segunda-feira, 16 de maio de 2016

INOCÊNCIA DE PAPA-MOSCAS

  " É no ínfimo que eu vejo exuberância."
(Manoel de Barros)
 
        Aranhas... era este um dos  assuntos pautados na TV, no programa  pela manhã deste sábado.
     Confesso que , a princípio, rejeitei mentalmente. "Pra quê vão falar sobre isto?" Perguntava a mim mesma. "Que mau gosto!"
     Mas estava a beber meu café, saboreando tapiocas e deixei acontecer. Fiquei assistindo. Foi esclarecedor!
     Tanto que, após o programa, fui varrer ligeiramente a sala. Mas quando limpei embaixo do sofá, caprichei!... E não é que duas pequenas aranhas, transparentes, camufladas de pucumã, saíram apressadíssimas do esconderijo bem montado?
     Dissera o especialista na entrevista que, as que vivem nas casas não são inocentes, podem nos picar. Esqueci por momentos a minha índole budista... E conferi-lhes um golpe certeiro e mortal com a velha havaiana amarela. Foram dois: um para cada uma!
     E ele ainda dissera que aranhas têm veneno! Varia a periculosidade, dependendo da espécie.
      Lembrei-me de vovô Pedro, sempre presente em minhas recordações da infância.  Passávamos as férias no sítio dos meus avós e recordo-me perfeitamente da imensa e grotesca caranguejeira que vovô mantinha encarcerada numa gaiola, pendurada numa das paredes da grande sala...
     Mamãe achava estranho e tinha medo. Eu somente curiosidade, pois confiava em vovô. "_ Bom ter uma dessas, para atrair dinheiro", diziam os antigos.
     Até o dia em que a grande mãe teve filhotes. Foi um desespero! Mil e uma aranhazinhas correndo pra cá e pra lá, pela casa grande da fazenda. Foi um "Deus nos acuda!" 
     Cutucando a memória vem à tona outro fato : uma amiga e sua filha contaram-me que , ao pernoitarem num hotel, a caminho de Teresópolis, pela madrugada deram de cara com uma imensa aranha no banheiro.
     Minha amiga gritou aflita, batendo na parede que compartilhava com o outro chalé, ao lado, pedindo ajuda. Mas qual o quê! Ninguém veio socorrê-las, pobrezinhas! Ainda reclamaram do barulho. Insensível vizinhança...
     Resolveram ligar para a recepção e, depois de muito tempo(parece que foram buscar o bom homem em sua casa, no meio do mato), um corajoso agricultor veio com uma vassoura e nos ensinou: aranha se mata com vassoura!... Espetou-a mil vezes até que a pobre coitada tivesse fim.
     Aqui em casa, eu passei a simpatizar com um papa-moscas que me faz companhia entre livros e papéis, na minha mesa. Muito à vontade, passeia pelo computador, pelo radinho de pilha, sobe e desce no cavalete, vai pela pequena estante presa à parede em frente,  e, às vezes, dá umas voltinhas pelo chão , chegando a pular pra frente.. Sua inocência me toca. 
     Mas  depois do programa, aprendi que ele é também uma espécie de aranha e que guarda o seu veneno; pouco, é verdade, mas é veneno.
     Olho de soslaio para ele. Começo a implicar com o meliante. Achei que fosse inofensivo. Toda a cautela é pouca, porém... percebo que já me afeiçoei ao bicho! Não pretendo melindrá-lo.
 


 
" COM FIOS DE ORVALHO
ARANHAS TECEM
A MADRUGADA."
(Manoel de Barros)
   
    

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