quinta-feira, 21 de julho de 2016

APLICAÇÃO NA NÁDEGA, DOUTOR !


 
 
 

     Lá foi ela, meio desesperada, meio claudicante; "afinal, tinha que confiar no médico", pensou, um tanto insegura
     A promessa era de uma, uma só injeção de um conhecido anti-inflamatório, nas nádegas. Só pode
ser injetado nas nádegas! É o que confirma a bula. Se for em qualquer outro lugar do corpo, correrá algum tipo de risco, principalmente das articulações.
   Ora, ora, por isso , mesmo ele se mostrando um médico meio esquisito, com o rosto sempre voltado para o computador no momento do atendimento, que nunca se lembrava do seu nome, nem de suas mazelas clínicas,  era um conceituado ortopedista, médico cirurgião de um modesto(?),não, não,de um hospital federal bem reconhecido! "Lá só trabalham feras", dissera uma amiga.
     À hora marcada, um imprevisto! Uma mulher bem idosa chegou, falando pelos cotovelos! Mirando a secretária  com impaciência e cheia de empáfia , afirma decididamente que seria a próxima, porque não podia esperar.
     Aquilo deu nos nervos. E todos perguntaram: " Está com tanta pressa pra quê?..."  Ela se agitou.
     Perceberam que não valia a pena retrucar. Melhor calar. Levantou-se, foi ao banheiro. Seu casaco_ era um dia frio, caiu no chão e ela nem percebeu. Saiu do banheiro. Entrou novamente. Isto tudo sem parar de falar, ou, melhor dizendo, murmurar entre dentes...
     Em tão pouco tempo, já tinha conseguido conquistar a aversão de todos. A secretária, no instante da sua ausência ao toilette, declara: " Vou logo mandar entrar , porque senão cria caso..."
     E passou a contar que, num certo dia de consulta, tanto ela, a secretária, quanto o médico, tinham ido ao enterro de um conhecido  clínico e chegaram um pouco atrasados.
     A velhota, que os esperava,  não perdoou. Insinuou grotescamente que eles tinham um caso, por chegarem juntos! Coitada da recepcionista! Ficou muito envergonhada e, desde então, criou antipatia àquela mulher.
    Pois bem. Quando esta paciente terminou sua consulta, bateu na porta para que abrisse(porque , ao terminar a consulta, este médico nunca leva os pacientes até à porta do consultório). Então, o ser humano desprezível que há em cada um de nós(nuns, em parcela mínima, noutros, em cota maior!), fez questão de ignorar, sorrindo, com um certo ar sarcástico aquele bate-bate.
     Estavam todos já penalizados com a velhinha, implorando para que a moça abrisse a porta do consultório... mas nada! A secretária conseguiu o seu momento ápice de vingança, torpe sentimento que espreita os corações...
     Quando já, então, berrava, Vivi( a secretária) abriu. E ainda chamou a atenção do médico: " Oh, doutor, por que o senhor não abriu?" Ele fez um gesto de enfado e só restou à paciente  sair, levando o seu agasalho marrom displicentemente, sem perceber que ele se arrastava   infinitamente pelo chão do corredor.
     Neste clima tenso, entra a próxima para receber uma injeção, como já tinham combinado o médico e ela.
     Mas o doutor muda tudo. Levanta-se, convida a paciente a deitar-se. Ela estranha... ", doutor, precisa deitar para aplicação do medicamento  na nádega? " E ele, já com a ampola nas mãos, espirrando um pouco do líquido pela agulha, exclama.: " Nádega? Ah, não... vou injetar direto no ponto da dor!"
     A paciente tenta argumentar, mas não demoveu o homem da sua sandice. E, apavorada, deitou-se. Ele vira-se para ela e pergunta: " Qual o joelho? Direito ou esquerdo?" , colocando sua pesada mão num dos joelhos.
     É no pé direito, doutor! No pé!... " De imediato, ele volta-se para o pé e, sem dó nem piedade, rapidamente, aplica-lhe ... Bem, até agora a paciente não sabe se ele aplicou-lhe o remédio ou somente um anestésico, pois, no  meio da conversa, avisa-lhe que irá misturar os dois _ o remédio e um anestésico numa ampola só.
      Quase sofrendo um desmaio pela dor intensa,  recebe ainda uma receita  com a ordem vigorosa: " Ao sair daqui,  compre este anti-inflamatório". "Mas, doutor, optamos pela injeção  pra eu não ingerir medicamento algum..." 
      O médico estica a mão com  a frieza  habitual para o cumprimento  e determina  incontestável : "Boa tarde, faça o que mandei. Tem que tomar ."
    

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