terça-feira, 20 de agosto de 2013

VENCER DESAFIOS!

   
 
 Estive perambulando pela praça, de manhãzinha. Cães, criancinhas, mendigos, os cadeirantes e as velhinhas que proseiam, proseiam, proseiam, todos unidos pelo poder do sol.
    Mas existem aquelas que ficam ali, paradas, indiferentes à vida que corre, ou anda ... O olhar fixo em algum ponto longínquo faz parecer que conquistou uma imensa quietude inabalável. As acompanhantes, por sua vez, as desestimulam de falar, pois ficam com o celular nas mãos, jogando sem parar ,um tanto inquietas, sem nem ao menos olhar com um pouco de atenção àquela pessoa que ali está, frágil. A moça, às vezes,  fala muito ou, até mesmo,  discute com as outras, sem freios na língua. A linguagem torpe, mesclada com obscenidades fez-me sair de fininho para não me meter e chamar a atenção de uma delas, em especial.
    Como seria a vida daquelas senhorinhas que já viveram tanto? Talvez tenham sido mães, quem sabe? Ou são avós, ou já deram muito carinho e se desdobraram em cuidados para com os seus?
    Penso, repenso e me aflijo. E me compadeço. Acho muito triste no final da vida estarem tão solitárias e tão dependentes de outros que não compreendem o que estejam sentindo; não percebem a oportunidade que têm de aprender e se instruir. Mas o meu sentimento não é de pena por isso. Vejo, em cada uma , uma estrela solitária brilhando por tudo o que já viveram, tornaram-se fontes de luz e sabedoria. Pena eu sinto de quem as deixa, à mingua; pena eu sinto de quem ridiculariza a velhice. Cada idoso talvez tenha se tornado fonte de luz e alegria, com o coração repleto de amor e compreensão. Mas muitas vezes o imaturo nem olha para o velho; não lhe dá a atenção que merece e necessita como qualquer ser humano; mas ele já passou por tantos momentos sombrios que não contabiliza mais o sofrimento, mas sim todo e qualquer momento de paz e alegria.
    A vida passa rápido. Lembro-me das palavras de Buda, cheias de sabedoria:
 
" Nossa existência é transitória como as nuvens do outono.
  Observar o nascimento e a morte do ser é como olhar os movimentos da dança.
  Uma vida é como o brilho de um relâmpago no céu,
  Levada pela torrente, montanha abaixo."
 
    Estão ali, as pobrezinhas, despedindo-se da vida, serenamente. Com o semblante descansado, fazendo pouco caso do cantar dos pássaros, das frivolidades comentadas ao redor, da preocupação estampada nos rostos  das silhuetas que passam, apressadas. Alheias a tudo o que as rodeia, sonham, talvez, pelas lembranças que nunca se exaurem; da vida que já viveram, dos amores que já as alimentaram. Agora, na atual realidade, sucumbem, aos poucos. Velhice é para ser saboreada. Descobrir novos rumos, vencer desafios! Velhice tem que ser descoberta, dia após dia. Fazer disso uma arte. A arte de viver no futuro sonhado. Muitas vezes, sem o marido, com os filhos longe com seus afazeres, se distanciando e/ou perdendo os amigos, resta-lhes uma certa esperança no porvir. Os espiritualistas, numa libertação da carne que oprime; os materialistas, aqueles que  em nada acreditam após a morte, desanimados, sem fé, pesa-lhes mais o tempo da terceira idade. Pensam eles que tudo virará pó.
    Acredito que no profundo de cada ser haja uma dúvida quanto a essa realidade causticante. E a dúvida alimenta e anima o espírito. Desejaria que abordassem a leitura dos povos mais esclarecidos espiritualmente pois o bálsamo da fé conforta no final da existência, faz o sorriso permanecer.
 
    " O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo.
      O que for o teu desejo, assim será tua vontade.
      O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
      O que forem teus atos, assim será teu destino." *
     
   
 
* __ Brihadaranyaka Upanishad  IV,  4. 5


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