domingo, 5 de novembro de 2017

DOMINGO MORRINHENTO

     " Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo..."
(Mario Quintana)
Se saio, posso pegar um vento forte, uma tremenda chuva repentina, um resfriado sem graça... Se fico, me esbaldo nos textos, nas leituras, nas conversas com amigos...
     Mas o nosso corpo é uma máquina incrível que está sempre a pedir reparos e quer movimento.
     O que fazer? Arrisco-me? Ou defendo a tese que boa romaria faz quem em sua casa fica em paz? Há dúvidas.
     Aos domingos, tudo lá fora está mais quieto, com pedintes espalhados pelo chão, o comércio fechado, somente as cafeterias e lanchonetes funcionando. E o mercado também insiste em manter as portas levantadas, fazendo uso de seus seguranças quando ameaçados por ladrões.
     O vento encorpa, ameaça trazer chuva, afasta os pássaros da minha janela.
     Levanto-me decidida a enfrentar as caretas do mau tempo. Escolho a roupa adequada a uma breve caminhada, agasalho o pescoço fino com um lenço de algodão, decido pelo par de tênis, protejo a garganta com uma pastilha de limão e mel. Guarda-chuva não é aconselhável, virará ao contrário com as lufadas do vento.  Talvez eu rume à feirinha de artesanato, tão próxima.
     Retorno, quase embevecida. Coisa de poeta, de quem vive como sílfide, um tanto suspensa em sonhos.


     Serão camélias adornando a esquina da rua onde moro? Não resisti, arrisquei-me a fotografar esta imagem tão bela, tão rara ,para que não se perca esta beleza, ainda que efêmera. Que fique gravada em nós a beleza perfeita da criação.
     Mais uns passos, enveredo-me por outro caminho, 'está fresca a tarde, hei de aproveitá-la!', pensei. E, olhando pra cima, à procura do céu, mais um retrato da natureza viçosa.
     Este é um movimento de liberdade, de expansão, de culto ao que importa, de fato. Renovação de energia, boa vibração, perfumes. Certamente, apreciar o belo, o puro faz bem à alma, é o seu alimento.
     Em tudo na vida podemos optar. Sempre haverá caminhos a escolher. O saudável é o recomendado. Ou seja, aquilo que nos acalma, nos eleva, nos liberta.
    
 

 
          Inspirada pela beleza sofisticada desta flor, encontrada num canteiro pequenino, ao lado de um prédio,  entrego-me ao exercício da aquarela. A Arte também promove a saúde e o encontro com a felicidade que já habita dentro de nós.

     " O olhar do poeta é como o olhar de um condenado...
como o olhar de Deus."
(Mario Quintana)
 

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