quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

VIAGEM BREVE E CRÔNICA LEVE

     Pediram-me para deixar o garotinho na primeira poltrona, já que ele também viajava só. Concordei, é claro, de imediato. Afinal, disse-lhe, "a prioridade, nesses casos, é da criança".  Deve ter uns sete, oito anos. Olhou-me, timidamente e sorriu, aliviado.
     Sentei-me mais adiante, sem problemas e, como gosto de observar, observei. Fiz como Karnal, o filósofo pop, que aproveita o tempo  de voo para rascunhar o próximo livro. Rascunhei, então, a atual crônica.
     Na hora do lanche, a senhora idosa, muito distinta aparentemente, impecavelmente trajada, usando brincos de pérola exuberantes, foi cuidadosa: escolheu um suco light e saboreou, com elegância, o sanduíche. Ao terminar a comilança limpou a sua boca delicadamente com o guardanapo de papel da Companhia aérea, levantou seu corpo rechonchudo com dificuldade e dirigiu-se ao minúsculo banheiro.
     " Certamente lavará os dentes", concluí. Eu podia adivinhar...
     O menino que sentara no lugar a mim reservado, entretido com joguinhos eletrônicos preparados pela simpática tripulação , comeu com voracidade!
     Bebeu o refrigerante rapidamente e devorou o pão com queijo. Seus maxilares, ágeis, trabalharam ininterruptamente até o final, num só fôlego!
     Pensei: " A idade faz a diferença..." Mas me enganara.
     Pousei o olhar atento e reflexivo à frente e, na poltrona do meio vi, então, uma cabecinha branca e miúda, de um senhorzinho inquieto.
     Creiam-me, suas grandes orelhas abanavam freneticamente acompanhando o movimento incessante das mandíbulas numa dança alvoroçada. Comia com sofreguidão, mesmo demorando a engolir.
     Outros fizeram charme, comeram com altivez, como o rapaz ao lado, que lia as páginas de um volumoso livro com muita elegância e postura.
     Impecavelmente vestido, à guisa da juventude, trajando blue jeans e malha escura, finalizando o look pelo par de tênis negro, tipo keds. Parecia um ator antigo, hollywoodiano, cabelos negros e lisos com algum produto semelhante à brilhantina, penteados para trás, com um topete delineado com audácia. Mãos finas, dedos longos como os de um pianista.
   Tudo na viagem transcorreu calmamente. Li a revista da Companhia, entusiasmei-me com a reportagem turística sobre Bogotá, cacei palavras e até ousei dar um exemplar de Palavras Transformadas à vizinha de poltrona.
     A simpática senhora durante toda a viagem leu atentamente o livro  e isto me encheu de um certo tipo de emoção.
     A conversa ao final da viagem foi reveladora. Após comentar sobre a recente leitura com animação, descobrimos que nossos filhos são amigos! Coisas da vida, que nos surpreende a cada dia...
    E foi assim que, naturalmente,  preparei esta nova crônica leve e breve.


Aproveito para desejar a todos que visitam o meu Blog, um próspero e feliz ano de 2018! Minha gratidão a todos vocês!...
    
     

2 comentários:

  1. Identifiquei-me em tudo, Sylvia. Minha atual identificação com assuntos ligados à aviação, o observar que tanto gosto e a sensação de desejar saber a continuidade dos fatos. Muito bom!

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  2. Oh, Terezinha, que prazer enorme em receber seu comentário!Suas palavras incentivam-me. Obrigada! Um beijo enorme!

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