domingo, 20 de março de 2016

QUAL É A SUA PRAIA?...

  
 
        Tantas praias e escolhi justamente aquele trecho em Ipanema, em frente à Casa de Cultura Laura Alvim. Até aí tudo bem. Quem poderia prever o que aconteceria comigo?
     Havemos de aproveitar uma manhã assim, de sol de fim de verão, céu límpido e aquela brisa fresquinha que acaricia a face e não chega a descabelar.
     Não deu para evitar. Assim que coloquei meu pé esquerdo na areia fofa e ainda fria , senti que algo perfurou a carne, bem na base da unha do dedão.  Foi um arrepio só, dos pés à cabeça.
     Mas não desisti do banho de mar. Não. Eu iria sim, pegar aquele solzinho, bom para os ossos e a pele, até para a psique e mergulharia, olhando as fragatas acima e a água transparente que me dá tanto prazer.
     Fiquei pouco tempo. O machucado ardia muito, doía, latejava. Passatempo frustrado, ainda sentada na canga , apreciando a natureza à volta, noto que um vendedor ambulante__ desses que vendem de bonés a óleos que bronzeiam e cremes que protegem a pele, retira algo da areia e murmura. Ele vem vindo na minha direção, percebo.
     Para e comenta justamente comigo: "_ Veja só , quase pisei. Eu vejo de tudo por aqui, mas nunca tinha encontrado uma tampa retorcida de lata de atum... Que perigo! " Fiz um breve comentário  e ele continuou seu trabalho.
     Fiquei mais assustada ainda depois desta revelação. Guardei minha canga na mochila, peguei meu boné do Projeto TAMAR ,vesti minha saída de praia,  pus meus óculos escuros e retornei, olhando atentamente para a areia. Às vezes, o risco não aparece, porque esconde-se um tanto abaixo da superfície. Então, devemos olhar com cautela redobrada!
     Aquele dia não consegui calçar sapato fechado. Sandálias nos pés e lá fui eu quitar compromissos. À noite, ainda doía o dedo vermelho e inchado.
     No dia seguinte... não teve jeito! Um carro levou-me à emergência mais próxima.
     No atendimento, gritei durante alguns minutos que se tornaram longos demais. Lembrei-me de Jesus, preso na cruz, mártir da ignorância e da maldade extrema. Aguentou tanto o sofrimento moral quanto o físico. E deduzi que somos tão fracos e descontrolados ante à dor de uma simples intervençãozinha cirúrgica num dedo!...
     Nesse pensar, a médica diz que precisa abrir mais, desconfia que exista alguma coisa provocando tanta dor. Avisa que dará anestesia e que  será muito doloroso.
     Depois de refletir rapidamente sobre o calvário do Mestre, deduzo que terei que suportar. Foram cinco anestesias! Cinco. No dedo. Depois da ligeira tortura, o procedimento. Livre finalmente de um pedaço de madeira escura que tinha se entranhado e , intruso, já se alojara.
     Parabenizei a médica cuja determinação transmitiu-me confiança e à enfermeira, que, além de passar confiança se comunicou comigo, durante o momento de aflição, com um meigo sorriso. E o de que precisamos nestas horas? De atenção, de cuidados e de carinho. Foi o que encontrei lá.
     Mas a questão que fica é: Por que tanto lixo no mar, nas praias? Nos rios? Qual o motivo que torna  o ser humano desqualificado assim? Atraso? Maldade? Ignorância? Descaso?Insensatez? Inconsequência? 
     Seja o que for, merece atenção e orientação. Ou talvez  fosse mais adequado prescrever uma punição tão severa quanto à dor e ao estrago feito. 
 

" ... e o céu é grande " e o oceano largo
"E o nosso coração do tamanho de um punho fechado..."
 
(Trechos entre aspas de um poema de Alberto Caeiro )

    
    
    

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