quinta-feira, 30 de novembro de 2017

HÁBITO DELICIOSO

    

    Fui almoçar num restaurante simpático de um Shopping, onde o forte são os sucos... mas encantei-me pelas saladinhas. Você escolhe uma certa quantidade de itens, o molho, o acompanhamento, enfim você forma a sua salada. E são muitas opções.
     Quem já conheceu o Restaurante Chaika, em Ipanema , sabe que esta era uma das delícias de lá. A mesma fórmula.  E dava certo!
     Mas ontem, depois de sonhar e de planejar minuciosamente o almoço, desencantei-me. Não sei se foi sal ou limão demais. 
     No pagamento, não me contive, narrei ao garção o ocorrido, o erro da mão,  o paladar ácido e salgado e o número de ingredientes desequilibrado: muitas azeitonas e pedacinhos de peito de peru em demasia. Raras lascas de abacaxi, quase nenhum orégano, frango então... nem se via! Clara de ovo? Quase nada. Em compensação, o queijo de Minas era farto, porém desenxabido.
     Em casa, hoje, resolvi cozinhar. Um arroz soltinho, misturado à vagem_  daquelas fininhas e crocantes sem fio, cortada em pedacinhos, uma cenoura também cortada miudinho e um ovo batido levemente onde foram colocadas tirinhas de azeitonas verdes bem firmes e o feijão preto com caldo encorpado e saboroso que já tinha no freezer.
     O filé de frango acebolado e mais rodelas delgadas de pepino, sem sementes, regado ao extra virgem de origem chilena. Prefiro os italianos, mas encontrei este por um bom preço.
     Lembrei-me, na hora da preparação, de uma antiga professora de culinária de um programa na TV. Chamava-se Ofélia Aunciato e era muito querida. Sua cozinha era simples e deliciosa. Explicava tudo com paciência e muita ternura. Até hoje tenho seus livros e, quase todos, autografados.
     Acho estranho quando alguém diz que não sabe cozinhar e faz questão de dizê-lo enfaticamente como se isto fosse uma qualidade dos inteligentes. Para mim, soa como falha. Se precisamos comer, havemos de aprender a fazer a nossa própria comida; não depender de outra pessoa para coisas tão básicas é fundamental. Questão até de bom senso.
     Mas nós, brasileiros, temos um passado histórico tenebroso, onde a escravidão demonstrou, por muitas vezes, o mau caráter, a indolência, a crueldade e a ignorância.
     Noutro dia, num programa de TV, uma cantora muito conhecida e que também apresenta , revelou que suas roupas íntimas ela não lava, de jeito nenhum! Imagina, que horror, lavar as próprias calcinhas... Não, não, ela "tinha empregada para isto", afirmava, em tom esnobe.
     Que péssimo exemplo para as seguidoras alienadas. Ah. Lembrei-me. Ela revela sua religião em alto e bom tom, com orgulho. Recita salmos e canta gospel empolgada.
     O mundo capenga está enlouquecido... Pela manhã, voltando pra casa, num trecho da rua, além da feira de orgânicos, vi a moça que, num tabuleiro vendia cafezinho da garrafa térmica, o caminhão de lixo especial tentando manobrar à porta do hospital, um rapaz oferecia salgados, enquanto um paciente , à primeira vista semimorto, deslizava , acomodado numa maca,com a ajuda de funcionários, para dentro da ambulância com sua luz vermelha tremeluzente, estacionada atrás do caminhão de lixo hospitalar.  
    Bem, façamos o que nos dá prazer. Esta é uma dica para amenizar a sofreguidão do mundo em que vivemos. E preparar a nossa comidinha pode se tornar um hábito delicioso... Falando nisso, está na hora da minha tapioca, recheada com queijo , acompanhada de um café esperto!
 
O velho fogão carcomido  pelo tempo
cujo escuro esqueleto já passa a mostrar
é que me ajuda com seu fogo lento
 mil delícias,  dia a dia, a preparar.
       
     

2 comentários:

  1. "Recria tua vida,sempre,sempre
    Remove pedras e planta e faz doce.
    !Cora Coralina). abraços

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  2. Oh... adoro a excelente poetisa! Que mimo! Que encanto! Obrigada.

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