segunda-feira, 6 de abril de 2020

REVIVENDO LEMBRANÇAS NA RECLUSÃO

     Nessa reclusão  que nos é imposta, o que mais têm funcionado são as lembranças!
      As más aprendi a rasgar e jogar na caçamba do lixo; no entanto, as boas nos transmitem as mesmas sensações do momento em que as vivemos. Não é assim?
     E é com esta impressão renovada que passo a contar-lhes um momento da minha mocidade, até hoje guardado não só na memória, como no coração.
     O estopim foi a conversa que tive ontem(via whatsApp)com uma amiga de infância. Contava-me ela vários fatos acerca de conhecidos, como pequenas historinhas. No final, perguntou-me: "Gostou da minhas histórias?"
     Não sei bem o porquê quase de imediato, reportei-me à casa de vila, onde fora criada entre pés de sapotizeiro e abacateiros frondosos, abieiros e mangueiras...e o jardim cuidado por mamãe, cheio de flores, desde os jasmins aos flamboyants, além dos medicinais guaco, boldo e erva-cidreira...
    Neste ambiente, os pássaros _ rolinhas delicadas  , pardais aos montes,  sabiás e bem-te-vis  marcavam presença!  E papai tinha uma coleção respeitável: canário-da-terra, o belga, azulão, curió e coleirinho e o bravo pintassilgo, dentre outros.
     Como a nossa casa era a última, vivíamos com a pesada porta de madeira escancarada!
     Certo dia, estávamos na sala, eu e papai nos distraindo com alguma leitura, quando, de repente... um bando de pardais assustadiços, porém organizados em sua manifestação solidária, nos chamou a atenção! Rodavam verticalmente, piando em demasia, na abertura da porta. Foi incrível!
     Levantamo-nos, movidos pela curiosidade, certos de que haveria um bom motivo para aquela manifestação assombrosa.
     Chegamos à porta, os pardais se dispersaram pelo jardim e vimos, assustados, que um gato amarelo, enorme, preparava-se para dar um bote certeiro nos pássaros de papai.
     Em domingos de sol, meu pai posicionava as gaiolas num muro baixo, que ficava entre o jardim, à frente da casa, e uma pequena área lateral.
     O malandro não gostou nada, nada do aviso dos pássaros! Demorou a sair dali. Papai, com voz e braços, tentava, desesperadamente, demovê-lo do intento... Até que, finalmente, o felino foi embora.
     Contei para a minha amiga Ana deste ocorrido. " Ufa! Que história!", disse-me ela, ainda com a respiração suspensa... 
    
      

    
    
    
    
    

3 comentários:

  1. Que maravilha, sua história, sua forma de se expressar!!! Tudo muito lindo, porem...vou te confessar uma coisa:seu pai pecou em deixar esses passarinhos na gaiola, oH! me entristecí!!!Bjkas pra vc!!!

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  2. Oh, amiga, sabia que seu coraçãozinho amoroso iria se sentir... Porém... naqueles tempos, quando eu o recriminava, papai dizia , com a maior naturalidade, de quem tem um coração puro e limpo de culpas...rs : " Filha, se eu soltar estes passarinhos, eu vão morrer, não saberiam viver livres!..." Eu, acatava, mas, intimamente, condenava também. Por isso, talvez tenha me "dado" o pintassilgo, para que cuidasse dele. Eu cuidava, mas só Deus sabe as inúmeras vezes em que fiquei tentada a deixar a porta da gaiola aberta!... Obrigada pelo seu comentário, querida! Bjs!

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    1. Tenho uma amiga de infância em que o pai dela(como seu),tb falava a mesma coisa pra ela e ela continua falando pra mim, mas eu não fico satisfeita(que nem vc)mas... bjkas pra vc com carinho por me compreender!!!

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