sexta-feira, 11 de outubro de 2019

UM ATO POLÍTICO?

     Tarde agradável, aquecida pelo sol de primavera. Brisa repousante, favorável a uma bela caminhada. Mas, minha amiga não esperava que fosse caminhar tanto!...
     Ruas em torno da praça do bairro com o trânsito interrompido pela guarda municipal. Sol esquentando os miolos... paciência infinita de uma avó, sendo testada, de segundo a segundo.
     Explico: Minha amiga foi participar de uma passeata em prol do Dia das Crianças. Os netos estavam eufóricos!... Só que não...
     Todas as turmas, sim, eu escrevi 'todas' _ foram convocadas. Desde o maternal até o fundamental. Menores em colos abrasados dos professores e dos ajudantes, mãozinhas escorregadias dos pequenos agarrados aos seus familiares, professores soltinhos, a promoverem batuque!
     Era muita barulheira! Rostos lambuzados com tintas coloridas, salpicados de lantejoulas, cartazes provocativos , fantasias e muita, muita barulheira!
     Pensando que a tal caminhada seria na pracinha, minha amiga Déa relaxou. Afinal, poderia se acomodar num dos bancos , à sombra das amendoeiras.
     Qual o quê!... Primeira volta, todos animados ainda... Segunda volta, achando esquisito que não subissem pela escadaria que leva à praça, propriamente dita. Terceira rua, nada, ainda, começam a murchar... Quarta rua, pés se arrastando... Havia muitos avôs, avós, coitadinhos! disse-me Déa. Sorrisos coalhados de suor que deslizava, sem cerimônia, pelo pescoço em dobraduras.
     Concordamos que esta manifestação em nada simbolizou ato político. 
     Os netos se colocaram. "Vovó", disse o mais velho, " não gostei quando a professora veio pintar o meu rosto. Disse a ela que sou alérgico, acho que ela esqueceu."
     E o menor, de apenas quatro anos: " Não gostei nada, nada. Os guardas impedindo as pessoas irem para suas casas, né, vovó?"
     E assim que chegaram à Escola, de volta, o pequeno entrou correndo, pondo as mãozinhas nos ouvidos. " Tá muito barulho!"
     O mundo está barulhento demais! Espantaram os pássaros e os pensamentos dos  homens sentados nos bancos , à sombra das árvores. Perturbaram a paz da praça.
    

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