terça-feira, 6 de setembro de 2016

TREZE REAIS, COM SABOR DE VITÓRIA

    
     Após seis meses de espera, finalmente os Correios cumpriram seu próprio regimento. Conferiram a indenização pelo atraso de várias semanas numa correspondência SEDEX vinte e quatro horas.
     Explico: Era um envelope que continha um presente especial, para alguém mais especial ainda! Imaginem um menininho, de cinco anos, ansioso, às vésperas da Páscoa, que iria receber da vovó carioca um maravilhoso__  porque delicado e bem feito, Livro de Orações para Crianças.
     Foi colocado na agência com muitas semanas antecedentes para garantir  a sua chegada. Mas... qual o quê!... Ficamos à espera... nada!
     Ninguém tem ideia como age  uma avó contrariada!  Insistimos por e-mail, enviando mensagens e, às vezes, de volta, recebíamos  notas com termos técnicos para leigo nenhum entender mesmo.
     Teimamos. Íamos aos Correios diariamente. Passamos a ligar diariamente. Até que, talvez exaustos pela nossa persistência desmedida, simplesmente cumpriram seu dever. Depositaram, na própria agência, o valor cabível: treze reais e alguns centavos.
     "Ora, ora!" Dirão alguns, como fez  a antiga funcionária: "_  Tão pouco...há há há... tão pouquinho...há há há há... A senhora esperou tanto tempo por isso?...há há há..."
      Olhei com piedade aquela criatura completamente empobrecida de entendimento, de princípios, de ideais.  
     Ora, ora digo eu!  Adianta reclamarmos, babarmos de tanta raiva ante o pouco caso da maioria dos políticos que aí estão se não cobrarmos, sim, os nossos direitos, por menores que sejam? Mas não acho que sejam poucos não. Refletindo vamos ver que devemos reclamar por nossos direitos, não importa a dimensão. Se é direito nosso, é nosso, ora bolas!
     Quando vou ao mercado e recebo alguns centavos por cada sacola plástica recusada, eu exijo receber! "_É tão pouco!", disse-me a moça do caixa, noutro dia. "E daí? Seu patrão só pode pagar isso, não é? " Retruquei. "Então é o que me deve."
     Os nossos deveres, não cumprimos? Sem discutir se é pequeno ou grande ... Por exemplo: Vou à praia e levo um saco para o lixo. Simples este meu dever. Mas nem todos cumprem!...
    Resultado? Lixo na areia, no mar, em todo canto. Sociedade pobre de princípios, de vontade, de compreensão, de educação. Parece que têm vergonha de serem corretos, honestos e bravos.
     Deixei a mulher escancarar toda a sua ignorância e depois sussurrei: "Vamos tomar um café comigo pra comemorar a precária devolução? E no Terzetto! Dá para pagar dois cafés!"
     Ficou  desorientada, de repente. Agradeceu e recusou, sem graça. Sinceramente, gostaria de leva-la na cafeteria elegante.
     No caso, a questão não é o valor da indenização, mas a liberdade e o  dever   em exercermos a nossa cidadania.
 
 
"...
A poesia voltará de novo, consoladora e boa,
...
Com uma violência de convicções inabaláveis.
...
Verei fugir todas as minhas amargas queixas de repente.
Tudo me parecerá de novo exato, sólido, reto.
..."
( Manuel Bandeira)

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