar em 'dor de esporão'? Pois é... uma conhecida minha contou-me que é terrível. A pessoa não consegue pisar, só mesmo voar com a sua intelectualidade ou com os seus sonhos, se for devanear.
     Primeiro, tentou métodos naturais oferecidos pela internet. Descobriu um em que folhas de couve eram maceradas, e colocadas num saco, junto com o pé doente. Passavam-se horas e ela ali, firme. Quase levou um tombo , pois escorregara com a tal lambança. 
     Então, desiludida com este método, lá foi ela procurar um ortopedista. Ofereceram-lhe um especialista em pé! Ortopedista especialista.
     Tá bom, pensou. Foi medicada a princípio com pomadas_ que nada lhe valeram;depois , com uma injeção _disse-me que na nádega, pra garantir menos desconforto.
     Passando por tudo isto achou que estava assegurada  a melhora... Mas qual o quê! Duas infiltrações no calcanhar tiveram que ser aplicadas, pelo mesmo médico em questão. Uma num mês, outra no seguinte.
     A dor diminuiu, mas o valor da infiltração de um mês para o outro, aumentou cinquenta por cento!... Ah! E um novo creme deveria ser feito em farmácia de manipulação indicada pelo doutor... Tinha mais confiança, dissera ele.
     Minha amiga ficou arrasada depois de tantos percalços. Mas conseguiu livrar-se do terrível incômodo.
     Certo dia, num desses encontros fortuitos, num shopping da cidade, Palmira revelou-me que a dor voltara, insuportável. Agora, no outro pé! Tentei conversar amenidades, distrair-lhe a mente, ofereci-lhe um café, mas ela estava determinada a contar-me os últimos acontecimentos, em detalhes. Seu estado de ânimo era desolador.
     Sentadas confortavelmente na cafeteria, ouvi dela a dificuldade para conseguir uma consulta. Num telefonema breve, informaram-lhe que naquele dia_ uma sexta-feira, só havia ,na clínica, ortopedista especialista em joelho! De modo que ela teria que esperar a próxima semana.
     Inconformada, disse à funcionária que iria assim mesmo, pois como médico de ossos saberia aplicar-lhe uma infiltração no calcanhar. Mas desistiu. Preferiu dormir solta, a tarde toda, com os pés pra cima, aliviando tensões.
     Lembramo-nos , então, dos 'médicos de família' como eram chamados, lá pelos idos da década de sessenta e que estas novas gerações nem imaginam. Eu logo me reportei à  infância, onde o Dr. Oswaldo, um senhor de meia idade, gorducho, calvo e de fartos bigodes,  bonachão, sempre esboçando um sorriso bondoso ia até a nossa residência e nos consultava a todos: papai, mamãe e eu.
     Que facilidade. Tudo era mais simples, inclusive as próprias doenças, os achaques eram resolvidos pelo conhecimento aliado à simplicidade  e a  tranquilidade do médico nos transmitia segurança.
     Hoje, tudo diferente, só nos resta aceitarmos e procurarmos viver atentas às mudanças, certas de que sempre serão atenuadas pela prosa regada a goles quentinhos de um café gostoso e  deliciosos cookies de chocolate. A vida fica mais doce.
 
    
    

Nenhum comentário:

Postar um comentário