quinta-feira, 11 de setembro de 2014

TODA A VIDA!...

     "__ Pega a Rua da Alfândega e vai toda a vida!...", disse-me o segurança daquele Centro Cultural, na cidade.  Estava tudo mudado! A Prefeitura encarregou-se de embaralhar as vias. A Avenida Rio Branco, a Rua Primeiro de Março dentre outras  estavam desconfiguradas.
     Era tão simples chegar lá antes de implantarem estas modificações! Tomava o ônibus na Praça, perto de casa, sentava-me confortavelmente __pois ali é o final da linha, e passada aproximadamente meia hora, saltava quase à porta do Centro Cultural Banco do Brasil.
     Estando na condução e percebendo que tomara um caminho diferente, assustei-me um pouco. Afinal, não tenho nenhuma intimidade com o miolo da cidade. Perguntei ao motorista e ele confessou-me aborrecido que havia sido modificada a trajetória dos ônibus, confirmando-me que para pior...
     Orientaram-me: "__Salte no último ponto da Avenida Rio Branco! " E eu lá sabia onde era?...
     Nessas horas, invisto nos meus um tanto precários dons,  mistura de psicóloga de coluna de jornal e de artista mambembe, para atrair a simpatia e a cumplicidade de alguns sensíveis que estejam por perto. Faço-me meiga (isto eu sou mesmo, mas reforço com pinceladas convincentes em que dramatizo o olhar de atordoamento e o sorriso de menina).
     Convenci um senhor que trajava uniforme azul e creio que era funcionário de alguma linha de ônibus municipal a me ajudar definitivamente. Prontamente, garantiu-me que me auxiliaria, avisando a hora de saltar e que eu teria que seguir direto, depois de virar à direita. Então, temerosa, disse:
      __"Andarei muito? É longe?"
     Ele não titubeou e assegurou-me que eu andaria facilmente pois era' muito nova e cheia de vida'!
     Meio sem graça, sorri e sentei-me, calada.
     A viagem foi rápida e segura, apesar das curvas acentuadas e freadas de mau gosto. Saltei quando me avisou o homem e, decidida, caminhei. A exposição do instigante Dali valeu a aventura.
     Depois do chá reconfortante de frutas roxas, iniciei o retorno. E não teve jeito. Segui a orientação recebida no Centro Cultural e caminhei toda a Rua da Alfândega, cheia de mistérios e de sobradões antigos que compunham uma urdidura fantasmagórica. Umas três ou quatro pessoas passaram por mim.' A rua esvaziara-se', pensei. Quando cheguei finalmente na Avenida, o cenário era totalmente diferente, caótico.
     Carros, ônibus, poeira e gente , muita gente.  Perguntei a um jovem sobre o ponto. E ele avisou-me que teria que andar mais  pra atravessar, apontando  o local do semáforo. Posso quase  jurar, pelo seu sorriso e pelo seu olhar, que ficou feliz em prestar a boa ação do dia àquela senhora confusa.
     Somente um , de toda a lista dos números dos ônibus que ali paravam, servia para mim. Esperei uns quarenta minutos com paciência de Jó. Até que, já  preocupada com a aproximação do horário do rush, tomei um táxi, que veio reclamando da atual intervenção da Prefeitura  nas vias de trânsito da cidade "__ Está tudo uma bagunça!", exclamava o taxista nervoso e veloz, parecendo querer fugir de toda aquela situação desconfortável.
     Lembrei-me do guarda do Centro Cultural e  que tivera me esquecido de perguntar a ele:
"_- Vida longa ou curta?"...
    
    
    
        
    

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