Chega uma hora em que o telefone não toca mais. Chega um instante em que o coração passa a bater compassado, devagar. Chega um dia em que você percebe que o número de amigos diminuiu.
Chega uma hora em que mudamos o cardápio da batata frita para o purê sem sal. Chega um instante em que a tintura parece não colorir os cabelos como antes. Chega um momento em que o táxi é mais seguro.
Chega um tempo em que os domingos são tão maçantes! Que as histórias dos filmes parecem repetidas... que é mais empolgante o silêncio do que a música delirante...
Chega um tempo em que correr é perigoso, que a coluna enverga, que a altura diminui, que as unhas não toleram cores e que batom vermelho é coisa pra estudante.
Chega um tempo... bem, chega o tempo de percorrermos o finzinho daquela estrada desenhada só para nós. Então, nos afeiçoamos ao que supomos realmente valer a pena... à amizade sincera, ao amor mais puro(por isso que Deus nos dá netos, eu creio), às companhias alegres, bem-humoradas(Ah! Como é inteligente ter humor! Humor leve, discreto como o papa-moscas que se esgueira pelos vários cantinhos na minha mesa de estudos).
São muitos os sinais que nos alertam que daqui a pouco andaremos na rampa ... ou será no declive? Sem pressa, sorveremos a beleza tão exposta agora (ou a nossa percepção é que ficou mais clara?)... ouvindo o cantar mavioso dos pássaros, sentindo o frescor da brisa à sombra das árvores amigas.
Muito melhor apreciar a vida com o coração descansado. Muito melhor viver ainda com esperança (de ver uma chuva de flores, por exemplo) e otimismo redobrado( pra garantir o sorriso espontâneo).
"O mundo meu é pequeno, Senhor.
Tem um rio e um pouco de árvores.
..."
"...
Agora eu sou tão ocaso!
...
No meu morrer tem uma dor de árvore."
(poeta Manoel de Barros)
Sylvia, adorei. É a nossa verdade. Para que passou dos sessenta a estrada está mais curata. Foi muito bem analisado este momento que chegará para todos nós. Beijos.
ResponderExcluirMuito obrigada pela sua opiniao e pelas gentis palavras! Grande abraço!
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