domingo, 4 de fevereiro de 2018

UMA HISTÓRIA DE AMOR

 " A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
..."
       Desta vez, comecei pelo título. Quando voltei para casa, já sabia qual seria.
     Afinal, não é todo dia que conhecemos alguém que nos presenteia com uma  bela e real  história de amor. Ali, avistando todo o mar e a alegria palpitante das fragatas misturando-se aos surfistas, tocados pelas ondas bravíssimas,  conheci a personagem desta história.
     O grand final digno de um filme romântico ? As cinzas jogadas ao mar, do alto do Arpoador. 
     Com um sorriso encantador durante toda a narrativa, presumo por isto mesmo que ela tenha realmente vivido este romance. Com que minúcias descreveu a dedicação que teve durante os últimos anos do esposo doente. Montou um home care para tornar mais confortável aquele longo período de despedida. Aos poucos, seu marido definhava. Ela ficou ali, sempre presente, leal, correta, digna, amorosa. 
     Diariamente dizia de seu amor por ele e perguntava com doçura: "Quem mais te ama neste mundo?" Esperava pela resposta que vinha com  lentidão, mas nunca fora esquecida: "Você!" E ela continuava: "E quem me ama mais que tudo? "E ele  dizia, com um leve sorriso de felicidade estampado nos lábios: "Eu!..."
     Faz cinco meses que ele partiu. Um casamento que durou cinquenta anos deixa marcas e muitas  lembranças.
    As fotografias de um tempo de felicidade  com molduras renovadas preenchem seu quarto , remodelado agora com almofadas coloridas. Neste ambiente acolhedor,  ela sustenta ainda a alegria de viver.
     Filhos e netos a consolam. Tem amigas. Faz caminhadas. Socorre-se da crença da vida além da morte e busca, a cada dia, novos interesses que a prendam por aqui, , sempre amparada pelas boas recordações.
     As cartas dos tempos da mocidade, quando ainda noiva, ela guarda como um tesouro numa caixa de madeira e as relê, quando a saudade aperta o coração.
     Minha manhã terminou com chave de ouro, o coração nutrido pela esperança num mundo melhor. Num mundo recheado de histórias de amor!...


 
 
ops! Trecho poético de Inscrição para uma Lareira, de Mario Quintana
    
    

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